– Bom dia, meu anjinho. – Acordei com Enzo ao meu lado e seus olhos verdes me encarando. Às vezes ele fugia do quarto dele e vem para meu quarto no meio da noite e eu não sabia como uma coisinha daquele tamanho conseguia pular do berço sem se espatifar no chão.
Ele completou uma ano e meio anos fazia uma semana. – Dormiu bem? – Perguntei, mas ele não respondeu e nem mesmo sorriu, não como todos os outros dias. Eu adorava ver o sorriso dele, um sorriso inocente e sincero que aquecia o meu coração. – Eu vou preparar o seu leite ok? – Dei um beijo na bochecha dele, liguei a TV em um desenho que ele gostava e me levantei.
Fui até a cozinha e enquanto preparava a mamadeira dele belisquei algo. Assim que a mamadeira ficou pronta eu levei para ele e o entreguei. Era minha rotina de todos os dias de segunda a sexta-feira.
Entrei para o banheiro deixando a porta aberta, tirei meu pijama e tomei uma ducha quente. Saí do banheiro e fui até o armário pegar a roupa do dia, me vesti e fui ver se ele havia terminado o leite. A mamadeira estava cheia caída ao lado dele e ele olhando a parede.
– Ei meu amor, o que foi? Não quer o leite? – Peguei a mamadeira e voltei a entregar pra ele, mas ele não deu muita ideia. – O que você tem filho? Tá dodói? – Ele fez um biquinho tão fofo que me derreteu completamente. Enzo se sentou e esticou os pequenos braços para mim, pedindo colo. – Oh meu amor, a mamãe tem que trabalhar. – Acariciei os cabelos bagunçados dele depois de o pegar no colo. Fui até o banheiro, deixei-o sentado na bancada enquanto me maquiava.
Quando a babá, Scarlet, chegou, eu estava sentada no sofá dando a mamadeira a ele, coisa que eu raramente fazia.
– Bom dia Dulce. – Ela deixou a bolsa em cima da mesa. – Ainda tomando a mamadeira?
– Ele não quis tomar sozinho, pode estar ficando doente. Sabe como ele fica enjoadinho.
– Pode deixar que eu termino com ele. – Ela pegou Enzo do meu colo, mas ele resmungou, como quem queria chorar. – É melhor você ir, senão vai chegar atrasada.
– Ok. Tchau meu amor, a mamãe volta no fim da tarde, tá bom? Amo você. – Depositei um beijo na bochecha dele e saí sentindo um aperto no peito.Scarlet éfoi me indicada ainda quando eu estava na maternidade, e me ajudava com Enzo desde que ele nasceu, pode-se dizer. Não tinha absolutamente nada a reclamar dela, ela me ajudava em tudo, aliviando o fato de que eu precisava ser mãe solo e ainda trabalhar fora para nos sustentar.
Terminei toda minha rotina do dia. O dia foi apenas mais um dia cansativo na cidade de Nova York. Um trânsito sem fim, pessoas indo para todos os lados sem parar, turistas que atrapalhavam a vida dos novaiorquinos, estresse dos colegas de trabalho por estarem sem tempo de terminar os projetos...
Depois de um bom tempo morando ali, consegui um credito para finalmente comprar um carro. Não era do ano, e já tinha tido um dono antes, mas ter a minha liberdade para sair de casa a hora que quisesse e até mesmo ir para fora da cidade nos finais de semana, me deu um certo alívio.
– Scarlete, cheguei! – Falei assim que abri a porta do apartamento.
– Estamos aqui Dulce. – Ela gritou!Fechei a porta, tirei o casaco e a bolsa e deixei no sofá segui sua voz que vinha de dentro do quarto de Enzo. – A mamãe chegou bebê. – Falei como falo todos os dias, imitando uma voz infantil na tentativa de chamar a atenção dele, mas ele estava dormindo enquanto Scarlet andava com ele pelo quarto. – Dormindo a essa hora?
– É. Não sei o que deu nele, chorou bastante até pegar no sono. – Ela parou de andar com ele no colo. – Ah, e Dulce, ele mal quis comer hoje. Não quis tomar nem a mamadeira toda.
– Isso é sério? – Ela assentiu. Passei minha mão na testa dele, a temperatura estava um pouco elevada. Fui até o banheiro e peguei um termômetro colocando-o em baixo do braço dele.
– Eu preciso ir agora, tenho que pegar minha sobrinha na natação, mas se precisar de alguma coisa me liga tá? – Ela depositou um beijo na cabeça dele. – Tchau meu anjinho, fica bem, a tia Scar vem amanhã. – Ela o entregou a mim. – Até amanhã Dulce.– Até Scarlet. – Esperei que ela saísse e me sentei na poltrona. – O que você tem filho? Não deixa a mamãe preocupada não. – Esperei o termômetro apitar, tirei e olhei. Senti meu coração se apertar vendo o número trinta e nove aparecendo no termômetro, ele estava com mais febre que eu tinha sentido.
Me levantei, e o coloquei no berço, fui até o armário dele, peguei um conjunto de moletom e o vesti. Depois fui vestir meu casaco, peguei a bolsa e o peguei novamente na cama.
Cheguei no hospital por volta de oito horas da noite, pelo fato de pegarmos um trânsito infernal. Dia chuvoso mais horário de pico é igual a horas de engarrafamento no trânsito, sem contar as inúmeras obras intermináveis que atrapalham ainda mais o fluxo. Dei entrada com ele no hospital e deixei que o pediatra dele o examinasse.
– Há quanto tempo ele está assim Dulce?
– Eu não sei, ele acordou assim hoje. Não tinha notado nada de diferente até ontem à noite. – Fiquei o olhando ouvir os batimentos cardíacos dele.
– Vamos esperar o resultado do exame de sangue chegar, e eu volto pra gente conversar. Enquanto isso não saia de perto dele, qualquer coisa mande um enfermeiro me chamar. – Assenti.Nem mesmo com o médico mexendo nele, ou a enfermeira colhendo seu sangue, ele acordou. Eu sabia que tinha algo errado. Enzo não era assim e meu coração de mãe estava gritando que algum problema estava por vir. Ele acordava com qualquer barulho , tinha o sono leve até demais para o meu gosto e ainda fazia pirraça se alguém o acordasse antes da hora.
Demorou quase uma hora até o doutros Williams voltar com o exame em mãos. Eu não saí do lado de meu filho tentando imaginar o que estava acontecendo, preocupada como qualquer mãe poderia estar.
– Você pode me acompanhar, Dulce? – Ele pediu. Vi que sua cara não era muito boa.
– E ele? – Olhei Enzo que dormia com uma agulha espetava na mão.
– Ele ficará bem. Só preciso conversar com você por alguns minutos.
– Ok. – Saí com o doutor, ainda com a cabeça e meu filho sozinho naquele quarto. Ele nada falou no trajeto até a sala dele.
– Por que não se senta? – Ele apontou a cadeira enquanto fechava a porta atrás de si, dava a volta na mesa e se sentava em sua cadeira. Ele analisou mais uma vez os papeis em sua mão e então me olhou, sua afeição não era nem de perto boa.
– O que o meu filho tem doutor? É grave?
– Os exames do Enzo custam uma redução alta dos glóbulos brancos, precisaremos de mais exames para aprofundar, mas preciso que você seja forte nesse momento Dulce. Há uma probabilidade muito grande dele estar com Leucemia.Foi nesse exato momento que eu perdi meu chão. O meu filho, com Leucemia? A única pessoa que eu tinha na vida? Senti como se a minha vida naquele instante estivesse desmoronando. Enzo era tão pequeno, e eu sabia o quão trágica aquela doença poderia ser.
– Eu vou encaminhar você para um bom oncologista. O Enzo é forte, ele vai sair dessa. – Escorei meus cotovelos na mesa e apoiei meu rosto em minhas mãos deixando a lágrima descer.
– O meu menino não. – Um soluço dolorido escapou de mim. – Ele é tudo que eu tenho. – Williams me entregou um copo de água mas eu não quis. – Porque ele? Porque não eu?
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The Last Hope - Vondy
FanfictionÀs vezes, por mais que a gente tente fugir daquilo que um dia nos fez mal, o destino insiste em nos levar de volta ao ponto inicial. A gente se esconde, foge para lugares desconhecidos, tenta começar uma vida nova, apagar o passado e seguir em fren...