Capítulo 03

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Quando estamos apaixonados, parece que vamos explodir de tanto amor dentro de nós. É como se fosse impossível ter amor maior do que esse – e era exatamente assim que me sentia com relação a Christopher – até termos o primeiro filho. É o tipo de amor que não se mede.

Descobri isso quando Enzo nasceu. Foi só olhar para aquele ser tão pequeno em meus braços para descobrir que nada mais no mundo importava. Deixei de me importar com o fato de Christopher ser um idiota que faz tudo que o pai manda e passei a me importar somente com Enzo.

Não foi fácil viver em Nova York no início. Ninguém queria dar emprego a uma mulher grávida e estrangeira, mas eu não desisti. Andei por dias e dias atrás de alguém que iria me aceitar até encontrar um dia em um restaurante um senhor, já de meia idade. Ele esqueceu a carteira no banco de um parque. Tentei chamá-lo mas era tarde de mais. Ele entrou no carro e partiu. Vi na carteira que tinha o cartão de uma agência de publicidade e propaganda, então no dia seguinte fui logo cedo pra lá. Ele me agradeceu por ter devolvido a carteira, e então, depois de dar uma conferida na carteira ele me olhou e me perguntou se eu tinha um emprego.

Desde então eu o ajudava. Tomava conta de parte do capital que entra e saia da empresa. Ele confiava em mim cegamente, e me deixou responsável também por mais um monte de coisas que envolvia dinheiro, muito dinheiro. Consegui esse emprego só por ter devolvido a carteira com mais de dois mil dólares em dinheiro dentro sem tirar nenhum centavo. Ele me explicou que a última pessoa que trabalhava pra ele o roubava e teve que demitir assim que descobriu, e que, mesmo sem me conhecer, sabia que por causa desse meu gesto, poderia confiar em mim. Ele não se importou nem um pouco com o fato de eu estar grávida e ainda me fez contar a ele o que uma garota como eu faz perdida na cidade de Nova York. Além de ter me pagado um curso online para que eu pudesse fazer de casa para ter pelo menos uma base do que eu iria trabalhar.

O senhor Lewis não tinha filhos, mas tem uma legião de sobrinhos interesseiros em sua empresa. Todos eles trabalhavam ali dentro e posso dar minha palavra que, pelo pouco que convivíamos, tinha certeza nenhum deles prestava.

Às vezes me sinto desconfortável por ele me tratar tão bem. Ele diz que Enzo é como um neto pra ele. Foi ele quem pagou o hospital quando Enzo nasceu porque o seguro da empresa não iria cobrir por estar cedo demais e ainda indicou o melhor médico para cuidar do restante da minha gravidez. Alguns fins de semana, ele pede para que eu leve Enzo na casa dele para ele ver e quando olho os dois juntos tudo que consigo ver é um laço entre avô e neto. Ele chorou muito quando Enzo o chamou de vovô, e acredite, foi a primeira palavra que ele falou.

Lewis é casado com uma senhora muito simpática. Ela também trata o Enzo como neto, e faz todas as manhas dele. Não foi fácil dizer a nenhum dos dois que Enzo estava doente.

Quando disse que teria que viajar com ele, o senhor Lewis mandou uma das outras secretárias procurar um hotel para mim, Enzo e Scarlet, e disse para não me preocupar com despesas na viagem e que era pra eu ficar o tempo necessário. Conclusão disso, tinha acabado de chegar no Ventura Hotel & Suites by Dominion um dos hotéis mais caros da Cidade do México depois de viajar na primeira classe do avião. Ele insistiu que Scarlet viesse comigo pra me ajudar com Enzo, e eu não recusei isso, já que seria bom alguém pra conversar durante a viagem.

Entramos no quarto e me assustei com o que vi. Não era um quarto, e sim o apart-hotel de luxo na parte nobre da Cidade do México. Duas suítes, sala copa e cozinha. Em um dos quartos estava um berço, provavelmente preparado para Enzo.

– Dulce, isso aqui é um sonho.– Scarlet olhava pela enorme janela de vidro. – Olha essa vista. – Deixei Enzo no chão e fui olhar. Era uma vista maravilhosa.

– Você já veio no México antes?

– Não, mas confesso que o pouco que estamos aqui, já estou encantada. Você viu aquele Shopping?

– Vi sim. – Sorri. – Linda a faixada, não é? – Ela assentiu. Olhei Enzo escorado na parede de vidro olhando lá em baixo e apontando o dedo.

– Carro, mammy.

– Sim, meu amor. – Me sentei no chão ao lado dele e enquanto estava ali vendo-o ficar encantado com os carros passando lá embaixo a campainha do quarto tocou.

– Deixa que eu abro. – Disse Scarlet, saindo em direção ao hall do apartamento. Enzo se deixou cair em meu colo ainda olhando pra baixo.

– Serviço de quarto. – Ouvi uma voz masculina dizer.

– Obrigada. – Agradeceu Scarlet e depois a porta se fechou. – Dulce, olha isso.

– O quê? – Me levantei segurando Enzo nos braços e fui ver. Era uma mesa repleta de frutas, torradas, suco, leite e mais um monte de coisas. – Mas eu não pedi nada. – Parei um momento e pensei. Claro que seria o senhor Lewis. – Senhor Lewis! Esse velho não tem jeito. – Neguei, rindo. – Bom, vamos comer, né?

Scarlet e eu comemos enquanto Enzo brincava com seu carrinho no chão e depois de dar a mamadeira a ele eu liguei para o senhor Lewis. Ainda posso ouvir a voz dele em minha cabeça dizendo: "Me ligue para dizer que está tudo bem com ele, está me entendendo? É tudo que eu te peço." Eu não poderia negar isso. Apesar de não demonstrar muito, sei que ele está sofrendo tanto quanto eu pelo que está acontecendo.

Durante a tarde, Scarlet e eu levamos Enzo ao parque para que ele pudesse tomar um pouco de sol. O dia estava frio embora o sol brilhasse lá em cima.

Eu adorava ver meu filho brincar e rir. A gargalhada dele me fazia rir, era a coisa mais gostosa do mundo. Minha mãe sempre me levava naquele parque quando eu era criança. Ela não fazia ideia que estava ali, na verdade a última vez que falei com ela foi no aniversário de Enzo. Não nos falamos muito, já que toda vez que ela e eu nos falamos acabamos discutindo por ela pedir que eu volte ao México. Não tive coragem de dizer a ela o real motivo de ter ido embora de um dia para o outro. Cheguei a mencionar ao senhor Lewis que pretendia ficar na casa dela durante esse período no México, mas ele disse que seria melhor um hotel próximo a um bom hospital, por precaução. Não discuti.

Estar parada na calçada em frente à casa dela, me deu um frio no estômago. Tanto tempo sem entrar ali, será que seria bem recebida? Toquei a campainha e fiquei esperando a porta se abrir.

– Dulce? – Minha mãe parecia incrédula ao me ver. Scarlet estava atrás de mim com Enzo no colo. – Filha? É você mesma? – Ela me olhou de cima a baixo. Eu estava diferente. Me vestia melhor, já não tinha mais os cabelos vermelhos como quando saí do México e nem usava mais jeans rasgados, all star e blusa larga.

– Oi mamãe. – Ela me puxou para um abraço. Um abraço tão forte que chegou a doer.

– Oh meu amor. Deixe-me ver você melhor. – Ela me soltou e ficou me olhando como se eu fosse uma obra de arte, algo precioso demais para ela.

– Eu posso entrar? Está frio aqui fora. – Olhei para Enzo todo agasalhado no colo de Scarlet, seu nariz e suas bochechas estavam extremamente vermelhos pelo pouco tempo que ficamos expostos à friagem.

– Claro, claro, entrem. – Ela deu passagem para a gente.

– Mamãe essa é a Scarlet, babá do Enzo, e bom, esse é o Enzo.

– Prazer. – Scarlet sorriu.

– Posso? – Ela apontou Enzo e eu assenti. Scarlet entregou Enzo a ela.

– Oi meu amor. – Minha mãe o abraçou. – É a vovó, você me reconhece longe da tela do computador?

– Mamãe, quem é? – Ouvi a voz de Blanca, uma de minhas irmãs. Ela era a única que ainda morava com minha mãe. Minha outra irmã, Claudia, estava morando na Itália com o marido dela e a filha. – Dulce? Dulce! – Blanca pulou em cima de mim quase me jogando no chão. – Maninha, que saudades de você. – Ela também me abraçou forte. – Ah, meu sobrinho, você finalmente trouxe ele pra gente conhecer. – Ela foi para o lado de Enzo que começou a chorar com a histeria dela.

– Assim você o assusta Blanca. – Minha mãe ralhou com ela.

– Ele só está estranhando. – Falei. – Onde está o papai?

– Provavelmente garrado no trânsito. – Ela foi até a sala e a seguimos. – Vamos nos sentar.

Nós nos sentamos. A sala estava um pouco diferente. Alguns móveis foram trocados. Começamos a conversar até meu pai chegar. Esperei que todos estivessem ali, para não ter que repetir de novo e de novo o motivo da minha viagem repentina ao México. Quando expliquei desde o início o que estava acontecendo tudo que recebi fora silêncio. Nenhum deles conseguiu dizer nada e por fim eu já estava chorando. Expliquei o motivo de eu ter ido embora do nada e o motivo de eu retornar, novamente de uma hora pra outra. 

The Last Hope - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora