Capítulo 36 (p.1/2) - Virando o jogo

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[Em revisão]

- Foi simples - disse Douglas, baixando a cabeça e a balançando despretensiosamente como se debochasse. - Eu fiquei imaginando uma forma rápida, eficaz e fácil de matar uma pessoa.

- Por isso optou pelo veneno.

- Exatamente. Não foi nada complicado, veneno para ratos é fácil de encontrar e a saúde frágil do velho ajudou um pouco também.

- E por qual motivo você não se desfez do veneno?

Douglas encarou o detetive de maneira curiosa.

- Não entendi a pergunta.

- Vasculhamos seus pertences quando foi considerado suspeito e encontramos um recipiente contendo uma substância química, e segundo o laboratório, é justamente o veneno para ratos que usou para dar cabo na vida do milionário.

Douglas manteve seu olhar duro como uma rocha para o detetive, sua boca secou.

- Então me diga. Por que não se livrou dessa prova? Por que não jogou o veneno fora?

O rapaz pareceu pensar e depois de controlar sua respiração, pigarreou e disse:

- Eu já estava ferrado a essa altura, jogar fora uma caixinha de venenos não me livraria de toda a culpa. Confesso que me atentei mais às outras coisas, coisas mais importantes. E pode me chamar de amador. Fiz a merda toda e estou aqui, isso não vai mudar o que fiz e o que deixei de fazer.

Mesmo querendo parecer seguro do que estava dizendo, Douglas havia se desestabilizado um pouco e tornou-se hesitante.

- Como você fez para envenenar o sr. Augusto?

- Juliet sempre comentava na escola sobre os remédios que o tio dela tomava. Não deixei de perceber que pouco antes de a gente se acomodar no quarto, uma empregada havia deixado uns comprimidos e uma xícara de chá numa bandeja. Segundo Juliet, o velho adorava tomar chá antes de dormir - a voz dele deu uma tremida de novo - e não perdi tempo. Antes de todos nós nos reunirmos lá em cima, no quarto dela, eu vi que estava sozinho e envenenei o chá do tio da Juliet.

- E você está me dizendo que ninguém o viu fazer isso?

- Não - respondeu ele, secamente. - Estavam entretidos com outras coisas.

- Você foi bem rápido, ao que me parece - falou William.

- Fui.

Silêncio.

Depois de ver Douglas tomar mais um gole de água, segurando o copo com as mãos frementes, William suspirou e o encarou por pelo menos cinco segundos.

- Douglas. - O detetive o ameaçou com o olhar - Por quê? Por que você assassinou o milionário e sua sobrinha? O que te motivou a cometer essa loucura?

Douglas engoliu em seco. E nervoso, começou a se explicar, paulatinamente:

- Você sabe como o povo é ambicioso... E também linguarudo... Rolou uns boatos na época que o velho milionário, sr. Augusto, havia feito um testamento. - Douglas fez uma pausa, junto com uma careta. - Enfim, te explicar como é que funciona exatamente a mente de um assassino é complicado demais... Eu sei da minha... É um sentimento muito forte, uma força que me consome... É algo assustador.

Antes de continuar, William observou que Douglas estava com os olhos perdidos. Não conseguia confessar o crime sem olhar diretamente para ele.

- Eu sempre tive vontade de cometer uma, como foi que você disse? Uma loucura... Isso, sempre quis cometer uma loucura. Na minha adolescência eu havia descoberto certas vontades que eu tentava ignorar... mas não havia como... aquilo era eu... e... Matar é uma necessidade, compreenda se quiser, mas é assim que nosso mundo funciona.

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora