Capítulo 27 - O depoimento de Natan

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William Silva foi recebido por um rapaz magro, alto, com cabelos castanhos e encaracolados. Ele aparentava ser mais novo do que realmente era. Trinta anos com cara de vinte. Possuía alguns traços de Abilene, mas os olhos grandes e brilhantes deveriam ser característica do pai.

A casa era grande e bonita. Lá fora, o revestimento do muro imitava grandes pedras. Logo que entrou, William admirou o jardim, que era muito bem cuidado. Não existia portaria nem sistema de segurança, mas via-se que o salário de Abilene era muito bem empregado, embora ela passasse muito mais tempo na mansão do que na própria casa.

Depois de se apresentarem, Natan disse:

— Vi o senhor na TV ontem, comunicando a morte do milionário e de sua sobrinha. Na mesma hora eu liguei para minha mãe.

— Pois é, não tem como escapar da mídia em casos assim. — E soltou um risinho.

Numa sala harmoniosa e aconchegante que exprimia o bom gosto de Abilene foi onde aconteceu o interrogatório.

— O senhor quer beber algo? Uma água? — ofereceu Natan, antes de iniciarem.

— Não, obrigado.

William tirou de sua maleta o bloco de anotações e a caneta.

— Desculpe meu jeito atrapalhado, não me tome como um mal-educado, mas por que o senhor está aqui? Digo... eu nunca conversei com um detetive antes, e de repente aparece um na minha casa, é meio estranho. Claro, minha mãe me avisou que eu provavelmente recebesse sua visita.

— Bom, estou aqui para lhe fazer algumas perguntas.

— Sim, sim, entendo, mas não sei no que eu poderia ajudar, senhor. Eu sou novo aqui, minha mãe deve ter comentado.

— Sim. Comentou.

— Certo. Bom, não sei quais perguntas o senhor tem pra mim, mas vamos lá. Confesso que achei isso tudo espantoso. Minha mãe sempre disse que Cidade Esperança era o céu, e de repente temos um duplo assassinato, logo com os Gentil. Crimes não eram cometidos nas redondezas, segundo ela.

— É verdade, antes não havia crimes grandes como esses, por aqui.

Foi fácil para o cérebro de William realizar a sinapse: "NOVO na cidade" e "crimes não ERAM cometidos".

Seguindo as perguntas de praxe do relatório, tais como as que o Sr. Fabiano havia respondido havia pouco tempo, William não obteve respostas concretas de Natan. O rapaz disse que não se atentava às horas, que seus hábitos já não eram mais os mesmos de uns tempos para cá, e andava meio "desligado" — foi como se autodenominou. Não foi preciso quanto ao horário que chegou do bar, onde, segundo ele, fora com intuito de "afogar as mágoas" por causa dos sentimentos.

William perguntou em qual bar ele havia ido, e Natan respondeu que fora no RockBeer.

— E não se lembra mesmo da hora em que chegou em casa?

— Ahm... eu estaria mentindo se desse um horário preciso, senhor... Me desculpe, vou pegar um lenço, com licença.

— Fique à vontade.

Enquanto Natan ia buscar algo para secar sua testa umedecida pelo suor, William observou a sala de estar de um modo geral, e antes que o rapaz voltasse, tomou nota: "Verificar comparecimento de Natan ao RockBeer".

— Pronto. Confesso que estou nervoso.

— Seria bom se acalmar e me dar um álibi.

— Sei que o senhor está fazendo seu trabalho, mas não consigo me lembrar direito de que horas eram. Digamos que eu tenha chegado lá umas onze da noite... meio que fui por impulso, estou abalado emocionalmente... e, bom, fiquei lá por umas... Duas horas?

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora