Capítulo 22

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Dei a autorização para Christopher entrar na CTI e visitar Enzo, ainda tentando imaginar qual seria a reação dele ao ver Enzo no estado que estava. Provavelmente ele ainda tinha a mesma imagem dele de três meses atrás, mas não é nada disso. Enzo não tem mais cabelos, está ainda mais pálido, magro, sua pele estava com manchas e um pouco áspera, sem contar as feridas que estavam abrindo em sua boca.

— Olá. — Brian se sentou ao meu lado. Eu não respondi. Permaneci em silêncio enquanto o que Christopher disse sobre Enzo gritava em minha cabeça como um eco. — O que foi? — Ele bebericou meu suco que à essa altura já estava quente quente e aguado.

— Nada.

— Eu vi vocês dois conversando.

— Brian a gente só...

— Tudo bem.— Ele segurou minha mão. — Você realmente o ama muito não é? — Não respondi. Eu queria esquecer Christopher, mas meu coração insistia em bater por ele, só por ele. — Sabe que eu gosto muito de você Dulce, mas não posso obrigar você a sentir o mesmo por mim.

— Não tem mais nada entre nós dois Brian.

— Dulce — ele esperou alguns segundos — por mais que você tente odiá-lo, por mais que você diga pra si mesma que não quer nada com ele, o seu olhar fraqueja toda vez que olha pra ele.

— Ele disse que vai pedir o exame de DNA com o bebê, disse que não acreditou em mim.

— E você vai deixar?

— Ele tem direito, eu não posso impedir, principalmente quando se trata de um Uckermann. — Revirei os olhos. — Eles sempre têm o que querem. Eu sou só uma garota desesperada mais nada, e bom, como ele mesmo disse, se eu negar o exame, vai ser o mesmo que confirmar que o filho é dele.

— Verdade. — Ele suspirou. — Talvez eu não deveria ter dito aquilo, desculpa, eu agi por impulso.

— E eu afirmei, então não leve a culpa sozinho. — Ele sorriu mas me mantive séria. — Ele foi ver o Enzo.

— Você liberou? — Assenti.

— Ok, bom, o que posso fazer não é? Tecnicamente ele ainda é pai dele.

— Você não vai perder o seu posto, ainda que o Enzo o reconheça, o chame de pai novamente, é com você que ele tem melhores lembranças ok? E eu não vou permitir que o Enzo esqueça você Brian, não enquanto ele estiver aqui com a gente.

— Ele vai ficar aqui por muitos e muitos anos. — Brian apertou minha mão.

— Não minta pra mim, sabe que não é verdade. — Limpei a garganta. — O que mais o médico disse a você? Tem algo que você está me escondendo ou...

— Ele não me disse nada Dulce. Nada mais do que eu disse a você, eu juro. Mas porque está falando isso? — Ele me olhava curioso e eu desviei o olhar.

— Estou dizendo que, mesmo que esse bebê seja compatível, ele não vai aguentar esperar mais um ano. — Minha voz fraquejou. — Você sabe disso. Enzo está fraco de mais, eu não sei nem se ele vai sair da CTI, e a quimioterapia não ajudou em nada, não fez efeito algum.

— Não fala isso, vai dar tudo certo. Tem que dar.

— Eu queria Brian, eu queria, mas não vai. — Comecei a chorar novamente, soluçando feito uma criança desamparada.

— Vai dar tudo certo Dulce, vai dar sim. — Brian me abraçou. — Não vai acontecer nada com ele. — Ele insistia, mais para ele acreditar do que para mim.

— Você sabe. A não ser que apareça um doador, ele não terá chances. Pode ser hoje, amanhã, semana que vem, daqui a três meses. Uma hora ele não vai mais resistir, e pra ser sincera, não aguento mais ver o meu filho desse jeito. Só dor, e mais dor quando ele sequer sabe falar pra dizer o que está sentindo. Tudo que ele faz é resmungar palavras que eu não entendo e chamar por mim, pelo pai ou o avô.

— Para Dulce. — Ele me soltou de seus braços e segurou meu rosto fazendo-me olhá-lo. Ele tinha os olhos vermelhos também. — O Enzo vai ficar bem, não desista agora. Você não pode desistir. Nós não podemos, eu não vou permitir isso.

— Eu queria acreditar, mas não posso mais. — Tirei as mãos dele do meu rosto. — Eu preciso ir a um lugar, pode ficar aqui com ele?

— Onde vai?

— Resolver algo que eu deveria ter feito há três anos atrás. — Enxuguei meu rosto. — Volto assim que terminar.

— Tudo bem, eu fico.

— Obrigada. — Peguei minha bolsa sobre a mesa e sai.

Peguei o carro, e depois de pegar um transito enorme cheguei ao condomínio onde morava o senhor Lewis. Por ser domingo sabia que ele estava em casa. Depois de liberada, dobrei algumas esquinas e parei em frente a sua enorme mansão.

— Olá, querida. Que bom recebê-la aqui — A senhora Ana me cumprimentou assim que cheguei à porta. — A que devemos a honra de sua visita. — Ela me abraçou e beijou minha bochecha.

— Olá. — Forcei um sorriso. — Posso entrar?

— Ah claro, a casa é sua meu bem. — Ela deixou que eu entrasse antes dela e fechou a porta.

— O senhor Lewis está?

— Está lá fora lendo jornal. Sabe que ele gosta de acompanhar as notícias à moda antiga.

— Preciso conversar com ele.

— Venha comigo, te levo até ele. — Ela me guiou até o jardim. Passamos pelo hall, dobramos a esquerda e entramos na sala de estar, depois a direita onde deu para um corredor e no fim dele uma sala de lazer com uma porta enorme. A casa enorme e sempre tão vazia. Os sobrinhos nunca vinham aqui, e como já disse antes, ele não tem filhos. Atrás dela, o senhor Lewis sentado em sua velha cadeira de balanço lendo o jornal.

— Senhor Lewis? — O chamei. Ele dobrou o jornal e me olhou.

— Olá Dulce. — O cumprimentei e ele me indicou uma cadeira.

— Obrigada.

— A que devo a honra de sua visita? Está tudo bem com o Enzo?

— Eu preciso de um favor seu, vou ser direta porque não quero ficar longe dele muito tempo.

— Se eu puder ajudar, com certeza farei. — Ele se arrumou na cadeira.

— Eu vou preparar um chá. — A senhora Ana saiu. Ela era uma senhora linda. Parecia uma Lady. Bem arrumada, postura ainda ereta apesar da idade e caminhava como se estivesse andando sobre algodões.

— Eu sei que não estou em condições de te pedir isso, até porque já fazem meses que não compareço mais a empresa, mas eu preciso de dinheiro.

— Dinheiro? Aconteceu alguma coisa?

— Lembra quando eu contei o que aconteceu para eu vir parar aqui? — Ele assentiu. — Eu preciso quitar isso.

— Ele está cobrando a você? Não posso acreditar nisso.

— Não senhor Lewis, não. Longe disso. — Limpei a garganta. — Eu quero fazer isso. Quero devolver a ele o que nunca me pertenceu. Eu ainda tenho parte do dinheiro, mas preciso devolver tudo. Olha, eu não sei como, mas eu vou pagar ao senhor um dia.

— Dulce, por favor. — Ele me fez calar. — Primeiramente, você não tem que devolver nada a ele, porque é direito do seu filho ok? Mas se é desejo seu, e você vai se sentir melhor fazendo isso, eu irei ajudar sim, porém com uma condição.

— O que quiser. — Respondi rápido. Eu faria o que fosse para me livrar disso.

— Que você tire da sua cabeça que deve me pagar isso um dia.

— Mas...

— Mias nada. O que você fez por mim não tem preço querida. — Ele arrumou a camisa. — De quanto você precisa?

— Eu ainda não sei. Preciso retirar todo o extrato da poupança que está o dinheiro e ver o que gastei para poder repor.

— É muito?

— Sim. Bom, eu acho. Eu comprei o apartamento e mobiliei. Fora o dinheiro que gastei no hotel que fiquei até conseguir comprá-lo e mais algumas despesas.

— Se lembra do total? — Um milhão de dólares.

— Ele deu tudo isso pra você sumir do mapa? — Assenti. — Gastou mais do que a metade?

— Nem a terça parte. Eu nunca precisei de tudo isso, e depois que comecei a trabalhar com o senhor, eu parei de mexer lá. Não sei quanto de juros rendeu até agora.

— Deve ter rendido uns bons trocados. — Ele riu. — Vamos fazer o seguinte, amanhã você vai ao banco, retira o extrato e depois vai lá na empresa que vamos resolver isso.

— De verdade?

— Sim. Se é isso que você deseja eu vou ajudar.

— Obrigada. — Agradeci sincera. Não sei o que seria da minha vida hoje sem esse homem. — Tem uma coisa que eu preciso dizer ao senhor. Não sei o que você vai pensar, mas quero que saiba que fiz algo e talvez tenha sido algo errado, mas eu estava com a cabeça quente e...

— Dulce. — Ele se divertia ante meu desespero. — Pode falar o que é.

— Eu estou grávida.

— Grávida? — Assenti. — Esperando um bebê? Outro bebê? — Voltei a assentir embora meu pensamento intrusivo quisesse responder que estava esperando um dinossauro. — Você planejou isso?

— Sim. — Desviei o olhar. — Eu pensei que talvez esse bebê poderia ser a ultima esperança que o Enzo tem, mas definitivamente, o médico disse que ainda que sejam compatíveis, o Enzo não vai aguentar até lá.

— Ele falou isso?

— Sim.

— E você perdeu a esperança? — Não respondi. — Eu proíbo você de desistir da vida do seu filho, do meu neto ok? O meu neto vai sobreviver, e em alguns meses, alguns anos não sei, eu ainda o verei correndo novamente por esse gramado. Escreve o que estou te dizendo.

The Last Hope - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora