Fronteiras

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Todos nós sentimos um arrepio percorrer o corpo quando Edth termunou a história.

- Acho melhor nós irmos dormir. - Fala Thales se levantando e pegando seu saco de dormir.

Todos se prepararam para deitar, mas um devia ficar acordado, para o caso de escutar um barulho estranho, ou se ver pela janela que tem um Ravener entrando no prédio.

Me ofereci para passar a maior parte da noite em claro, não me importo, não estou com sono. Também tenho de terminar de ler o diário de Maureen. Me enrolei no meu saco de dormir, que estava ao lado da janela, sendo iluminado pela luz da lua. Abri o diário na página em que eu parei e comecei a ler. O conteúdo do diário era incrível, falava de como inventaram o Ravener e quem o fez: Matheus Agnes, um parente distante que a família não se orgulha de conhecer e de ter laços sanguíneos, mas Maurren estava empenhada em limpar o nome da família e quase o fez.

A cada página eu sentia minha sabedoria aumentando, eu entrava dentro do livro e me imaginava fazendo aquelas tentativas de cura que, infelizmente, deram errado. Li várias páginas ao decorrer da noite até Thomas acordar.

- Nem sei como consegui dormir. - Fala ele esfregando os olhos. - Aquelas histórias de terror me fizeram lembrar de uma noite em que despertei o meu maior medo.

Ele se levanta e se senta ao meu lado, ainda esfregando os olhos.

- Seu maior medo? Medo de quê?

- Você vai rir de mim...

- Não vou, prometo. - Digo já rindo um pouco.

- Mas você já está rindo! - Fala ele coçando a nuca e Victor começa a se mexer e logo se levanta e vai até a cozinha pegar um copo de água. - Acho melhor te contar uma outra hora, quando todos estiverem dormindo.

Victor volta com um copo vazio na mão e um olhar vago.

- Podem dormir. - Fala ele olhando para nós dois. - Eu fico de vigia agora, não vou conseguir dormir tão cedo.

Então guardei o diário no fundo da mochila e me deitei, Thomas trouxe as coisas dele para perto de mim e se deitou ao meu lado. Mal se passam cinco minutos e já pego no sono.

★★★

Nos levantamos cedo, comemos e continuamos nossa caminhada em direção aos muros da cidade. Isa queria chegar em um lugar seguro antes do sol se pôr, por medo de encontrar algum Ravener no meio do caminho.

Andamos por horas a fio, até todos escutarem um barulho de algo grande e metalico caindo no chão, me veio a mente uma lata de lixo. Todos se viraram na direção do barulho. Arregalei os olhos e olhei para os cinco Raveners que estavam à minha frente. A mão de Thomas foi em direção à mochila, pegando a arma que ali estava a um bom tempo.Simon, Thales e Edth também pegaram suas armas.

Edth atirou em uma garota loira que logo reconheci, faltavam um braço e o nariz em Carmen, ela também mancava, seus cabelos estavam arrepiados e embaraçados. Quando a bala de Edth atravessou sua cabeça, ela começou a tombar para trás, o sangue, jorrando do ferimento.

Thales e Simon atiraram em Fred e Todd. A cabeça dos dois Raveners também foram perfuradas e eles cairam. Uma mão se estendia na minha frente, me entregando uma arma.

- Sei que você quer fazer isso. - Sussurra Thomas, ainda me estendendo a arma.

Pego a arma e respiro fundo, primeiro abaixo a arma, apontando-a para o chão, respiro fundo novamente e levanto a arma, apontando-a para a cabeça da outra Ravener. Aperto o gatilho e acerto bem no alvo. Bastet também vai ao chão. Miro na outra pessoa. Cláudia ri.

- Vai mesmo atirar em mim? - Fala ela com cara e voz de deboche. - Eu duvido.

Assim que ela termina essas palavras, sou dominada pelo ódio, sei que se algum deles soubesse o que ela fez... Acho que não teriam me perguntado porque de tanto ódio reservado dentro da bala que matou Cláudia, ou talvez continuassem a não entender meus motivos, minhas vergonhas. Apertei o gatilho com toda a força, como se aquilo fizesse a bala ir mais rápido ou com mais força. Assim que disparei, ela arregalou os olhos e a bala se cravou no meio de sua testa. Seu corpo caiu para frente e assim que tocou o chão, não consegui olhar mais para o corpo sem vida dela.

Não posso dizer que o senti era alívio, mas parecia que um pouco do peso que estava sobre meus ombros tivesse acabado. Meu medo, desapareceu, não a encontraria mais. Não sei o porque, mas aquilo que ela fez, me magoou, me destruiu, me fez pensar que eu não podia confiar nem nos meus melhores amigos, a única pessoa que ainda confio é Thomas.

★★★

Horas depois do ocorrido e algumas pessoas ainda me perguntavam o motivo da raiva, naturalmente eu não havia resposta a dar, então inventei uma boa desculpa que todos acreditaram, menos Thomas, que sabia da verdade.

A noite já havia caído, a lua brilhava ternamente à cima de nós e minha vontade era de pegar novamente a arma que estava com Thomas e atirar no próximo que me perguntasse o porque do estresse.

O resto do caminho foi tranquilo, vimos um ou dois Raveners por ai, mas não foi preciso atirar neles. Chegamos nos muros quando o sol nasceu no horizonte leste.

Os muros eram enormes, os portões eram um pouco menores do que os próprios muros, haviam guaritas dos dois lados dele, onde os guardas deveriam ficar. Isa foi em direção à uma das guaritas e Simon foi na outra, procurar um botão que abria-os.

Com um barulho alto, que chamou a atenção de todos que estavam a um raio de cinco quilômetros de distância, os altos portões se abriram e o grupo conseguiu finalmente sair de Astride.

★★★

O mundo do lado de fora dos muros é totalmente diferente do que o de dentro. Havia árvores por toda parte, uma enorme diversidade de plantas que poderiam ou não ajudar a fazer a cura e até o céu não parecia ser o mesmo. Caminhamos por um distância considerável para ficar loge da cidade, mas todos estavam casados e com sono, principalmente os que haviam passado metade da noite vigiando, eu e Victor por exemplo. Parecia que haviam colocado chumbo em nossas pálpebras.

Fizemos algo parecido com um acampamento, só que sem as barracas e as músicas animadas. Mas havia a melhor parte, as histórias de terror da Edth. A garota de cabelos coloridos contou várias histórias de arrepiar até a alma, que desisti de escutar e fui para um canto separado dos outro para tentar dormir.

- O que é aquele livro que você estava lendo no prédio? - Pergunta Thomas arrumando suas coisas para poder se deitar perto de mim.

- Você ainda não me contou seu maior medo... - Digo com um sorriso malicioso no rosto. - Se você me contar eu lhe conto, segredo por segredo.

Eu lhe estendo a mão e ele a aperta.

- Combinado. - Ele larga minha mão e tenta fazer suspense. - Meu maior medo é de... - Ele respira fundo. - Palhaços, eu tenho medo de palhaços!

Rio um pouco até ver a cara com que Thomas me olhava.

- Desculpa! - Digo lhe dando um selinho. - É que... Sei lá... Como você pode ter medo de quem nasceu para nos fazer sorrir?

- A roupa e o jeito deles me fazem arrepiar! Eu simplesmente odeio palhaços!

Sorrio e lhe dou mais um selinho.

- O meu segredo é que aquele livro é o diário da minha mãe e pode conter as informações necessárias para eu conseguir fazer a cura! Só que ninguém pode saber, pois posso muito bem ser roubada por Isa.

Ele arregalou os olhos, parecia estar supreso com a notícia. Ele me deu os parabéns por encontrar o que poderia ser a cura do Ravener e me abraça forte e ficamos assim por um tempo, até que o sono me venceu e me entreguei de braços abertos ao mundo dos sonhos.

A EpidemiaOnde histórias criam vida. Descubra agora