Em Direção Oeste

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Quando eu acordo, a primeira coisa que procura é Tata, pois ela não estava e Cláudia também não. Me levanto, pego minha faca e vou ao segundo andar.

Quando chego a escada para o primeiro andar, escuto um barulho de passos vindo de um cômodo não explorado por mim. Me direciono ao local e descubro que é a cozinha da casa e quem estava fazendo o barulho era Cláudia e Tata.

- Oi! Como dormiu? - Pergunta Cláudia animada e por um instante me esqueço que ela é quase uma deles. - Você dormiu pouco.

- Dormi bem, obrigada por perguntar.

- Está com fome? Aqui tem torrada, bolacha e leite.

As mochilas estavam perto de Tata então pego a minha, que é laranja. Pego a caixa de suco e me sento na pequena mesa redonda. Cláudia me oferece um copo e coloco o suco, que estava quente, devido ao fato de que ele estava na mochila de ontem para hoje. Estico o braço e pego duas torradas e tomo um gole do suco de pêssego quente.

Em dois minutos, estavamos do lado de fora da casa, mochila nas costas e pés prontos para um dia inteiro de caminha para poder chegar, talvez pelo ao menos, no Oeste.

Tata parecia estar feliz e caminhava entretida. Cláudia parecia mais triste, fraca e fora de foco do que ontem. Então me deparo com uma pergunta, e eu? Será que eu parecia mais triste, mais alegre, furiosa ou tudo junto? E o que importância isso tem? Ainda mais agora, que estamos em perigo por causa dos humanos. Nunca culpei os Raveners pelas coisas horríveis que eles fazem, sempre culpei os humanos que inventaram essa doença descontrolada.

Caminhamos em silêncio, até escutar um barulho vindo de uma das casas. O barulho era de vidro se quebrando em mil pedacinhos e veio seguido de um palavrão. Com um gesto, peço para Cláudia e Tata pararem.

Me aproximo da casa de onde veio o som, Cláudia atrás de mim, virada de costas, montando guarda, e Tata, que era nova de mais para ir comigo, caso o que estiver lá dentro for perigoso, fica do lado de fora com Cláudia, que estava armada com um revólver assustador.

Abro a porta da casa devagar, para não chamar atenção, e assim que ponho a cabeça para dentro, para verificar o local, sou quase acertanda com um vaso de porcelana chinesa. Coloco a cabeça para dentro de novo e vejo um garoto um pouco mais velho do que eu, de cabelos longos, ondulados e loiros, os olhos era brilhantes e azuis como safiras, logo percebo que ele não era um Ravener e para ele ver que nós também não somos, decido mostrar as mãos ao garoto antes de colocar a cabeça de novo dentro da casa. Entro na casa com os braços ainda na área de visão do garoto e para mostrar mais confiança a ele, começo a abaixar a mão direita.

- O que você está fazendo? - Perguntou o garoto, sua voz estava trêmula e seus olhos estavam repletos de raiva e medo.

Levei ainda mais a mão as minhas costas, onde estava a minha faca e a pego pelo punho.

- O que você está fazendo?! - Pergunta ele enquanto levanta outro vaso.

Retiro minha faca da bainha com tranquilidade e os olhos do menino ficaram fixos nela enquanto me movimento. Depois eu começo a abaixar e pouso a faca no chão e levanto-me de novo.

- Como posso saber se você não é um Deles? - O garoto era mesmo cheio de perguntas, em? - Me responda! Ou vou atirar outro vaso e tenho uma ótima mira.

- Eu estou desarmada! Se eu fosse um Ravener, nunca ficaria desarmada.

- Talvez tenha planejando isso e na verdade, não está desarmada e assim, me faz confiar em você e me mata no último segundo.

- Nossa, pareço tão inteligente assim? - Me pergunto baixinho, mas infelizmente ele me ouviu.

- Perece! Dos seus olhos posso ver um brilho de pura inteligência! - Me senti elogiada, até... - Inteligência muito maligna.

- Não sou um deles, posso provar.

- Como vai fazer isso? - Pergunta ele com curiosidade.

- Quando você me atacou com o vaso...

- O que isso tem a ver? - Me interrompe ele.

- Eu me esquivei dele, Raveners não tem reflexos.

- E se você estiver mordida?

- Não surtiria efeito nenhum sobre mim, nisso você pode acreditar. - Meus braços já estavam dormentes de ter que ficar com eles para cima esse tempo todo. - Mas, vou te contar a verdade.

Assim que falei isso, a atenção dele ficou redobrada e a desconfiança também.

- Eu não posso ser um dele, mesmo se eu quiser, mas minha amiga que está ali fora, foi mordida e estamos procurando um grupo de imunes no Norte.

- Estão bem longe do Norte - Murmurou ele - Não é arriscado?

- O que?

- Ir atrás de pessoas que você não conhece e nem sabe se existem, ainda mais com uma garota mordida.

- Confio em Cláudia o bastante para saber que ela não vai me atacar e tenho certeza de que minha mãe está certa e que os imunes podem nos dar abrigo, afinal, minha mãe não iria mandar eu ir para um lugar que ela não conhece. - Digo.

Ele concorda com a cabeça e abaixa o vaso e se joga no sofá.

- Você também é? Digo, igual a mim?

Abaixo os braços que estavam quase dormentes e dou de ombros antes de responder.

- Como posso saber? Nem te conheço.

- Você é ou não é imune? - Pergunta ele com raiva na voz

Olho, assustada, em seus olhos azuis. Como alguém poderia desconfiar tanto de outra pessoa? Mas infelizmente o mundo ficou assim depois dos desastres. Ele tem total direito de ficar desconfiado.

- Sou...

- Não precisa responder, sei que é, estudamos na mesma escola, sabia? Já ouvi varios comentários sobre você e Cláudia, comentários maldosos, de pena ou de que você era uma chata que se acha. Sei que é imune Lucy.

Como era possível esse garoto saber tanto de mim, saber o que eu sofro todos os dias e ainda assim, ninguém confiar em mim, como se eu fosse a própria doença, mas na verdade, sou apenas imune a ela. Ele me olhava com tristeza nos olhos, como se ele me compreendesse.

- Você é o Thomas? O outro imune da escola?

O garoto sorriu, um sorriso verdadeiro e entendo que ele era como eu, excluído de tudo, sofria todos os dias com o que os outros pensam dele, quase senti alíviou de ter encontrado ele no caminho.

- Sei que sua vida também não é fácil. - Sussurro mais para mim do que para Thomas. - Todos te julgam. Vem com a gente, encontrar pessoas como você e eu.

Ele balança a cabeça e responde baixinho:

- Não sei... Talvez eu queira ser único. - Brinca ele. Seus olhos se voltam para mim e ele continua o que estava falando. - Eu vou, com uma condição.

Agora ele falava sério e de repente, não sei porque, começo a gostar mais dele do que quando entrei pela porta e quase fui acertada com um vaso.

- Qual a condição? - Ele era descofiado, com toda certeza ele vai ser útil.

- Quero que fique de olho na garota, sei que ela é sua melhor amiga, mas é melhor prevenir do que remediar.

Concordo, relutante, com o garoto, e vou para fora, chamar Tata e Cláudia para dentro.




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