Bônus - Roberto.

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O enterro tinha acabado. Observo todos balados, não posso fazer nada. Me sinto incapaz, me sinto fraco. Eu não consigo proteger todos da dor da perca. Eu não consigo me proteger da dor dessa perca.

Minha filha pega o violão, começa a tocar e cantar.

— Eu olhei a tristeza nos olhos e sorri
Mesmo quebrantado pela vida que escolhi
Da janela eu vi
Cada estação fugir
Como as árvores eu permaneço no mesmo lugar
No outono, no inverno, eu espero primavera chegar
Da estrada eu quis
Retornar pra onde parti...

— Meu amor?— Me viro para trás.

É minha esposa. Minha linda esposa, que está sempre do meu lado.

— Oi.— Tento ao máximo sorrir.

— Você não precisa ser forte o tempo todo.—Diz ela tentando me consolar. Apenas dou um sorriso amarelo.

Sinto que a decepcionei, não sou forte o suficiente para isso. Eu não conseguir me proteger, quanto mais proteger meu filhos e minha mulher dessa tragédia.

 —Você viu o Victor?—  Pergunto.

— Era isso o que eu vinha falar com você.— Ela para e me olhar por um breve segundo.— Ele bebeu muito e a Isabela o levou para casa.

Isso é bem típico do meu irmão. Ele acha que a bebida vai consolar ele, mas é apenas uma barreira para não ir aos pés de Jesus. Meu irmão Victor sempre coloca barreiras para ficar longe de Deus. A bebida o deixa completamente fora de si.

— Amor, vamos! Vamos ir para a casa do Victor. Você precisa falar com ele.— Diz Sophie.

— Tá bom, mas vamos esperar a Bethany terminar de cantar.—Digo e ela concorda.

Viro-me para direção da Bethany e escuto a sua doce voz.

— Que a Palavra te desfaça
Que te afogue em Sua graça
Só a cruz esconderá quem você não é
Eu olhei a tristeza nos olhos
E sorri...

[...]

—Obrigado por vim, tio.— Agradece a Isabela.—Ele está alterado mais do que o normal. Ele se trancou no quarto e pelo visto está quebrando tudo lá dentro.

Ah! Victor...

— Que quarto ele está?— Pergunto.

— É só você subi a escada, a segunda porta a direita.—Respondeu Isabela.

Subo a escada e escuto vários barulhos vindo da segunda porta a direita. Bato na porta e o barulho para. Passa alguns segundos e nada. Bato outra vez.

— Sai daqui, Isabela! Me deixe em paz.— Grita Victor.

— Não é a Isabela, sou eu, Roberto.— Digo.

Ouço a porta ser destrancada e depois de alguns segundos meu irmão abre a porta. Ele está suado, seu semblante é de raiva, seu cabelo está bagunçando. Na sua mão esquerda tem uma garrafa de whisky.

— Dê um glória a Deus, irmãos!— Diz ele e lentava as mãos.—O Doutor Santo, chegou. É pra glorificar de pé!— Diz ele irônico.

Entro no quarto. Basicamente tudo está quebrado, o espelho está em pedaços... E como ele conseguiu quebra a cômoda desse jeito?

— Não vai falar nada, irmão!— Ele interrompe os meus pensamentos.

Eu quero falar alguma coisa, mas não sei o que falar. Minha voz não sai. Tem algo na minha garganta. Engulo em seco.

Deus me dá palavras!

— Victor, olha o que você fez no quarto! Você está completamente bêbado.— Finalmente tenho força para falar algo.— Nosso pai não se orgulharia disso.

— NOSSO PAI MORREU, ROBERTO!— Grita ele.

— Eu não acredito, Victor. Você ainda múrmura a morte de nosso pai? Já faz 16 anos!— Digo.

— O Todo Poderoso tirou ele de mim, tirou a minha mãe de mim.— Diz ele.

— Pra que colocar a culpa em Deus?

—E por que não colocar?

— Porque ele não é o culpado. Todos um dia vai morre. Pare de dá desculpas esfarrapadas.

— Mas ela e nem ele não podia morrer!— Victor senta na cama, coloca a garrafa no chão, coloca a mão na cabeça e chora. Sento do lado dele e coloco a mão no ombro dele.

— Se lembra o que o nosso pai sempre nos falava quando estavam triste?— Pergunto.

—"O Espírito Santo é consolador, ore e consolo virar."— Diz Victor sussurrando.

— Vamos fazer como os velhos tempos? Quando éramos apenas duas crianças, orávamos juntos em buscar de uma só causa.

O Victor me olha e demora um pouco pra responder:

— Só se você deixar eu dizer "Amém".— Ele sorrir. Sempre discutimos para saber que falava o amém final.

— Vamos dizer juntos.— Digo.

— Pode ser!—Concorda ele.

[...]

— Amém!—Dizemos juntos.

— Se sente melhor?—Pergunto.

—  Sim!—Responde ele sorrindo.—Obrigado, irmão!

Ele me abraça e me pega de surpresa. Victor é uma pessoa que não é de abraçar muito. Acho que a última vez que ele me abraçou foi no nascimento da Bethany. O coração dele é fechado para tudo, ele não aceitou Jesus, mas eu creio que daqui uns dias ele vai abrir a porta do coração para Jesus entrar. Eu estarei orando até esse dia chegar.

— Eu vou tomar um banho e já desço para sala.— Diz Victor.

— Tá bom!

Desço as escadas e todos me olham.

 —Como foi, amor?—Pergunta Sophie.

— Foi bom! Nós dois oramos e ele se acalmou.—Respondo.— Ele está no banho daqui a pouco desce.

A Isabela fica com um sorriso enorme no rosto e corre para me abraçar.

— Obrigada, tio!

— Agradeça a Deus, querida.— Digo.

Me sento no sofá e fico pensando era a minha infância. Choro ao lembrar da minha mãe e do meu pai. É tão estranho, só irei ver eles novamente no céu.

"João: 16. 33. Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo."

Eu sou diferenteOnde histórias criam vida. Descubra agora