A beleza das últimas estrelas

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         No final do dia já estavamos a três quartos do lado Oeste.  Paro de repente e me viro para o grupo que me seguia.
       
- Hora do descanso, vamos tirar um tempo para dormir, eu fico de vigia e não adianta protestar Cláudia, eu não estou com sono e não vou te-lo tão cedo.
       
- Você deveria ter um ajudante, caso você durma, ele vigia ou acorda outra pessoa para te substituir.
      
O garoto loiro parecia desconfortado, mas levantou a mão.
      
- Eu ajudo...
      
- Não! - Gritou Cláudia na mesma hora - Eu vou ajudar! Pode dormir a vontade.
      
Ele pareceu mais desconfortado ainda, balançou a cabeça em concordância e se deitou.
      
Em dez minutos depois, Tata e Thomas estavam dormindo, Tata soltava pequenos roncos e Thomas dormia silênciosamente.
     
- Preciso falar com você... - Sussurra Cláudia.
     
- Percebi. - Interrompo ela.
     
- Não fique com raiva do Thomas! - Ela continuava falando baixo.
     
- Porque? Você não morre de raiva dele? - Digo revirando os olhos.
     
- Só finjo não me importar e ficar com raiva, dispensei ele por causa dos meus problemas, nunca mereci aquele garoto que sempre foi atencioso comigo, um fofo, e eu nem liguei, acabei traindo ele com o Carter. Quando percebi o que fez - Ela souta um suspiro entrecortado e volta a falar - Nunca me perdoarei por isso, na época eu fiquei tão triste com o que fiz que acabei terminando, ele me procurou querendo saber o que ele havia feito, me recusei a responder e ele ficou com raiva, mas ele não fez nada.
      
Eu entendi direiro ou ela falou mesmo que tinha traido o pobre rapaz?  Ela nunca havia traído alguém antes! Não que eu saiba pelo menos...
      
- Porque você fez isso? - Sussurro para ela, já que se eu gritasse, acordaria Tata e Thomas.
      
- Você sabe que eu sempre fui apaixonada pelo Carter e finalmente ele me quis, nem cheguei a pensar em Thomas.
     
Concordo com a cabeça para ver se a conversa sobre traição acabava e me encosto na parede.
     
- Ele não pode saber o que aconteceu de verdade, não conte pra ele que a culpada sou eu, não tenha odio dele, mas também,  não me odeie.
    
- Não odeio nenhum dos dois.
    
Cláudia abriu a boca para falar alguma coisa, mas logo em seguida, fecha ela e se reencosta na parede, ao meu lado.
                                             
★★★
      
Duas horas depois, Tata e Thomas acordam e logo começamos a caminhar de novo, olho para o relógio que indicava ser 7:30 da noite.
      
Precisavamos chegar lá antes da meia noita, precisava chegar onde os imunes estão, isso se tornou uma necessidade vital.
                                              
★★★
      
Felizmente, não demorou muito para chegarmos ao fim do túnel, durou apenas meia hora de caminhada depois do cochilo. O lado Oeste da cidade era lindo, a lua brilhava perfeitamente no céu, acompanhada das estrelas, que brilhavam vagamente.
      
Começamos a correr pela noite, faltava poucos quilômetros do lado Norte. Eu corria o mais rápido que o meu corpo cansado podia, Tata e Thomas estavam na minha frente e Cláudia atrás. Corremos alguns metros até sentir uma mão agarrar o colarinho da minha blusa e me puxar para o chão. Caio no chão com tudo e minha cabeça bate com força no asfalto. Alguém sobe em cima de mim e segura meus braços com os joelhos e sinto alguma coisa roçar meu rosto. Abro os olhos e vejo que o quê estava me encomodando era uma mecha vermelha de cabelo.
       
- Oi... - Sussurrou a garota em cima de mim. Era Cláudia.
       
- O que você está fazendo? Me larga! - Grito para ela, mas foi inútil.
       
- Você sabe que eu sempre te odiei, não sabe? - Pergunta a ruiva para mim.
       
- Você não está falando coisa com coisa, agora me larga! Por favor!
        
Ela balança a cabeça descordando e olha o meu rosto de cima a baixo, ela não parecia normal... Não, ela não está normal, a doença consumiu o  cérebro dela, não por inteiro, mas consumiu uma boa parte dele.
        
- Sempre tive inveja de você ser uma imune e eu não. Sempre quis ser você e continuar intacta mesmo depois da mordida... - Disse ela enquanto faz beicinho.
        
Ela pousou as mãos no meu pescoço,  primeiro ela começou a  acaricia-lo e depois começou a apertar, até eu começar a sufocar e engasgar. Que ironia, de vez em quando eu já quis enforca-la pela raiva que ela me fazia e agora, eu estou sendo enforcada pela minha melhor amiga.
        
- Larga ela! - Gritou Thomas, ele expressava desespero e raiva e estava apontando a arma para a cabeça de Cláudia. - Largue-a ou atiro em você.
       
Cláudia bufa e faz uma careta, me larga devagar e sinto um prazer enorme quando o ar chega em meus pulmões. Eu estava fraca por causa da falta de fôlego, então não consegui tirar o corpo da ruiva de cima de mim.
       
Ela olhou para Thomas, não havia raiva em seu olhar, nem tristeza ou lembrança de que Thomas foi algum dia especial a ela, seu olhar mostrava indiferença misturada com confusão.
       
- Porque eu largaria ela? Quero ela morta e não me importo se você me matar depois, contanto que ela esteja morta antes.
       
Ainda não acreditava que ela estava fazendo isso. O que eu fiz desta vez?
       
- coloco uma bala na sua cabeça antes de você experimentar falar a palavra matar. - Fala o garoto.
      
Cláudia faz outra careta, mas continua em cima da minha barriga. Ela se voltou para mim de novo e começou a acariciar meu rosto e a fazer carinho em meus cabelos, ela me tratava com carinho depois de tentar me matar? Vai entender. De repente ela volta a deslizar os dedos pelo meu pescoço e eu não podia fazer nada, pois ela estava em cima da minha barriga e estava prendendo os meus braços com os joelhos.
        
- Você é tão fofa...
        
- largue-a! - Grita ele de novo.
        
Sinto uma lagrima traiçoeira escorregar pelo meu rosto, fecho meus olhos e sinto mais lágrimas cairem.
        
- Não quero larga-la... Não! - Grita a garota. - Se você atirar ela morre, se você não atirar ela vive...
         
Uma gota de suor desliza pela testa de Thomas, ele estava nervoso.
        
- Largue a arma... - Diz Cláudia pegando um revólver e apontando para minha cara. - Ou eu atiro.
        
Ele olha para mim e me pergunta com o olhar o que devia fazer, mas eu não faço a mínima idéia. Tomando uma decisão,  ele abaixa a arma devagar e Cláudia se inclina e sussurra em meu ouvido:
         
- Vou me levantar, se você tentar se levantar ou fazer qualquer coisa para fugir vai levar um tiro no meio da sua carinha linda. - Diz a garota - A escolha é sua, me obedece ou morre.
         
Ela se levanta, a arma continua apontada na minha direção.
        
- Se levanta. - Ordena ela.
        
- Mas você disse que era pra eu...
        
- Eu disse pra levantar!
       
Começo a me levantar até...
        
- Mais divagar!
        
Me levanto devagar, mas não devagar demais. Assim que fico de pé Cláudia se aproxima e passa um braço pelos meus ombros e sinto o metal frio do cano da arma e minha têmpora.    
         
- Agora, diga tchalzinho para seus amigos.
         
- O q-que v-você vai f-fazer?
         
- Diga tchal! - Ela pressiona mais o cano da arma em minha cabeça, fazendo um arrepio percorrer minha espinha.
         
Olho para Thomas e Tata. Tamara estava agarrda a perna de Thomas, que me olhava, pedindo silênciosamente, meu perdão. Ele ainda estava com a arma na mão, porém, estava apontada para o chão e ele sabia que se levantasse o braço, eu ia levar um tiro.
         
- T-tchal...
         
Cláudia puxou alguma coisa do bolso,  era uma sacola preta de pano.
         
- Coloque na cabeça! - Ordena ela. - E deixe as mãos onde eu possa ver.
       
Pego a sacola de pano cubro meu rosto em sinto Cláudia se afastar um pouco.
       
Um grito, foi a primeira coisa que eu escutei ou senti depois de Cláudia se afartar, era Thomas gritando.
       
- Não faz isso!
       
- Ou o que? Eu morro? Se eu morrer, levo ela junto.
      
Silêncio, uma coisa que eu nunca achei que ia escutar de novo depois dessa algazarra. Escuto um soluço fino a dois metros de mim, Tata, sim, só pode ser ela.
       
Então escuto outro grito, sinto uma pancada na cabeça e perco a consciência.
     
        

A EpidemiaOnde histórias criam vida. Descubra agora