Capítulo 18 - As provas nunca mentem

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Em quinze minutos o perito criminal chegou à delegacia e entregou o relatório prévio para William (que leu rapidamente) e uma maleta quadrada e prata, que mais parecia uma caixinha metálica. Ali estavam os objetos encontrados na cena do crime, devidamente lacrados e armazenados em sacos plásticos para conservar as impressões digitais.

O detetive olhou atentamente para o objeto número um. Uma faca convencional, dessas de cortar carne em casa, parecia normal se não estivesse manchada de sangue. O segundo objeto era uma curiosa luva preta, talvez usada para ocultar as impressões digitais do assassino e não manchar suas mãos de sangue. O paninho embebido em clorofórmio respondia a uma das perguntas que latejava em sua mente. Aquilo fora usado para tirar os sentidos de Juliet, levando-a ao desmaio. Alguém a obrigara a inalar o vapor da substância antes de esfaqueá-la. Por isso não houve gritos e o serviço foi mais fácil de ser executado sem que ela reagisse.

William, após uma breve segunda análise, estava mais inclinado a acreditar que os objetos tinham sido guardados, e não escondidos.

O último objeto da maleta era simplesmente uma nota de vinte reais ensanguentada. Neste instante, como se fosse apunhalado pela memória, o diálogo com Robson ecoou em sua mente:

... a brincadeira parecia ser boa, e quando tocamos no assunto de valer dinheiro, ficou mais interessante. Eu precisava de grana, sabe como é, né? Nós jogamos valendo vinte reais de cada... mas nunca imaginaríamos que isso pudesse acontecer...

— ... o dinheiro no final das contas, foi devolvido?

— Ah, não senhor. Ele ficou comigo, está no meu bolso agora. Tenho que devolver ao pessoal depois... Menos a Juliet...

Na parte de "Análise do Corpo", Tony havia relatado que, a roupa da vítima, estava levemente amarrotada e retorcida em determinadas áreas, levantando a hipótese de "arrastamento".

As mochilas foram reviradas, uma a uma, mas não foram encontradas quaisquer drogas ilícitas e, nada do que havia nelas, foi considerado suspeito.

A capa e a máscara utilizadas no jogo foram devidamente embaladas para uma posterior análise no laboratório, mais específica, junto aos demais objetos.

O detetive deixou aquelas palavras cozinharem por alguns minutos e, quando estavam prontas para serem servidas, respirou fundo e saiu da sala.

William não precisou chamar a atenção do grupinho de suspeitos quando chegou até eles com a maleta nas mãos. Solicitou que trouxessem Lúcia e Dênis para a identificação dos objetos. Quando estavam os dez, com os olhos fitos no detetive, ele pôs-se a falar:

— Escutem todos. Recebi os relatórios sobre o assassinato de Juliet. E esta maleta contém os objetos encontrados no local. Preciso que os reconheçam.

**********

Robson suou frio quando o detetive mostrou a faca, que era igual à que ele tinha em casa. E depois gritou "Não pode ser!", quando viu sua luva da sorte salpicada de sangue. A faca poderia não ser reconhecida pela maioria, mas a luva sim.

— Juliet foi obrigada a inalar isto antes de receber as facadas. — William ergueu o frasco contendo clorofórmio e a pequena flanela. — Tem algo a dizer, Robson?

O rapaz era uma estátua de boca aberta e olhos esbugalhados.

— Aliás, não diga nada agora — disse William, sem dar tempo a argumentos. — Conte o dinheiro arrecadado no jogo.

— Mas... por quê? Senhor, eu não fiz nada! — Robson quase se engasgou com as palavras.

— Faça o que eu disse!

Tremendo como se fosse acometido por uma ventania congelante, Robson retirou as notas dobradas ao meio do bolso e, com muita dificuldade motora, disse:

— Duzentos reais, senhor.

Foi como se todos tivessem prendido a respiração ao mesmo tempo.

— Robson, você está preso!

Os murmúrios contrastavam com os apelos do jovem descontrolado, numa tentativa falha de se defender. "Sou inocente! Acreditem! Não fiz isso!"

— Algemem o rapaz — mandou William.

"Me larguem! Não fui eu!"

Mas provas eram provas.

A faca era dele. A luva era dele. E faltava uma nota de vinte reais no seu bolso, segundo a contagem do próprio Robson.

— Deem a ele algo para vestir. Preciso que encaminhem a roupa dele para o laboratório. Analisem se há respingos de sangue, ou qualquer outro tipo de material biológico contendo o DNA da garota.

**********

Depois daquela cena, o detetive transformou seus pensamentos em palavras:

— Os dois objetos serão analisados com mais cuidado a fim de sabermos se pertenciam mesmo a Robson. A pista mais incriminatória é o dinheiro. Deveria haver duzentos e vinte reais ao todo. Minha hipótese é que a nota deve ter caído de seu bolso durante a ação. Fatos são fatos, não podemos, de maneira alguma, desconsiderar as provas. Robson está preso por suspeita de homicídio e será interrogado sobre suas ações na noite do jogo.

As expressões estampadas nos rostos dos nove jovens eram as mais diversas. Não acreditavam no que tinham visto.

— Estão dispensados. Agradeço os depoimentos. Entraremos em contato com vocês, caso seja necessário... Descansem.

Antes de reinar a paz habitual da delegacia, William recebeu uma ligação.

— Senhor, — era um dos policias encarregados de enviar o corpo de Juliet para o IML — o celular da vítima começou a chamar. No visor aparece: "CASA". Certamente notaram seu sumiço.

— Ok. Deixem comigo.

William Guimarães Silva foi voando até a mansão.

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora