Capítulo 17

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– Vai com o Brian, filho. – Passei Enzo para o colo Brian que estava sentado em uma cadeira. Enzo olhou Brian por um instante e deitou e encostou a cabeça no peitoral dele.

Desde que ele começou a ficar com Enzo para que Scarlet e eu pudéssemos descansar Enzo tinha se apegado a ele. Cada vez menos chamava por Christopher. Nem mesmo durante a sessão de quimioterapia há três dias ele tinha chamado por ele.

– Nós vamos aparar o capelo dele, e depois vamos passar a máquina, tudo bem? – Perguntou o cabeleireiro. Assenti cruzando os braços e observando os dois. Brian o tratava com tanto carinho. – Ele já cortou o cabelo antes? – Assenti e sabia bem como ele chorava quando eu o levava ao cabeleireiro. Era uma luta. Se fosse em outros tempos ele já estaria chorando, mas na situação em que se encontra ele tem andado muito mais calmo.

– Vamos cortar o cabelo garotão? – Brian passou a mão em seus cabelos enquanto Enzo recebia do cabeleireiro um pirulito. Fiquei apenas observando o cabeleireiro começar a aparar os cabelos dele enquanto ele dava atenção ao doce em suas mãos. Até a parte da tesoura foi fácil, mas quando o cabeleireiro ligou a máquina Enzo começou a chorar e eu não fiquei atrás. O vi jogar o doce longe e ficou tentando sair do colo de Brian.

– Tudo bem Enzo, não vai doer. – Brian o confortou, mas sem êxito. – Se você deixar ele terminar, eu prometo que te dou um brinquedo bem legal de presente. – Mas não adiantou. Foi preciso que Brian o imobilizasse para que o cabeleireiro prosseguisse e aquilo me desarmou.

– Tudo bem bebê. – Me abaixei na frente dele enxugando meu rosto. – A mamãe está aqui. – Enzo esticou os braços para mim mas não o peguei. Brian era mais forte do que eu e eu não teria coragem para fazer isso. Assim que terminou eu o peguei e o protegi em meus braços. Ele chegava a soluçar de tanto chorar. – Pronto amor, acabou. – Ele deitou a cabeça em meu ombro e eu acariciei suas costas. – Já acabou bebê, não precisa chorar. – Beijei a bochecha dele. Senti um mal estar ao vê-lo sem cabelo. Brian o tirou rapidamente com um braço de meu colo e me manteve em pé com outro braço.

– Senta aí. – Eu o fiz e fechei os olhos. – Já vai passar ok? – Assenti tentando recuperar minhas forças.

Ver o meu filho totalmente careca me deu um aperto no peito. Eu estava com tanto medo de perdê-lo que podia facilmente imaginá-lo dentro de um caixão.


– É sempre assim? – Brian perguntou enquanto voltávamos para o hospital. Enzo agora cochilava no bebê conforto no banco de trás.

– Ele odeia cortar o cabelo, e agora com aquela máquina ele ficou pior. – Foquei-me na paisagem fora do carro.

– Tem certeza que está melhor? – Assenti.

– Eu só tive um minuto de choque ao vê-lo assim.

– A gente vai se acostumar. – Ele pegou minha mão que estava em meu colo e depositou ali um beijo. – Não podemos deixar de ser forte ok?

Estacionamos no hospital e voltamos a levá-lo para o quarto. Deixei-o no berço e me sentei no sofá.

– Talvez seja melhor você ir pra casa. – Brian se sentou ao meu lado me entregando um copo com água.

– Não quero. – Tomei alguns goles de água e voltei a entregar o copo a ele.

– A Scarlet vai passar essa noite com ele Dulce.

– Eu sei Brian, mas me deixe aproveitar o meu filho até ela chegar.

– Isso não está certo. É o meu turno agora, não o seu. Além do mais, você precisa descansar. – Ele colocou o copo sobre uma mesinha e depois se encostou me puxando para me acomodar em seus braços.

– Eu não quero ficar sozinha em casa, é tão ruim.

– Se quiser, posso ficar lá com você. – Ele beijou minha cabeça.

– Você tem me dado tanta atenção Brian, o que eu fiz pra merecer isso?

– Nada. Eu simplesmente gosto de você, sabe disso. – O olhei sem saber o que dizer. – Sei que não sente por mim o que sinto por você, mas estou disposto a tentar conquistar você ok? – Ele selou meus lábios. – Se você permitir, é claro.

– Eu não quero que você se machuque.

– Eu sei. – Brian acariciou meu rosto. – Eu sei o que você está sentindo, sei o que você está passando, mas mesmo assim eu quero tentar. – Dei meio sorriso, selei os lábios dele e voltei a apoiar minha cabeça em seu peito. Mesmo tendo certeza dos meus sentimentos por Christopher, sei que mereço tentar uma nova relação, um novo sentimento. Brian me conforta, me dá segurança e é ele quem está ao meu lado quando mais preciso.

De noite quando terminei de tomar um longo e relaxado, vesti um pijama e fui até a cozinha onde encontrei Brian terminando de fazer um chá.

– Sei que não sou de casa, mas vim fazer um chá pra você. – Ele me entregou uma xícara de chá de hortelã quando terminou. – Não foi difícil encontrar, você é bem organizada.

– Organizada? Eu. – Dei uma risada. – Não sou eu quem organizo, e agora está tudo uma zona. – Fomos para a sala e nos sentamos no sofá.

– Isso aqui é o céu perto do meu quarto.

– Eu nunca fui na sua casa. – Cruzei as pernas colocando uma almofada em cima e depois apoiando a xícara nela.

– Verdade. Quem sabe algum dia.

– Mora sozinho? – Perguntei. Me dei conta de que eu não conhecia quase nada dele.

– Não. Moro com minha mãe. – Fiz uma careta. – Não que eu seja filhinho de mamãe sabe. Eu estou procurando um apartamento pra comprar, mas por enquanto prefiro ficar lá. Sou um desastre ambulante com relação a cuidar da casa.

– Esse chá está perfeito, acho que você é bom na cozinha.

– É só um chá, isso não tem segredo algum. – Ele deu de ombros. Tomando mais um pouco de seu chá. – Você cozinha bem?

– Acho que razoável. Enzo ainda não reclamou de nada. – Terminei de tomar o chá, coloquei a xícara sobre a mesinha de centro e me deitei com a cabeça no colo dele.

– Então qualquer dia quero provar da sua comida. – Brian acariciou meus cabelos.

– Vamos ver... quem sabe. – Fechei meus olhos.

– Está tudo bem?

– Está sim, só estou cansada.

– Então dorme. Ficarei aqui com você e com esse feijãozinho aqui. – Ele acariciou minha barriga.

– Jura que não se importa que eu esteja esperando um bebê dele? – Ele assentiu. – Mas porquê? Eu já tenho um filho com ele, e agora isso. Não é estranho?

– Vocês não estão juntos Dulce, então não tem nada de estranho nisso. Além do mais, sei que vou gostar desse bebê tanto como gosto do Enzo. Sabe que ele é como um filho pra mim não é?

– É estranho isso. Foi você que estava lá quando ele nasceu, e agora é você quem está com a gente agora. Você é tudo que o Christopher deveria ser e não é pra ele.

– Não fala mais desse cara. Ele não sabe o que está perdendo. 

The Last Hope - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora