Doce Remédio

Capítulo 40

Não consigo dormir, mesmo depois de uma noite maravilhosa com Edu. Miguel permeia meus pensamentos. Será que consigo pegá-lo? Começo a duvidar de meus planos, então levanto e vou até o terraço, enrolada apenas no lençol, para clarear as ideias. Vejo o dia amanhecer e começar a rotina de mais um fim de semana. Pessoas aproveitando o sol, indo para a praia, outras indo trabalhar, quando ouço meu celular tocando. Uma mensagem.

"Tudo pronto para sua chegada. Aguardo no horário combinado."

Suspiro alto, fecho os olhos mentalizando o fim desse meu sofrimento chamado Miguel. Visto minhas roupas enquanto Edu ainda dorme pesadamente. Apanho um pedaço de papel perto do criado mudo no quarto, deixo uma mensagem para ele e vou embora, esperando voltar no final disso tudo de alma lavada e coração renovado, para conseguir retribuir esse carinho de Edu, de maneira livre, sem amarras, sem medo. Espero voltar e me entregar do jeito que ele merece.

Chegando ao meu apartamento termino de arrumar uma mala de viagem com alguns acessórios de higiene pessoal e meus relatórios sobre Miguel. Confiro o horário e sigo em busca da prisão de meus medos, de meus receios... de Miguel.

Depois de 3 horas de viagem e algumas ligações que deixei cair na caixa postal, chego ao meu destino, essas lições finais serão o primeiro passo para conseguir meu objetivo. Sumir e voltar outra pessoa. Não avisei a ninguém sobre isso, pois sabia que não iriam concordar. Apenas o amigo do Sr. Frederico sabe e me prometeu não contar a ele também, já que está me ajudando pessoalmente com isso e sabe que ficarei segura ao seu lado. Assim que me instalo já troco de roupas e vou direto para a academia. O sítio de Saulo é bem grande, e está a poucos quilômetros de distância da cidade de Miguel. Passamos todos os exercícios de fortalecimento da minha musculatura, depois vamos aos de luta e por fim, e não menos importante, de submissão. É, isso mesmo, submissão, mas nesse caso quem domina sou eu.

Após vários elogios de Saulo, paramos por hoje. Banho restaurador e uma boa alimentação. Logo estamos cercados por todos os relatórios que fiz sobre a região e sobre Miguel. Por volta das 10 horas da noite pego o telefone e vejo as inúmeras mensagens e ligações de todos, mas primeiro ligo para o Sr. Frederico. Aviso que estou bem e em segurança. Passo o telefone para Saulo que confirma isso mas mente dizendo que não estamos em seu sítio e sim num hotel longe da cidade. Que foi ideia dele e não minha, o que também não é verdade. Ligo para Rita que está como eu esperava, um furacão nível 5, só não me chama de santa por sumir dessa maneira e deixar a todos preocupados. Pergunta se já liguei para Edu e diz que ele está muito preocupado e chateado comigo. Eu até imagino, mas tenho que me concentrar nesse momento, então peço a ela que diga que estou bem e assim que resolver um assunto volto e explicarei tudo.

Saulo e eu ficamos mais alguns minutos planejando o dia de amanhã, os exercícios e os estudos que faremos indo visitar a região. Ele é bem reticente em me levar junto, diz que não podemos arriscar o plano se ele me ver. E assim concordo ainda relutante, mas tem razão. Então vou para o meu quarto e durmo feito uma pedra de cansaço.

***

EDU

Onde ela foi? Essa pergunta fica martelando na minha cabeça o tempo todo, desde que acordei e encontrei um bilhete dela em meu apartamento.

"Oi, Encantado,

Desculpe sair sem avisar, mas tenho algumas coisas para resolver. Quero que saiba que tudo ficará bem e quando voltar, terei todas as respostas as minhas confusões, e estarei livre, inteira e aberta a você. Espero que entenda e me perdoe por agir assim nos últimos dias.

De sua, Aurora."

- Mila, cadê você? Onde foi que se meteu? – falo baixinho segurando o celular ao meu ouvido, tentando pela milésima vez falar com ela e não atende ao maldito telefone.

Seu apartamento está vazio, já que desci e bati inúmeras vezes a campainha sem resposta. Ela evaporou, sumiu do mapa, ninguém sabe onde está. Me pergunto se fiz algo, se o Miguel a pegou e só esse pensamento me deixa com uma raiva imensa e uma impotência de não saber tudo da sua história.

Não aguentando mais ficar em casa vou até a casa de Rita. Ficar com meus amigos é melhor do que me desesperar sozinho. Chegando Rita logo diz que conseguiu falar com Mila e me dá seu recado. Vendo meu desespero Rita e Ângelo me levam ao quarto e finalmente me contam tudo sobre Miguel.

Minha primeira reação? Nenhuma. Quando entendo tudo o que ela passou nas mãos daquele canalha do ex-namorado, se é que podíamos chamá-lo assim, uma raiva ainda maior me corrói, esquenta meu sangue e faço o que tinha jurado não fazer a muito tempo. Ligo para ele.

- Alô?

- Precisamos conversar.

- Ah. Agora você quer conversar, depois desse tempo todo em que...

- É sério, porra! Precisamos conversar e pessoalmente, o assunto é mais sério do que você pode imaginar! – interrompo gritando e trancando os dentes.

- Ok, venha. Ficarei te esperando. – E desliga. Saí da casa de Rita determinado a encontrar Mila e vou achar e impedir que cometa alguma loucura.

Menos de 30 minutos depois chego na casa dele, sou liberado na portaria e subo até a cobertura.

- Seja bem-vindo!

- Não me venha com essa tá legal! Não somos amigos! Você sabe disso!

- Ok. Ok. Vejo que tem alguém de mal humor. Mas me surpreende isso, já que saiu muito bem acompanhado ontem da boate.

Fulminando ele com o olhar, pego pela gola da polo que ele está usando e cuspo as palavras que quero dizer a muito tempo.

- Você não se aproxima mais dela, entendeu? Nunca mais chegue perto dela com outras intenções, deixei bem claro ou quer que desenhe, Antony?