Capítulo 30 - A origem do e-mail

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William não sabia dizer exatamente o que sentia, mas queria muito pôr as mãos em volta do pescoço de Douglas o quanto antes.

Ele estava de volta à delegacia, sua cabeça era um turbilhão de pensamentos.

Como você fez isso tudo, Douglas? Onde você está agora, seu desgraçado?

William não se estressava fácil, mas queria logo obter mais provas contra Douglas.

Chegou a duvidar da eficiência da Polícia Federal, pois tinha encaminhado o notebook de Juliet para o Departamento de Inteligência Policial e ninguém, até então, havia lhe dado informações concretas.

Até os hackers da chamada Engenharia Social pareciam ser mais ávidos do que a Polícia, neste caso. Eles usavam programas especiais para monitorar, ou melhor, espiar, as conexões dos endereços de IP alheios, e possivelmente capturar tráfegos de rede, que os permitiam ter acesso aos dados de qualquer pessoa que estivesse online. Se William soubesse disso e pudesse burlar as burocracias, já teria pedido para algum hacker resolver o problema para ele.

Foi por volta das 19h10 que seu celular tocou. Finalmente, era um agente da PF que trataria dos tais assuntos obscuros de informática.

O agente tinha boas notícias, mas àquela altura, se qualquer coisa ligasse Douglas aos assassinatos, já não seria mais novidade para William.

O detetive mais escutava do que falava. Sentia-se cansado e consumido pelas novas descobertas, e agora, tinha mais essa.

— Detetive Silva, pelo jeito estamos fazendo plantão nesta noite. Fantástico, não acha? — ele não respondeu à piadinha do rapaz. Ao menos parecia um rapaz por causa da voz jovial. William disse "Boa noite", somente, e esperou pelas informações — Como sabe, toda máquina conectada à rede mundial de computadores tem um endereço, digamos assim. Mas esse endereço, por motivos técnicos, dos quais acredito que o senhor deva ser poupado, pode ser apagado, ou renovado, dependendo da rede a que está conectado.

— Agradeço por me poupar dos detalhes técnicos, mas você quer dizer que não conseguiram nada?

— "Nada" seria errado falar. Obtivemos resultados, sim.

— Tá certo, mas o que eu quero saber é...

— Sim, eu sei do que o senhor precisa saber. — William respirou profundamente, sem paciência, mas não disse nada. — Refinamos a localização — disse o jovem agente. — E posso garantir que o nosso homem esteve na cidade quando mandou o e-mail.

— Você quer dizer que enviaram daqui da Cidade Esperança?

— Exatamente.

William não agradeceu a informação, afinal, lá no fundo ele já esperava por isso. Se o assassino tinha estado próximo à Juliet a ponto de matá-la, poderia muito bem ter enviado um e-mail da cidade. O assassino estaria ali por perto.

Ou pelo menos "estava", pensou, pois se Douglas for realmente o assassino, a essa hora pode estar longe daqui.

— No entanto, não é só isso. — continuou o rapaz. — Tentamos localizar a máquina exata, mas a triangulação não nos foi muito precisa. Há certa porcentagem de erro, que varia muito. Para se chegar ao computador exato, levaremos muito mais horas. Porém, sendo menos ambicioso e pesquisando mais amplamente, chequei alguns dados e obtive mais do que possivelmente eu encontraria. E é por isso que liguei.

— Diga logo.

— Localizamos a rede que foi usada, e acredite, se não fossem os roteadores, não teríamos tanto êxito nesta busca.

— E no que eles ajudaram?

— Senhor, um roteador tem um endereço fixo, digamos assim. Portanto, fica mais fácil saber a localização do roteador que emite sinal aos computadores, ou seja, é mais fácil descobrir o ambiente em que o assassino esteve do que descobrir com exatidão onde o assassino sentou sua bunda e digitou o e-mail. Entende? Sendo assim, obtive os seguintes dados do roteador, estou enviando mandando por e-mail, consegue acessar do seu celular agora?

— Sim, um minuto.

William leu as informações:

IP: 192.169.4.25

Estado: São Paulo

Cidade: Cidade Esperança

Provedor: Brasil-InterNET

Latitude: -23.459

Longitude: -47.420

Elevação: 625 m

Endereço: Av. Independência

A última informação foi saboreada por sua mente assim como algodão-doce dissolve na língua.

Pôs o celular na orelha de novo.

— Está me dizendo que o e-mail foi mandado da Faculdade de Humanas, do próprio local onde aconteceu o crime?! — exclamou William.

— Exatamente, detetive. O fato de a rede manter vários computadores conectados facilitou as buscas geográficas. Nosso homem usou a rede da Faculdade de Humanas da Cidade Esperança. Isso fornece um bom embasamento para poder ir até lá e colher informações mais específicas.

— Já tenho um suspeito em potencial e isso que acabou de descobrir foi muito útil. Agradeço o seu desempenho, qualquer coisa entro em contato.

— Por nada, foi bom ajudar, detetive William!

Ao desligar, William se perguntou se os novos "jovens agentes" fazem um cursinho de arrogância-elegante antes de entrarem para a equipe da Policia Federal.

Segundos depois balançou a cabeça para afastar os pensamentos inúteis e inoportunos e focou-se nas novas informações que detinha. Agora tudo parecia óbvio demais. O assassino não usaria seu computador e sua rede pessoal para mandar um e-mail que desencadearia um assassinato. Um não, dois.

Aquela noite estava agitada.

Ele se apoiou com os cotovelos na mesa e segurou a cabeça. Esfregou a cara num gesto de cansaço. Percebeu que havia trabalhado muito durante os últimos dias. Ansiava pela resolução daquela investigação como nunca antes, e claro, seria bom poder tirar uma folga depois de tudo.

Mesmo sabendo que o celular de Douglas não iria chamar, tentou.

O telefone continuava fora de área, segundo a voz eletrônica feminina.

— Me avise quando estiver com área então, moça — disse, frustrado.

Sua vontade era ir até a FHCE, mas deteve-se, obviamente teria que esperar até o dia seguinte, afinal, já havia começado o recesso escolar e a faculdade tinha horários mais específicos para o atendimento ao público, encerrando mais cedo os assuntos administrativos.

Sendo assim, quinze minutos depois, após organizar sua mesa, se levantou, deixou um recado para Beatriz e saiu, levando os diários de Juliet dentro de envelopes.

O recado dizia que, no primeiro horário, ele não estaria na delegacia, mas sim na FHCE.

A caçada a Douglas não podia esperar. William estava determinado a descobrir os passos dele.

Euvou pegar você, seu cretino! Esteja onde estiver...

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora