— Sentem-se. — O oncologista apontou as duas cadeiras. Christopher e eu nos sentamos. Enzo havia passado por mais duas sessões de radioterapia. Christopher segurou minha mão vendo meu nervosismo.
— E então doutor?
— Estou com os resultados dos últimos exames de Enzo, e o que tenho são boas notícias. — Ele arrumou a pilha de papeis sobre a mesa. — Ele está pronto para receber o transplante e ainda hoje o doador virá para os Estados Unidos.
— Poderia pelo menos nos dizer de onde é esse doador?
— Não. É totalmente confidencial, sinto muito. — Ele voltou a atenção aos papeis. — Bom, os dois doadores compatíveis fizeram uma série de exames, a somente um deles poderá doar devido alguns problemas.
— Mas isso não mudará em nada né?
— Não. Eu gostaria de explicar um pouco a vocês sobre o procedimento do transplante.
— Estamos a ouvidos. — Falei.
— Enzo receberá o transplante depois de amanhã pela manha. O processo durará uma média de duas horas por meio de uma intravenosa. — Ele limpou a garganta. — Durante algum tempo, ele precisará ficar internado para que possamos monitorar o resultado disso. Monitoraremos os sinais vitais, a perda ou recepção de líquidos e peso. Quando ele receber o transplante, será como se ele tivesse renascendo, chamamos isso de dia zero. — Assenti.— Colheremos sangue dele quando ele tiver febre para sabermos o agente causador da infecção para podermos combatê-la. Também reduziremos as visitas e aumentaremos os cuidados necessários para evitar bactérias e vírus expostos.
— E quanto tempo isso durará doutor?
— Isso varia de paciente para paciente. O negócio é ter fé e paciência. É ainda provável que quando ele voltar pra casa, ele precise tomar alguns medicamentos na veia, mas ele poderá vir só para isso e voltar para a casa logo em seguida.
-Há risco de rejeição?
-Em alguns tecidos sim, mas há forma de controlar isso durante o processo, faremos o que estiver ao nosso alcance. Aqui nesse papel, está uma lista de coisas que deve evitar e coisas necessárias dos cuidados pós alta. É importante que todos eles sejam levados a sério. Então, por enquanto é isso.Desejo boa sorte para todos nós. — Ele me cumprimentou. — Avisem as pessoas que desejam visitá-los para que venham até amanhã. Depois disso, as visitas serão restrita apenas aos pais e avós.
— Tudo bem.Avisaremos sim. Obrigada doutor. — Me levantei. Christopher se levantou em seguida e juntos fomos até o quarto onde Enzo brincava com Scarlet e meu pai.
— Dulce. — Christopher segurou minha mão antes que eu possa entrar no quarto. — Eu queria pedir um favor a você.
— O quê? — Olhei para o quarto. Nenhum dos três nos viram na porta.
— Minha mãe quer muito conhecer o Enzo.
— Mas ela está no México? — Ele negou.
— Ela chegou ontem, está no meu Loft. Quer conhecer você e o Enzo.Você se importaria?
— Eu não sei Chris.
— Olha, eu sei que ainda está chateada com tudo, mas eu juro, ela sequer sabia de você. Ela não é como o meu pai.
— Ela deve me odiar Christopher. Estraguei o casamento dela, a família dela.
— Ei. -Ele segurou meu rosto. — ela não odeia você. Minha mãe é uma mulher dócil, espontânea, divertida. Tenho certeza que se você der uma chance a ela, você vai gostar dela.
— Eu tenho tanto medo.
— Acredite em mim, por favor.
— Acreditar em você? Por favor, você mentiu pra mim desde o primeiro instante, como quer quer eu acredite em você?
— Eu me arrependo tanto Dulce. — Ele acariciou meu rosto. — Perder você foi a segunda pior coisa que me aconteceu, e estou disposto a lutar pra conquistar você novamente.
— Porque segunda?
— A doença do Enzo é a primeira. — Eu sorri. — Eu ainda te amo Dulce, te amo muito. Você e o meu filho, nosso filho. Me dá mais uma chance, uma última chance, se eu falhar, o que eu não pretendo, prometo nunca mais incomodar você.
— Eu não consigo. — Minha voz falhou. — Tenho medo que você me machuque de novo, quando eu sequer consegui sarar as feridas completamente.
— Deixe-me fazer isso por você. Prometo dar o meu melhor para curar cada ferida aberta, e prometo jamais mentir pra você novamente. Não quero justificar Dulce, mas ter mentido, escondido tudo aquilo foi a única maneira de ficar perto de você. — Escorreu a primeira lágrima no rosto dele. — Se eu tivesse falado com meus pais sobre você. Meu pai daria um jeito de nos afastar, assim como ele fez. E você? O que pensaria se eu tivesse dito que estava prometido a uma garota que eu sequer amava e que eu não poderia fazer nada a respeito?
— A gente poderia dar um jeito, Christopher, não sei.
— Eu estava com medo Dulce, medo. Medo de perder você, medo do que o meu pai faria. Eu fui covarde, assumo isso. Eu era imaturo, irresponsável, mas não sou mais assim. Eu mudei, e pretendo mudar ainda mais, mas preciso de você pra me ajudar com isso. Eu quero ser um bom pai, um bom namorado, e futuramente um bom marido, ao lado da única mulher que eu amei na vida. Quero poder chegar em casa no fim do dia e ver meus dois filhos correndo para os meus braços e minha mulher sorrindo no fundo do corredor. Eu quero sentar bem velhinho ao seu lado, em uma cadeira de balanço vendo nossos netos correrem pela casa, enquanto nossos filhos reclamam por nós dois não fazermos nada ara controlá-los. É essa a vida que sonhamos Dulce, é assim que eu ainda quero que seja, mas nada disso vai acontecer se você não me aceitar, se você não me der outra chance. O que quer que eu faça mais? Que eu me ajoelhe na sua frente e te peça perdão? — Ele se ajoelhou. — Eu faço. Me perdoa Dulce, me perdoa por ter sido um estúpido, um imbecil imaturo. Me perdoa por ter feito você sofrer, por ter feito você chorar.
— Christopher por favor. — O fiz se levantar, já que as pessoas que passavam no corredor nos olhavam de lado. Olhei para o lado e tanto meu pai quanto Scarlet observavam a cena calados.
— Foi bem convincente. — Meu pai comentou. — Ou ele está sendo um bom ator, ou ele está realmente arrependido.
— Papai. — O repreendi enxugando as lágrimas.
— Por favor. — Christopher falou baixo, como se estivesse desistindo. — Eu te amo Dulce, eu te amo. — Ele me puxou para seus braços, e eu não relutei.
— O problema da vida é que as pessoas que nos machucam, geralmente são as únicas que podem curar nossas feridas.
— Por favor, vocÊs dois. Porque não se beijam logo? — Meu pai perguntou irritado. Comecei a rir. Chegava a ser cômico, justo ele que sempre odiou o Christopher falar isso.
— Então, você aceita me dar outra chance? — Christopher perguntou ansioso. Apartei-me e enxuguei seu rosto enquanto assentia. — De verdade? — Tornei a assentir. — Sério mesmo.
— Christopher. — Bati no ombro dele. Puxei-o pela gola da camisa e o beijei. Sentia falta de seus beijos, o gosto de sua boca, a sensação que isso me dava. Christopher me puxou pela cintura e colou nossos corpos. Sua outra mão envolveu meu cabelo.
— Também não precisam se engolir. — Meu pai se aproximou com Enzo no colo. — Ainda mais na frente do garoto. — Apartei-me de Christopher rindo. Ele tinha as bochechas vermelhas. Disfarçado, pegou Enzo no colo e eu os abracei.
— Oi meu amor. — Beijei a bochecha dele.
— Papai. — Ele deitou a cabeça no ombro de Christopher me olhado. Christopher sorriu, me deu mais um selinho e depois depositou um beijo na cabeça de Enzo.
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The Last Hope - Vondy
FanfictionÀs vezes, por mais que a gente tente fugir daquilo que um dia nos fez mal, o destino insiste em nos levar de volta ao ponto inicial. A gente se esconde, foge para lugares desconhecidos, tenta começar uma vida nova, apagar o passado e seguir em fren...