Capítulo 04

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Não foi fácil criar coragem para sair do hotel e vir parar na empresa de Victor. A última vez que pisei nesse lugar foi para dizer que nunca mais voltaria ali. Verifiquei mais uma vez se Enzo estava confortável no carrinho e entrei no prédio. Scarlet veio logo ao meu lado mexendo no celular.

– Bom dia, por favor, o senhor Victor. – Pedi à recepcionista assim que chego ao décimo segundo andar. A mesma que estava ali a última vez que entrei. Da outra vez ela me olhou com desdém, talvez por eu andar feito uma garota de rua, sem me importar muito com aparência, mas agora ela simplesmente me ofereceu um sorriso e pergunta:

– A senhora hora marcada?

– Não, mas não preciso. Diga a ele que Dulce Maria está aqui, tenho certeza que ele vai me receber. – Falei e ela arregalou os olhos, provavelmente agora me reconhecendo. Fora a mesma frase que eu disse da outra vez. Ela arrumou os óculos no rosto e discou um número no telefone.

– Desculpe incomodar senhor Victor, mas está aqui uma garota que deseja ver o senhor. Segundo ela, se chama Dulce Maria. – Ela não conseguia tirar os olhos de mim. Demorou mais de dois minutos para em fim ela desligar e dizer: – O senhor Victor vai lhe atender em instantes, pode aguardar ali. – E ela estendeu a mão para algumas poltronas no canto da recepção. Empurrei o carrinho até lá, o posicionei ao lado da poltrona e me sentei. Scarlet sentou na outra olhando o local. Era enorme e tudo de primeira qualidade.

– Scarlet, pega a mamadeira dele aí na bolsa pra mim, por favor? Está na hora dele comer, não quer sair da rotina porque não estamos em casa. – Pedi. Ela abriu a bolsa e retirou a mamadeira com suco de laranja. Dei uma balançada para misturar melhor e entreguei a ele. Ele amanheceu mais amuado. Não quis tomar todo o leite de manhã e também nem quis comer nada.

– Senhorita Dulce, o senhor Victor vai atendê-la agora. – A recepcionista se aproximou. – Eu lhe acompanho.

– Eu sei o caminho. – Falei irritada. Da última vez eu tive que me virar para achar a sala. Me levantei e saí em direção à porta da sala de Victor que estava entreaberta.

– Achei que tinha deixado bem claro que não era pra você voltar mais aqui. – Ele não tirou os olhos da pilha de papel que tinha em mãos. Entrei e fechei a porta.

– Eu não viria se não fosse extremamente necessário, Victor. – Falei com a voz trêmula.

– Estou curioso para saber o porque de sua visita repentina. Porque não se senta? – Me sentei, não por vontade própria, mas porque minhas pernas pareciam que iam falhar a qualquer instante. Victor levantou os olhos e me olhou. – Está diferente, parece que fez bom uso do dinheiro que dei a você.

– Algumas pessoas mudam Victor. – Me limitei, eu não iria entrar no jogo dele, não era momento pra isso.

– Posso saber o porque de sua visita? – Ele se arrumou na cadeira depois passou a mão por seu terno cinza de provavelmente alguns milhares de dólares. – Acho que nós temos um combinado a cumprir não é? Ou você já gastou todo o dinheiro que eu lhe dei e resolveu vir me pedir mais? Eu não sou nenhuma fábrica de dinheiro.

– Me poupe com seu teatro Victor. – Molhei os lábios com a língua, da última vez que estive ali, ele me intimidou, eu era apenas uma menina ingênua, mas agora eu era uma mulher, madura e uma mãe disposta a enfrentar o que fosse para ajudar o meu filho. – Não gastei nem a terça parte do dinheiro que você deu para o meu filho. Gastei somente o necessário. O que eu vim pedir, nenhum dinheiro pode comprar.

– O reconhecimento da paternidade? – Ele riu sarcástico. – Christopher não quer te ver nem pintada de ouro, ele jamais reconheceria seu filho.

– Não é isso, não me interessa o sobrenome de vocês. — Fiz uma careta, sentindo um certo nojo. — O meu filho está doente.

– Então é um menino? Meu filho soube fazer um garotão, que maravilha!

– Isso não importa. O que importa é que eu preciso do Christopher, ele é minha última esperança para conseguir salvá-lo.

– O que o seu filho tem? Seja lá o que for, eu posso pagar um tratamento adequado a ele.

– Eu já disse que não preciso do seu dinheiro Victor. Eu tenho um trabalho e uma boa renda para sustentá-lo e poder pagar um tratamento a ele, mas não posso comprar medula óssea em lugar algum. – Meus olhos fraquejaram. – Nem com todo dinheiro do mundo.

– Medula óssea? – Ele tirou os óculos tentando parecer sereno. – Ele tem câncer? – Assenti. Ouvi o choro de Enzo do lado de fora da sala. – Ele está aí? – Ele olhou em direção à porta. – Posso vê-lo?

– Receio que não. – Enxuguei o rosto e ele me encarou.

– Como ele é? – Havia uma pitada de interesse na voz e no olhar dele.


– Isso não interessa a você. – Me levantei no mesmo instante que ele. Ele não se interessou quando eu estava grávida, não é agora que deixaria ele se aproximar do meu filho. – E eu não vim pedir você autorização, eu vim simplesmente lhe avisar. Não preciso que Christopher o reconheça e muito menos que Enzo saiba o nível da família que ele tem por parte de pai.

– Enzo. Belo nome você escolheu. – O choro cessou, rápido até. Enzo quando começava a chorar não parava rápido. – Você está na casa de seus pais?

– Não.

– Pode me passar um telefone para contato? Verei o que posso fazer por você. – Os olhos dele se arregalaram em direção à porta. Virei-me para ver o que era. Meu estômago se revirou quando vi Christopher entrar, completamente diferente. Agora de barba, usando roupas sociais – que ele odiava – e o cabelo penteado para trás. Ele estava com Enzo no colo. Enzo tinha os olhos úmidos e a cabeça deitada no ombro dele, percebi o quão pálido ele estava. Christopher estava de boca aberta, mas parece que as palavras que ele diria, sumiram no instante que me viu. Fui até ele mais que depressa e tomei meu filho dos braços dele.

– Dulce? É você mesma? – Ele intercalava seu olhar entre mim e Enzo. – Mas... não. – Ele encarou o pai, com certa fúria. – Como isso é possível? – E foi então que entendi tudo. Christopher não sabia de Enzo, tudo fora um jogo de Victor. A pergunta é: Como foi que eu não suspeitei de nada? Encarei Victor com fúria e desapareci de vista.


– Me desculpe Dulce, eu não sabia que era ele. – Scarlet vinha atrás de mim empurrando o carrinho vazio enquanto se desculpava. – Enzo vomitou e começou a chorar exatamente quando ele chegou. Foi ele quem fez Enzo parar de chorar. Só deixei ele pegar porque ele disse que iria levar até a mãe. Fui eu mesma quem mostrei onde você estava. – Ela falava apressadamente e eu simplesmente prestava atenção no caminho. Quando entrei no elevador pude ver Christopher sair da sala, com o rosto vermelho de raiva e vir em minha direção. Mas tarde de mais, o elevador se fechou e desceu antes que ele pudesse nos alcançar.

Pegamos o primeiro taxi que passou e voltamos para o hotel. Como eu não imaginei o jogo sujo de Victor? Fiquei imaginando o que Victor disse a ele quando eu fui embora sem avisar. Eu enviei a carta para Christopher, falando da gravidez e agora tenho certeza de que essa carta jamais chegara às mãos dele.

– Tudo bem Scarlet. – Falei quase uma hora depois. – Não estou brava com você. – Deitei Enzo na cama. Ele não estava bem eu tinha certeza disso. – Oh meu amor, você precisa comer. – Acariciei o rostinho dele. 

The Last Hope - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora