– Feliz Natal, filha! – Minha mãe desejou enquanto se sentava no espaço que restara do sofá. Enzo brincava com minha sobrinha Clara no carpete e eu estava deitada olhando os dois.
– Feliz Natal, mamãe. – Falei sem muita empolgação.
– Porque não se junta a gente?
– Não estou com ânimo, me deixa aqui. – Apertei a almofada que tinha nos braços contra contra meu peito.
– Filha, eu sei o que está sentindo, eu te entendo, mas você não pode deixar de viver por isso. – Ela acariciou meus cabelos. – Você precisa ser forte, precisa mostrar a ele que você é forte.
– Eu olho pra ele e tenho vontade de chorar mamãe, não dá pra ser forte. E o pior é que me sinto tão inútil em não poder ajudá-lo. – Minha voz falhou.
– Vai dar tudo certo meu amor.
– É o que espero. – Olhei para a porta que dava acesso ao pátio e vi Christopher parado ali, com mais embrulhos de presente na mão. – O que está fazendo aqui?
– Deduzi que estivesse aqui.
– Você tem uma família Christopher, deveria estar com eles.
– Eu tenho um filho Dulce, e acredite você ou não ele é mais importante pra mim agora que qualquer outra pessoa. – Ele entrou e foi até Enzo. Deixou o embrulho no chão e o pegou no colo.– E aí campeão? Como você está?
– Papai! – Enzo falou e meu coração quase saltou pra fora. Os olhos de Christopher se encheram de água.
– Você o ensinou isso? – Neguei. – Sim meu amor, eu sou o seu papai. – Ele abraçou Enzo com ternura depois voltou a colocá-lo no chão. – Feliz Natal meu amor. – Ele entregou um embrulho a ele. Clara saiu correndo para o pátio provavelmente por não conhecer Christopher e ficar com medo dele, o que me tirou uma risada fraca.Fiquei no sofá olhando Christopher sentado no chão, ajudando Enzo a abrir o embrulho e de lá saiu os quatro bonecos do filme Os Vingadores. Animado ele veio correndo me mostrar.
– Olha que lindo meu amor. – Falei tentando mostrar um pouco de interesse. Abri a caixa pra ele e tirei os bonecos. Rapidamente ele abraçou os quatro e saiu rumo ao pátio.
– Está tudo bem? – Christopher se levantou do carpete e veio até mim. – Está com uma cara péssima.
– Eu mal consigo dormir à noite com medo dele passar mal e eu estar dormindo, não consigo parar de pensar que o pior possa acontecer e que o exame não dê o resultado desejável. É, eu estou bem sim.
– Você precisa ser forte Dulce. Não adianta nada se ele não tiver você para apoiá-lo.
– Eu estou tentando Christopher, mas não é fácil. – Passei minha mão em meus olhos impedindo a lágrima de descer.
– Eu queria poder ficar mais tempo com ele, pra te ajudar também sabe?
– Sua mulher vai adorar isso né? Aliás, ela já sabe? Contou a ela?
– Minha mulher. – Ele riu. – Eu não tenho mulher – o olhei. – ainda. Estou noivo pra dizer a verdade. E sim, eu contei a ela. Ela teve um ataque de histeria mas eu a deixei falando sozinha.
– Ela teve um ataque de histeria à essa altura do campeonato? Ela não soube da gente? – Ele negou. – Fico contente de saber que não fui apelidada de nomes sujos todo esse tempo. Até agora né.
– Eu sou o único culpado nisso tudo, você sabe disso.
– Para o seu pai eu não passo da amante que deu o golpe da barriga. – Olhei Enzo voltar pelo mesmo lugar em que saíra esfregando os olhos.
– Você nem sabia que eu era rico no início Dulce, e mesmo assim se apaixonou por mim, acha mesmo que algum dia eu cheguei a acreditar que você queria meu dinheiro?
– Acho. Você acreditou quando seu pai falou que eu fingi um golpe da barriga Christopher.
– Eu não tive escolhas. Você sumiu e eu nem pude ver o outro lado da história.
– O passado não me importa mais. – Estiquei meus braços e ajudei Enzo a se sentar no sofá. – O que foi amor? Está com sono? – Ele deixou o corpo cair ao meu lado então eu o puxei para entre os meus braços e o acolhi ali.
– Como ele está?
– Mais cansado que o habitual, pouco apetite, às vezes vomita o que come e dá febre baixa. – Beijei a cabeça dele.
– Eu queria poder estar no lugar dele. – Christopher pegou a mão de Enzo. – Daria o que fosse pra isso Dulce, só para vê-lo bem.
– Até onde você iria para salvá-lo Christopher?
– Até onde eu tiver que ir, e não importa quando, onde, porque ou com quem. – Desviei meu olhar de Christopher para Enzo que se encolhera em meu colo resmungando.
– Ele não está bem. – Pousei a mão no pescoço dele, mas sem febre. – Eu acho que vou voltar para o hotel agora.
– Não quer ir para o meu apartamento?
– E encarar sua noiva ou o seu pai? Obrigada.
– Eu moro sozinho Dulce.
– Não insista, por favor.
– Então pelo menos deixe eu levar vocês ao hotel. – Enzo saiu do meu colo e foi para o dele e enquanto estava com ele me olhou com uma carinha triste.
– O que você tem bebê? O que está sentindo? Hum? – Dei um beijo estalado na bochecha dele.
– Ele é manhoso assim?
– Não. Ele é carinhoso com as pessoas com quem ele convive, mas é extrovertido. E não é calado assim também não. – Lembrei-me das vezes que o via conversar sozinho em uma língua completamente desconhecida e das vezes que ele discutia comigo e eu tinha que me segurar pra não rir já que nada do que ele falava fazia sentido.– Eu vou chamar a Scarlet lá fora e despedir do pessoal.
Christopher nos levou de volta ao hotel, embora meus pais tenham insistido que eu ficasse ali. Embora sonolento, Enzo não dormiu durante o tempo que atravessamos a cidade. Ele resmungou com a voz chorosa o tempo todo.
Assim que entramos no apartamento eu o coloquei no carpete com alguns brinquedos para ver se ele distraía até dormir mas tudo que ele fez é se jogar deitar de barriga para baixo e ficar choramingando.
Christopher ligou para o médico que recomendou que déssemos um remédio para dor a ele e caso não melhorasse deveríamos levá-lo ao hospital.
Fiquei aliviada quando saí do banheiro e vi Enzo deitado com metade do corpo em cima da barriga de Christopher que também estava deitado na cama. Enzo estava quase dormindo segurando em uma mão o dedo de Christopher, em outra seu coelhinho de pelúcia e resmungava baixinho enquanto Christopher acariciava as costas dele.
Fingi não dar muita importância a cena que vi e fui tomar água, embora na minha cabeça uma voz me perguntasse o que eu iria fazer quando fosse embora novamente para Nova York e não tivesse mais Christopher para acalmá-lo.
– É melhor eu ir embora. – Christopher falou baixo para não acordá-lo quando voltei ao quarto. Ele tentou se levantar mas Enzo acordou chorando e segurando a blusa dele.
– Ou talvez você devesse ficar. – Segurei o riso. Já tinha passado por situações como essa e acredite, só consegui sair depois que ele acordou no dia seguinte. – Eu posso dormir lá no sofá.
– Dulce, olha o tamanho dessa cama. – Ergui a sobrancelha. – Eu não vou atacar você de noite, se é esse o seu medo.
– Não tenho medo de você Christopher, até porque você não conseguiria sair de debaixo do Enzo sem acordá-lo. – Apaguei a luz deixando somente a da luminária de parede acesa, depois cobri Enzo e Christopher com uma manta e me enfiei em baixo do edredom.
– Minha mãe quer conhecer o Enzo. – Não falei nada embora tivesse vontade de dizer muita coisa. – Ela também não sabia de você, muito menos do que o meu pai fez Dulce. Aliás, ela está furiosa com ele por isso.
– Ótimo isso, agora que seu pai deve estar uma fera comigo. E a resposta é não.
– Ela fez o teste de compatibilidade também, e nem precisei pedir.
– Diz a ela que agradeço, mas tenho motivos para não querer envolver meu filho na sua família.
Christopher não falou mais nada e nem eu. Fiquei em silêncio até dormir. Tudo bem que a mãe dele tenha feito o teste, mas minha família também fez. Isso não quer dizer que vá ser compatível, e mesmo que seja, temia que Victor fizesse algo por eu estar causando discórdia dentro da casa dele.
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The Last Hope - Vondy
FanfictionÀs vezes, por mais que a gente tente fugir daquilo que um dia nos fez mal, o destino insiste em nos levar de volta ao ponto inicial. A gente se esconde, foge para lugares desconhecidos, tenta começar uma vida nova, apagar o passado e seguir em fren...