Desespero

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Tudo o que eu senti na hora em que o vi, foi despero e raiva. Não raiva dele pelo fato de ter entrado na minha casa e estar tentando nos matar, minha raiva era direcionada ao cientista idiota que inventou essa doença.

O intruso com certeza era um Ravener. As feridas cobriam-lhe os braços, as pernas e a face. Não havia uma parte do corpo (que era visível) que não estivesse machucada. Ele não tinha mais o braço esquerdo e o machucado que havia em seu rosto, estava coberto de pus.

Ele me encara, saliva escorria pelo canto da boca, os olhos brilhavam com sede de sangue. O fedor que emanava dele era insuportável, quase me fez desmaiar, mas tive de aguentar.

De repente ele me ataca, se joga pra cima de mim e me pega de surpresa, quase que ele consegue me acertar, mas pego a faca e faço um corte em seu braço. Se fosse uma pessoa normal, teria se afastado gritando e uivado de dor. Ele volta a me atacar e com outro movimento de braço, arranco-lhe mais sangue. Escuto um barulho vindo da sala, logo penso que é outro Ravener e que estou enrascada.

Dois braços se levantam atrás do meu adversário, segurando um vaso de porcelana. Os braços deceram e acertaram a cabeça do Ravener. Ele cai no chão, inconsciente, mas não morto. Minha mãe estava atrás do intruso, as mãos ainda meio levantadas, Tata estava na porta do porão, metade visível por causa de minha posição.

- Obrigada - Digo a minha mãe, que me responde com um aceno de cabeça.

Vou para a sala e me direciono a escada, onde o corpo ainda estava recostado e levo um susto ao perceber que se tratava de Cláudia. Levo a mão a boca e sinto alguém encostar no meu ombro, era Maureen, tentando me confotar do choque.

Cláudia se mexe e começa a abrir os olhos, parecia estar com dor de cabeça. Ela leva a mão a cabeça e vejo que havia uma mordida em seu antebraço, não demoria muito para ela se tornar um deles.

- Querida, você e Tata devem ir embora e se você achar seguro, leve Cláudia, pois logo o Ravener na cozinha vai acordar.

Concordo com a cabeça e vou para perto de Cláudia e coloco a mão em seu braço. Uma pergunta surge em minha mente.

- Mas... e a senhora? Não vai com a gente?

- Não posso... Tenho de cuidar do intruso.

- Eu não vou te deixar aqui.

Cláudia abriu os olhos e me olha confusa.

- Onde estou?

Iguinoro a pergunta e olho para a minha mãe.

- Você não pode ficar aqui sozinha e se um Deles te atacar?

Maureen mostrou uma marca na perna, era uma mordida igual a de Cláudia. Os vasos sanguíneos que ficavam ao redor da mordida estávam pretos e em alto relevo, parecia que ela havia sido mordida a duas semanas.

- Lembra que fui a um velório de uma amiga? Perto de um dos muros?

Eu não queria responder, tinha perdido a voz ao ver a mordida e se foi mesmo no tal velório que minha mãe foi atacada, então sim, foi a duas semanas que ela foi mordida. Uma raiva, não muito grande, de que minha mãe não havia me contado da mordida, começou a me encher aos poucos.

- Os Raveners escalaram os muros e nos atacaram, muitos foram levados para fora dos muros, outros foram mortos e por sorte, eu só fui mordida. A doença vai me consumir em um ou dois dias, não vou durar muito. Vocês precisam ir. - Continuou Maureen

- E pra onde vamos? - Pergunto, finalmente encontrando a voz - Não temos para onde ir.

- Existe um lugar. Hoje eu fui procurar um abrigo para vocês irem depois de eu me transformar por inteiro e achei um armazém, onde mora um grupo de imunes, vocês tem que ir pra lá.

- Onde fica?

- Do outro lado da cidade, em um beco sem saída, é o último prédio, na rua Ithuriel. Quando chegarem no fim da rua vão achar ele. - Ela respirou fundo, tentando segurar as lágrimas de ter que nos separar. - Agora vão! Ou aquele monstro vai acordar e estaremos todas fritas se ele chamar sua turma.

Olho para Cláudia, que estava meio quieta até o momento. Ela estava acordada e pelo visto, descobriu onde estava, mas não sabia o que havia acontecido com seu braço.

- Então vamos e honraremos o nome de sua mãe ou terá sido em vão a descoberta dela. Irei e ajudarei até os últimos momentos de minha sanidade.

Me levanto e me jogo nos braços de Maureen. Quando acordei não pensei que ia ser o último dia com minha mãe. Uma lágrima rolou pelo meu rosto, molhando a manga da blusa de minha mãe. Deixei mais lágrimas cairem, mas não tinha tempo para despedidas.

Largo-me de Maureen e seco as lágrimas, me direciono para o porão, onde Tata ainda estava parada de frente para ele, os olhos brilhavam por causa do choro silêncioso. Tata corre para a mãe, o rosto todo estava molhado. Cláudia veio em mimha direção.

- Temos que pegar as coisas e botar o pé na estrada. - Digo enquanto aponto para o porão.

Eu e Cláudia descemos a escada e pegamos as mochilas no canto do cômodo e subimos de volta.

Tata estava nos esperando na cozinha e Maureen estava perto dela. Dou mais um abraço em minha mãe e logo partimos em direção ao outro lado da cidade. Encontrar um grupo de pessoas que não conhecemos.

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