Capítulo 14

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– Como está o meu neto? – O senhor Lewis perguntou sentando-se ao meu lado. Eu ainda não tinha lhe contado o que houve no México.


– Nada bem. – Tentei manter a voz firme, mas era quase impossível.

– Dulce, sei que ainda não ofereci, mas eu quero fazer o exame de compatibilidade e a Ana também. – Ana era sua esposa. – Ela está tão preocupada com ele.

– O que eu fiz?

– Como assim o que você fez? – Abaixei minha cabeça, sentindo-me culpada, como eu queria ter percebido no início, talvez ele já até estivesse curado.

– O que eu fiz de errado senhor Lewis? Onde foi que eu errei?

– Oh querida, você não fez nada de errado, pelo contrário, você foi e continua sendo uma excelente mãe para ele.

– Eu devo ter feito algo muito errado para que eu pague dessa forma, mas ele não tem culpa seja lá o que for. – Soltei um soluço de dor e o senhor Lewis me abraçou de lado.


– Tenho minhas dúvidas que você tenha feito algo errado querida. Você é das poucas pessoas que conheço que são tão maravilhosas. Você é digna, é sincera, é carinhosa, amorosa e muito mais coisas que eu ficaria uma eternidade listando. – Ele acariciou meu cabelo. – Às vezes as coisas simplesmente acontecem e não há nada nem ninguém no mundo que possa explicar por quê.

– Eu estou com tanto medo.

– Eu sei. Você tem esse direito, mas precisa ser forte. Sabe que pode contar comigo no que precisar, não é?

– Por quê? – Me soltei dele enxugando as lágrimas. — Entre tantos sobrinhos tantos sobrinhos netos, por que trata logo a gente dessa forma? O que eu fiz para o senhor?

– Você não faz ideia não é? – Eu neguei. – Eu vou lhe contar uma coisa. – Eu nem sempre fui rico como sou hoje Dulce. Eu cobiçava tanta coisa. Almejava a riqueza, o luxo, o conforto e quando consegui chegar onde estou eu me tornei um homem frio. Mas quando consegui, eu me endureci feito uma pedra. Você não sabe quantas pessoas humilhei, quantas pessoas destruí. E meu pagamento foi incapacidade de reproduzir e gerar filhos, ter herdeiros. Tudo o que me restou foram sobrinhos interesseiros que estão lá dentro apenas esperando o dia que eu caia morto para ficar com tudo o que é meu. Fiquei com tanta raiva de Deus por isso que prometi que tudo que eu tinha eu levaria para o túmulo. Eu fiz um testamento dizendo que nenhum deles tem direito a nada do que possuo senão a minha esposa. Ela decidirá o que fazer com isso caso ela saia desse mundo depois de mim. – Ele tirou os óculos e os limpou em sua manga. – Eu me lembro o dia que você estava no parque. Não te dei muita ideia, mas ainda me lembro, você sentada ao meu lado acariciando a sua barriga que estava crescendo. Quando voltei à empresa me dei conta de que eu tinha perdido a minha carteira, e eu pensei logo em você. Foi você quem esteve perto de mim por todo aquele tempo. Eu me envergonho disso acredite. – Ele segurou minhas mãos. – Então você apareceu na empresa e foi como se eu tivesse levado um tapa no rosto, um choque de realidade. Você não era rica e mesmo assim foi tão sincera, tão verdadeira e tinha orgulho de si. Não abaixou a cabeça em um instante sequer, mesmo tendo sido rejeitada tantas vezes. Era exatamente como você que eu deveria ser e não o homem frio e calculista que eu me tornei durante minha vida. Você foi como um anjo em minha vida Dulce, salvou a minha vida de um desastre, com sua dedicação e esforço salvou a minha empresa que estava começando a falir e sequer percebeu isso. Eu devo minha vida a você e ao seu filho. Com ele eu voltei a sorrir e os dias que ele passou em minha casa trouxe um novo motivo para minha esposa e eu vivermos. Algum motivo realmente bons. Éramos um casal triste, sem diálogos nem nada disso, mas o Enzo mudou tudo.

– Eu não sabia. O senhor me pareceu tão bom.

– Bom? Eu? – Ele riu forçadamente. – Dulce, talvez você me odeie talvez não, mas quando cheguei no escritório e percebi que não tinha mais minha carteira, eu praguejei tanto sobre você. – ele abaixou a cabeça e vi algumas lágrimas pingarem. – Se o Enzo não se curar, eu juro que me mato, sei que sou o culpado disso tudo.

– Você não tem culpa...

– Eu desejei o pior a você Dulce.

– Mas o senhor se arrependeu, não foi? – ele assentiu. – Então pronto, não tem culpa de nada. Sei o quanto ama o Enzo senhor Lewis, como se fosse sangue do seu sangue e sei que ele ama o senhor também.

– Eu sei que nada disso vai adiantar, nada vai pagar, mas, eu mudei o meu testamento. – Fiquei em silêncio, me recusando a acreditar que Enzo esteja doente por culpa do senhor Lewis que tem sido um anjo em nossa vida. – O Enzo vai herdar metade dos meus bens. – Arregalei os olhos. – Eu não sei quando isso, mas é um direito dele.

– Senhor Lewis eu não posso aceitar isso, não.

– Já está feito Dulce, e se caso ele não esteja mais entre nós, suponhamos que tudo que ele deveria herdar, será passado para o seu nome. – Meu coração quase pulou para fora. – E não discuta comigo, já está feito. Quando ao hospital, tudo que for gasto aqui, já será debitado diretamente em minha conta, então não terá gasto com nada.

– Eu não sei o que dizer. – E não sabia mesmo. Todas as palavras repentinamente sumiram da minha boca.

– Vovô. – Ouvi a voz de Enzo bem baixinho e olhei para frente. Ele estava olhando para nós dois, esticando a mão e chamando o senhor Lewis.

– Ei, campeão! – O senhor Lewis se levantou e foi até ele. – Como você está? Que saudades fiquei você. – Fiquei olhando o senhor Lewis conversar com ele enquanto tudo que ele me dissera ficava dando voltas em minha cabeça. Ele não era tão velho, mas o tempo que perdeu se dedicando somente a seu trabalho gastara toda sua saúde. Senti o ar me faltar só de pensar no tanto que dinheiro que o senhor Lewis tinha. Eu sabia que metade do que ele tinha, era muito mais que Victor jamais tivera em sua vida. 

The Last Hope - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora