Olhei mais uma vez para o lado vago na cama ainda me lembrando do rosto dela. Por mais que eu tente esquecê-la isso é impossível. As poucas vezes que ela dormiu ali foram suficientes para penetrar no mais profundo da minha mente. Talvez eu merecesse tudo aqui. Pássaro resto da minha vida me lamentando por não ter dito a verdade no início. Nada disso estaria acontecendo. Ela não teria desaparecido com o dinheiro por mais de ano sem dar notícia alguma. Fiquei tão péssimo que não tive coragem de ir até a casa dos pais dela tentar descobrir algo. Um acesso de dor e ódio batia em mim todas as vezes que repassava na memória o vídeo dela entrando na sala do meu pai. Levantei-me tentando afastá-la do meu pensamento, tomei meu café da manhã, depois me arrumei e fui para o trabalho. Estava se aproximando meu casamento e faltava menos de quatro meses. Já estou exausto de tudo, mas depois de tudo que houve talvez seja o melhor a fazer. É melhor ficar ouvindo Megan tagarelar em minha cabeça sobre assuntos que eu sequer me importo como convites, decoração, vestido e tudo mais à ficar pensando nela.
Entrei no prédio vejo a mesma movimentação de sempre. Fui para minha sala, um andar abaixo da sala do meu pai. Passei na secretária e vi o que tem para mim, depois sento na enorme cadeira tentando focar na pilha de papeis. Tinha acabado de me formar na universidade, mas desde que Dulce desapareceu, dediquei minha vida a fazer isso. Não que eu gostasse, mas era a única maneira de afastá-la da minha mente.
Depois de um tempo trabalhando, peguei uma outra pilha de papeis e vi que estão destinadas ao meu pai. Não é algo que eu pudesse mexer então levantei-me e fui até o elevador. Podia pedir a minha secretária para fazer isso, mas vi que estava ocupada no telefone. Entrei no elevador e apertei o botão do andar a cima. Quando a porta tornou a se abrir, atravessei o enorme lugar e vi uma garota segurando uma criança no colo, enquanto tentava acalmá-lo de um choro contínuo. Vi também que o menino em seu colo acabara de vomitar.
— O que houve? Ele está bem? — Perguntei o olhando. Ele não me era estranho, nada estranho. Esses olhos, os traços...
— Está, só está um pouco enjoado.
— Você é a mãe dele?
— Não. A mãe dele está lá dentro. — Ela apontou a sala de meu pai.
— Posso? — Perguntei colocando a pilha de papeis na poltrona e estendendo os braços. Ela assentiu e me passou o menino. Senti uma energia tão estranha e boa. — Ei garotão o que você tem? Hum? Não precisa chorar. — Fui até o bebedouro e peguei um copo com água. — Toma, vai se sentir melhor. — Dei um pouco de água a ele e ele se calou. Depois de beber a água ele deitou a cabeça em meu ombro. — Posso levá-lo até a mãe dele?
— Não sei se é uma boa ideia. — Ela falou, mas eu já tinha me virado e ido até a sala. Quando abri a porta vi Dulce de costas. Ela não tinha mais os cabelos vermelhos mas ainda sim eu pude reconhecê-la. Meu pai me olhava e seu rosto parecia ter ficado sem sangue. Ela tomou a criança de meu braço rapidamente, parecendo assustada.
— Dulce? É você mesma? — Olhei meu pai com certo ódio depois intercalei meu olhar entre Dulce e a criança. — Mas.. não.... — Tentei raciocinar, mas estava uma bagunça em meu cérebro. — Como isso é possível? — É por isso que ele não me era estranho. Ele se parecia tem traços fortes da Dulce, e os olhos, da minha mãe. Ela olhou meu pai que ainda parecia paralisado, depois saiu esbarrando em mim.
— Filho, não é nada disso. — Meu pai falou. Senti tanto ódio dele que no momento o melhor seria deixá-lo. Tentei ir atrás de Dulce mas quando vi ela já estava no elevador e a porta estava fechando.
Dulce parecia apavorada e não entendo porquê. Na verdade eu não entendo nada, meu pai me garantiu que ela não estava grávida, e agora ela me aparece com uma criança que ainda é praticamente um bebê? Desci o mais rápido que pude pela escada a fim de encontrá-la, mas quando cheguei ao térreo, completamente cansado e suado, ela já tinha partido.
Sentei-me na escada que dava acesso à entrada do prédio e fiquei tentando recuperar o fôlego enquanto tentava sem êxito algum organizar a bagunça em minha mente. Tudo passava na minha mente como um filme antigo. Dulce vomitando depois de comer cinco pedaços de pizza, ela chorando na minha frente por ter descoberto tudo e me mandando desaparecer, o meu pai dizendo que ela fingiu um golpe da barriga. Em quem devo acreditar agora? Estava tudo tão confuso.
Se o filho era meu, como meu pai garantiu ser mentira? Ele teria mentido pra mim? Porque Dulce não me procurou ao invés dele? Ela sequer sabia onde ele trabalhava para ir parar ali ameaçando-o com isso. Porque ela se assustou tanto ao me ver? Eu sabia que ela estava apavorada mas não sabia o motivo. Estava tudo tão confuso. Para onde ela foi e porque agora ela resolveu voltar?
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The Last Hope - Vondy
FanfictionÀs vezes, por mais que a gente tente fugir daquilo que um dia nos fez mal, o destino insiste em nos levar de volta ao ponto inicial. A gente se esconde, foge para lugares desconhecidos, tenta começar uma vida nova, apagar o passado e seguir em fren...