Capítulo 02

5.6K 322 9
                                    

Gostaria de dizer que os exames no hospital oncológico tivessem voltado negativos, mas não. Enzo estava com Leucemia e seu estado já um pouco avançado.

Passei a tarde colhendo sangue, pois o oncologista pediu que eu fizesse exame de compatibilidade sanguínea com o de Enzo. Chorava toda vez que olhava pra ele e me culpava imensamente por não ter notado nada de diferente nele. O medo de não ser compatível com meu próprio filho tomou conta de mim.

– Ei meu amor, vem aqui na mamãe. – O chamei quando cheguei em casa. Scarlet estava no tapete brincando com ele. Enzo soltou seu carrinho e veio até mim.

Ainda me lembro do primeiro passo dele em minha direção. Eu não sabia quem ria mais, se era ele, por ter finalmente entendido que iria andar sem ninguém o segurando, ou eu, feliz por ver o progresso daquela coisinha minúscula. Ele deu três passos e começou a rir, e a cada passo ele dava mais gargalhadas. Só parou de rir quando desequilibrou e caiu no sentado no chão começando a chorar. O choro não durou muito tempo. Sempre que posso repasso cada vídeo que gravei dele, tenho medo que o tempo tempo me faça esquecer dos momentos que vivi ao lado dele. Nenhum deles.

– Como foi lá Dulce? – Scarlet me perguntou, apreensiva, enquanto eu pegava meu filho no colo.


– Apenas colhi sangue. Os resultados saem em alguns dias. – Enzo começou a brincar com meu colar. Um colar folheado a ouro e um pingente de um menininho com o nome dele gravado.


– Entendi. Você precisa de mais alguma coisa ou eu posso ir? – Pedi licença ao meu chefe. Expliquei o que estava acontecendo e tive sorte de ter um bom chefe. Ele me dispensou na mesma hora, dizendo que se eu precisasse de alguma coisa, eu deveria dizer a ele.


– Pode ir se quiser. Eu vou preparar algo pra gente comer e talvez mais tarde eu vá ao shopping com ele um pouco.


– Ok. Eu vou indo agora. – Ela apertou as bochechas dele e ele virou o rosto resmungando. – Fica bem bebê. E você, tenha fé. Vai dar tudo certo ok?

– Obrigada. – Sorri com gratidão e ela se retirou. – O que nós vamos comer meu amor? Hum? – Segui em direção à cozinha e o coloquei em cima da mesa. – Vamos ver o que tem pra gente comer aqui.

Depois que chegamos do shopping, dei banho nele e o coloquei para dormir, depois tomei banho e me deitei ao lado dele. Fiquei até tarde o olhando dormir como um anjo.

Fui chamada no hospital no dia seguinte, até estranhei, pois pensei que demoraria mais, porém, pelo estado dele, sabia que havia uma certa urgência em dar início ao tratamento.


– Pode se sentar. – O oncologista apontou a cadeira. Arrumei Enzo em meu colo assim que me sentei. – Como ele está indo?

– Com os remédios, bem. Apenas tem dormido mais que o normal.

– Se quiser deitá-lo ali, pode deitar. – Dei de ombros. Não queria soltar o meu filho, o meu menino, temia tê-lo mais em meus braços por muito tempo. – Os resultados dos seus exames chegaram. Eu tenho uma boa e uma má notícia pra você.

– E quais são elas?

– A boa é que você tem o mesmo tipo sanguíneo que o seu filho, então quando ele precisar de transplante, você poderá doar.

– E a ruim?

– A ruim, é que a medula óssea de vocês dois não é compatível, e o número de pessoas na fila de espera é enorme.

– E o que eu devo fazer com relação a isso doutor? – Engoli seco. Eu sabia como era difícil conseguir um doador de medula óssea, sabia o quão complicado era encontrar alguém compatível. A fila era gigantesca, e se não fosse uma pessoa específica compatível dizendo que seria para ele, as chances eram mínimas.

– Há uma probabilidade do pai dele ser compatível, mas não posso te dar essa certeza. Alguém da família pode fazer o teste, mas as chances são menores.. – Meu estômago parecia ter dado voltar dentro de mim.

– Há alguma outra maneira, caso o pai dele não seja compatível? – Perguntei receando a resposta.

– Um irmão. Você tem outro filho? – Neguei. Cada palavra que saía da boca dele parecia distanciar meu filho ainda mais de mim. – Bom, de qualquer forma, logo começaremos o tratamento com ele. Você sabe que terá que ser forte não é? – Assenti, segurando as lágrimas. – A quimioterapia vai fragiliza-lo bastante, e ele vai precisar do seu apoio.

– Eu sei. – Passei a mão em baixo do olho impedindo a lágrima de descer. – Doutor, sei que aqui é o local que tenho mais chances de conseguir um bom tratamento pra ele, mas você me daria uma autorização médica para viajar com ele para o México?

– Dulce, o estado dele é delicado, sabe disso.

– Eu sei, mas eu preciso fazer essa viagem. Eu volto o mais rápido que puder.

– Há urgência nessa viagem?

– Talvez seja a forma de salvar o meu filho. O pai dele é de lá, eu preciso tentar.

– E você não poderia entrar em contato daqui?

– Não, eu preciso ir lá. A situação é delicada.

– Tudo bem. Eu vou te dar a autorização, mas você tem que voltar pra cá. O quanto antes começarmos o tratamento, maiores são as chances de cura. – Ele se levantou.

– Obrigada.

Fui para a casa com ele depois da consulta. O deitei na minha cama e fiquei o olhando dormir. Eu estava quase cochilando quando senti a mãozinha dele em meu rosto.

– Mammy... – Ele me chamou e eu abri os olhos.

– Oi, meu amor. – Dei um sorriso e ele sorriu de volta para mim mostrando apenas os dentinhos que tinham crescido. 

The Last Hope - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora