Alex tinha os olhos vacilantes. Não os mantinha fixos, parecia olhar tudo ao seu redor aleatoriamente, como se fosse a primeira vez que entrava no escritório de seu falecido patrão.
- A sra. Abilene mandou eu vir. O senhor quer falar comigo? - disse, sentando à frente do detetive.
- Quero sim, Alex - disse o detetive, analisando mais atentamente aquele rapaz de aparência cuidada e olhos brilhantes. - Preciso interrogá-lo sobre os últimos acontecimentos.
- Pode perguntar, senhor - disse ele, prontamente.
- Vamos pular a parte que você estava esperando a senhorita Juliet voltar do passeio, e me diga, havia algum tipo de rivalidade entre você e os amigos dela?
- Rivalidade não - disse ele. - Era mais uma preocupação que eu sentia. Não fui com a cara deles, confesso, porque já pressentia que algo de errado iria acontecer.
- Que tipo de coisa poderia dar errado? - inquiriu William, juntando as postas dos dedos como se fizesse uma cabaninha e apoiando os cotovelos nos braços da poltrona espaçosa. Alex desviou os olhos da cabaninha-feita-de-dedos e depois fixou-os nos do homem à sua frente.
- Senhor, Juliet nunca trouxe ninguém pra cá. Eu não a conheci há décadas, mas tive contato suficiente com ela para dizermos que éramos amigos.
- E se dependesse de você... seriam mais que isso, acredito.
Alex não respondeu, apenas desviou o olhar. Estava nítido que, se Juliet desse bola, ele investiria num romance clichê entre a moça rica e o plebeu.
- Ainda não me falou o porquê do pressentimento ruim.
- Não era pressentimento - disse ele. - Não sei bem o que foi. Mas...
- Ciúmes? - William lançou no ar.
- E se fosse, senhor? - Alex ficou nervoso e uma gota de suor brotou de sua testa.
- E se fosse, eu diria que isso não tem problema. - Ele foi sincero. - O que me interessa aqui é saber se você pode me revelar pontos importantes do caso. Você disse que pressentia que algo daria errado, e quero saber o motivo para isso.
- Tudo bem - o motorista disse. - Desculpe-me se de certa forma me exaltei, mas... - Ele viu William assentir e se interrompeu. - Obrigado por entender.
Um silêncio precedeu o relato do jovem.
- Creio que a sensação, digamos assim, era por causa do dia atípico aqui na mansão. Foi uma surpresa para todos Juliet trazer os amigos dela. Aliás, Juliet foi uma sequência de surpresas. Conheço toda a história dela. Sei que ela perdeu os pais e vivia dentro de um quarto sendo consumida pela depressão. Depois que melhorou, ela teve ideias que não condiziam com aquela garota de antes. Eu sei, eu sei que ninguém deve passar a vida toda isolada, até admiro a recuperação dela, ela foi forte demais, mas Juliet começou a exagerar. Entende?
- Exagerar como?
- Bom, ela já estava bem quando eu a conheci. Não cheguei a vê-la depressiva como um dia foi. A questão é que, mesmo estando bem, ela não tinha vontades malucas. Desculpe a expressão, mas todos ficamos surpresos com a ideia que ela teve de se matricular na Faculdade de Humanas.
- Eu não ficaria tão surpreso assim. Afinal, ela seria a dona da Metal Industrial futuramente. Precisava estudar, precisava se preparar.
- Sim. Esse foi um dos motivos pelo qual o sr. Augusto havia aceitado sua ideia. Mas também sabemos que Juliet poderia ser treinada pelos melhores profissionais do ramo.
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O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)
Tajemnica / ThrillerCabe ao detetive William Guimarães Silva investigar a morte de Juliet - sobrinha e herdeira do poderoso sr. Augusto Gentil -, assassinada durante um jogo na faculdade com seus amigos. Achando que tinha solucionado o mistério, na mesma noite, descobr...