Capítulo 13

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– Posso pagar uma bebida? – Uma voz rouca entrou por meus ouvidos e me fez arrepiar da cabeça aos pés. Olhei para o lado e vi o garoto que eu sempre via na pista de skate se sentar o meu lado colocando seu skate apoiado no balcão.

Ele era tão lindo. Olhos castanhos, cabelos ondulados castanho medio, pele um tanto corada devido ao fato de passar horas quase todos os dias no sol na pista de skate e tinha os braços malhados. Estava vestido em uma camiseta branca lisa, jeans preto, tênis skatista preto e usava um colar prateado simples.

– Depois que você parar de analisar o meu visual, é claro. – Senti minhas bochechas corarem e acredito que elas ficaram tão vermelhas como o meu cabelo.

– Desculpa. – Arrumei em minha cabeça o meu boné tentando disfarçar a vergonha.

– Prazer, meu nome é Christopher. – Ele estendeu a mão e foi como se um ímã me puxasse para correspondê-lo.

– Meu nome é Maria.

– Dulce Maria. – Ele corrigiu. Arregalei meus olhos o encarando. – O que foi? Acha que eu não me encarregaria de saber um pouco sobre a garota de cabelos de fogo que passa horas fingindo ler Shakespeare em baixo do sol escaldante só para me ver andar de skate?

– Eu não finjo ler Shakespeare.

– Ah, por um acaso, outro dia você estava mexendo no celular dentro do livro e sequer se deu conta de que ele estava de cabeça para baixo. – Minhas bochechas devem ter mudado de vermelho para azul. – Tudo bem, eu também não curto Shakespeare, mas, voltando ao assunto, o que acha de uma bebida?

– Eu não bebo.

– Não disse que deveria ser álcool. – Ele chamou o garçom. – O que você gosta? Um suco natural de laranja e cenoura, pra mim, por favor. – Pediu.

– O mesmo. – Tirei os fones de ouvidos e os guardei na mochila, dando total atenção à ele.

– Então, o que você faz todos os dias por aqui?

– Nada. Apenas fico aqui esperando a tarde passar, e você?

– Como vê, eu ando de skate. Você sabe?

– Oh não, claro que não. Na verdade nunca sequer subi em um desses.

– Não seja por isso. – Ele se levantou e colocou o Skate deitado no chão. – Vem. – Ele me estendeu a mão. Hesitei um pouco mas então cedi. – Primeiro você coloca esse pé. – Fiz como ele pediu. – Agora você precisa por o outro e tentar se equilibrar. – Tentei fazê-lo mas minhas pernas estremeceram.

– Eu não vou conseguir.


– É assim mesmo, depois você se acostuma, prometo. – O olhei com medo mas ele me deu um sorriso tão confiante que eu não poderia dizer não. – Eu seguro você. – Assenti e subi no skate que quase escapou embaixo dos meus pés, mas ele me segurou pela cintura, equilibrando-me sobre o skate. – Agora você precisa usar esse pé para impulsionar, mas sem força. – Assenti, apenas porque ele prometeu que poderia confiar nele. Impulsionei com o pé e o skate foi em frente. – Isso, mantenha o equilíbrio em seu corpo. – Dei mais um impulso e então ele me soltou. Olhei para trás e o vi parado sorrindo, por um instante pareceu fácil, até eu desequilibrar e cair para trás.

Christopher correu ao meu encontro. – Droga, se machucou? – Ele se abaixou me olhando preocupado e sequer se importou muito com o skate dele que acabara de ser massacrado no meio da rua por um ônibus.

– Não, não. – Me sentei mais que depressa. – Droga, seu skate, me desculpa!

– Tudo bem, querida. – Ele me ajudou a levantar. – O skate não é mais importante que você. – O olhei. Ele estava tão perto que por um instante pensei que iríamos nos beijar, mas eu recuei.

– Eu vou pagar outro, não sei como mas eu vou, eu juro. – Ele pousou o dedo indicador sobre meus lábios me fazendo calar.

– A culpa é toda minha ok? Eu não devia ter soltado você, então não tem que me pagar nada. Venha, nosso suco já deve estar pronto.

Voltamos novamente para a lanchonete e enquanto ele falava eu não conseguia deixar de olhar para o skate massacrado do outro lado da rua. – Já disse pra esquecer o skate. – Ele virou meu rosto fazendo-me encará-lo. – Eu tenho mais dois, então relaxa, esse nem era o meu preferido. – Ele tomou um gole de suco. – Então, me diz, o que faz por aqui? Está de férias?

– Sim. Férias de família sabe? – Fingi forçar o vômito e ele riu. – Minha irmã e meus pais saíram para fazer compras, e bom, não me agrada nada. Minha irmã fica horas olhando vitrines para no final falar que não quer nada, isso quando não experimenta um monte de coisa e depois vai embora sem levar nada, eu odeio tudo isso. – Continuei falando sem parar e Christopher o tempo todo prestando atenção em mim como se estivesse se divertindo comigo.

No dia seguinte retornei ali, e lá estava ele sentado na beira da pista de skate mexendo no celular. Assim que me viu, acenou me chamando. Junto com ele estavam dois skates, um com estampa floral e um com estampa tribal, aparentemente novos e um conjunto de capacete, cotoveleiras e joelheiras.

– O que foi? Achou mesmo que eu deixaria você acabar essas férias sendo um desastre no skate? Não mesmo.

E assim foi o restante de nossas férias. Nos conhecemos melhor e acabamos nos envolvendo mais do que devíamos. Só descobri o quão rico ele era quando voltamos para o México. Me senti mal de início, mas depois vi o quão simples ele era e o quanto em comum nós tínhamos. O único problema era que ao contrário dele, eu jamais pude conhecer sua família, pois ele sempre inventava alguma desculpa.

The Last Hope - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora