— Não deixem ninguém entrar, conforme as ordens do detetive. Obrigada! — disse Abilene ao telefone. — Os porteiros acabaram de dizer que chegaram alguns repórteres e jornalistas — completou, vendo William se aproximar.
— Não adianta pedir sigilo a ninguém mesmo, não é? — William se mostrou desapontado e pensou em quem poderia ter dado com a língua nos dentes. Os garotos ou os empregados? Mas logo se conformou, pois não havia mais o que se fazer com relação a isso.
— Perguntaram aos porteiros se os boatos eram verdadeiros.
— Eles não podem publicar qualquer coisa. O negócio não funciona assim. Existe uma barreira entre nós, policiais, e a imprensa. O bom jornalista é o que merece ter a matéria. Peço que instrua os empregados a não darem informações a qualquer um que vier até aqui querendo se beneficiar de uma tragédia. Isso pode atrapalhar nas investigações.
— Compreendo. — Mesmo não sabendo o que fazer. — Reforçarei com eles.
Abilene foi interrompida pelo toque do telefone. Era Fabiano. William decidiu dar mais uma checada com os policiais atrás de novidades, enquanto Abilene falava ao telefone.
— O que está acontecendo, Abilene? Liguei a TV e falaram um absurdo: "Sr. Augusto realmente morreu ou é só mais um boato?"
Abilene lhe explicou sobre o envenenamento. O corte em seu coração recomeçou a sangrar. Abilene estava fraca demais. Fabiano, pelo que ela pôde perceber, quase teve um ataque do coração ao ouvir a confirmação do assassinato de Augusto.
— Estou indo aí agora! — gritou ele.
— Não adianta, Sr. Fabiano. Os jornalistas já estão aqui na entrada. Vão barrar o senhor querendo saber detalhes, é capaz que se aproveitem de alguma brechinha quando abrirmos os portões para o senhor. Acredito não ser uma boa hora para vir. Se é que há uma boa hora. Pois já é tarde!
Fabiano teve que se conter, ela estava certa. Poderia ser mais um problema.
— Mas e Gu?
— Ele não está mais aqui. Seu corp-po foi levado para autópsia nessa madrugada. Mas isso não é tudo... — sua voz falhou e uma lágrima se desprendeu de seu olho.
Com uma mão segurando o telefone contra a orelha e a outra na altura do coração, relatou a segunda metade da história, sobre Juliet.
— Meu Deus, isso não pode estar acontecendo! — Foi a primeira das lamentações de Fabiano.
Ela não conseguiu contar em detalhes, e a tristeza se reinstalou por ali. Quase dava para sentir o cheiro de morte se espalhando na mansão. E lá fora, só aumentava o número de pessoas: profissionais e curiosos.
Quando desligou o telefone, um silêncio doloroso se apoderou do local. Abilene subiu ao quarto de Juliet e desceu com dois diários, um de capa preta e um azul, apoiados no notebook.
— Pegue, Sr. William.
— Obrigado — agradeceu ele. — Isso vai ajudar, pode ter certeza — tentou tranquilizá-la.
— Ao que me lembro, o diário mais antigo é o de capa preta. Os fatos mais recentes estão registrados no de capa azul. Algumas vezes pude presenciar ela escrevendo. Acredito que as memórias mais melancólicas estejam no preto, como se ela tivesse o escolhido para memórias escuras — franziu os lábios, com um par de lágrimas escorrendo em suas bochechas. — Mas o outro é azul, acho que seus pensamentos estavam começando a melhorar, tornando-se mais claros. — Limpou o rosto.
De cima de uma mesinha que servia de suporte para o telefone, Abilene tirou uma folha, que parecia ter sido arrancada de uma agenda grande. Estava preenchida com nomes de todos os empregados da mansão. William pôde ver que tinha pelo menos uns 35 nomes ali, ocupando a frente e o verso da folha.
O detetive pegou sua caneta e desenhou duas bolinhas na frente de dois nomes. Alex e Abilene. As marcas representavam os já interrogados.
— A senhora possui uma memória incrível — elogiou. Ele dobrou a folha e guardou em sua maleta.
Nesse meio-tempo, o telefone tocou mais uma vez. Era Valéria.
Conforme Abilene ia falando, Valéria ia se despedaçando no outro lado. Chorava, descontrolada, seu coração doía a cada palavra. Ela ficou sabendo dos boatos por um jornal televisivo sensacionalista. Boatos correm rápido pelo mundo, assim como notícias verídicas.
— Então é tudo verdade? — A voz de Valéria estava carregada de choro.
— Sim, minha filha. Lamento tanto...
As duas choraram, desejando se abraçar e enfrentar aquele terror juntas, mas nenhuma disse isso. Valéria foi atacada por uma tristeza incontrolável e revelou uma coisa que a estava consumindo.
Depois de desligar e parar de tremer, Abilene se voltou a William e o fitou nos olhos.
— Valéria está arrasada. Ela mora em Vila Pequena, muito longe daqui, e é nessas horas que a distância atrapalha. Ela está desesperada atrás do filho que não dá notícias há meses. Ela teme que...
— Continue, por favor — disse William, segurando as mãos frementes dela nas suas.
— Ela teme que ele esteja morto também.
A realidade bateu como um soco na cara de William.
— Valéria me disse que suspeita de uma perseguição. Alguém quer destruir a família Gentil.
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O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)
Mystery / ThrillerCabe ao detetive William Guimarães Silva investigar a morte de Juliet - sobrinha e herdeira do poderoso sr. Augusto Gentil -, assassinada durante um jogo na faculdade com seus amigos. Achando que tinha solucionado o mistério, na mesma noite, descobr...