Capítulo 48

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Eita que a Mila tá com o sangue fervendo. Te prepara Miguel. Tua hora tá chegando...

Sem mais demoras, boa leitura.

***

A casa como sempre, está deserta. Mas isso não me engana. Sei que ele está lá dentro. As lembranças ainda estão vivas na minha mente.

Olho para todos os lados e não vejo movimentação alguma próxima. Será que as desconfianças de Saulo, sobre alguém estar ajudando Miguel são verdadeiras? Não perco mais tempo e caminho a entrada da casa. Sei que prometi, quer dizer, a Mila prometeu apenas pegar o Saulo e sair, mas meus planos são diferentes. Estou preparada para acabar com o Miguel e vim com sede de vingança. O que ele fez não tem perdão, nem para Deus.

Abro a porta devagar. Não sei o que me espera ainda lá dentro. O cheiro de mofo ainda é característico da casa fechada muito tempo. A bile sobe mas a seguro, não posso fraquejar. Entro lentamente, tentando não fazer barulho e ao mesmo tempo, querendo ouvir onde estão. Uma música baixa chega aos meus ouvidos vinda do andar de cima da casa. Antes de subir confiro os outros cômodos do térreo, sala, cozinha, um quarto. Abro a porta desse e vejo uma cama de solteiro, uma mesa com um notebook e celulares em cima, vários deles. Um quadro com várias fotos minhas. No trabalho, em casa, na boate, no barzinho, na casa da Rita e do Sr. Tomaz também. Fotos de todos. Duas fotos maiores me chamam a atenção. Edu e Antony estão em destaque no quadro. Com um X vermelho em cima de cada um. Mais ao lado vejo a foto de uma mulher. Parecida comigo só que mais velha. Pego em minhas mãos o retrato de minha tia. Em cima tinha uma carta. Na verdade uma confissão.

"Eu não suportava ver nos olhos dela, o olhar dele. Todos os dias ela me fazia lembrar o que perdi. Mesmo que a fizesse trabalhar, não ter uma vida social, a escravizasse, ela não perdia aquele olhar. O grande amor de minha vida, tomado por minha irmã e que ainda me deixou esse fardo de sobrinha. Não. Eu não suporto mais. Pode leva-la. Fique com essazinha sem graça. Ela não me trouxe nenhum alívio. Só dor de cabeça. Fique com ela. Faça o que bem entender dela. Não quero saber. Não quero notícias. Faça de conta que não existo mais. Já tenho meu dinheiro e você a tem em suas mãos. Agora se vira.

Ingride Olivier"

Ela me vendeu? É por isso que Miguel tem essa obsessão e me diz que sou dele. Eu reli aquelas palavras trancando os dentes. Peguei aquela carta e guardei no bolso da calça. Determinada, subi as escadas indo onde o som me guiava. Passei por dois quartos abertos e vazios. A música vinha do último quarto. Com a pistola nas mãos abri a porta devagar e vi Saulo desacordado em uma cama. "Aquela cama".

- Achei que não viesse mais. – Ouço a voz de Miguel embriagada.

- Nunca disse que não viria. – Respondo seca apontando a arma na direção dele.

- O que é isso gatinha? Estou aqui cuidando do seu amiguinho e você vem armada? Ai, ai, isso não são modos de agradecer uma ajuda.

- Ajuda? Como você conseguiu trazê-lo pra cá Miguel? FALA!

- Hummm arisca do jeito que gosto. Você não me desaponta nunca, não é Mila? Bem que sua tia falou. Mas numa coisa ela se enganou. De jeito nenhum você é sem graça. Ainda lembro do seu jeitinho... hummm, bons momentos.

- Podem ter sido pra você. Mas nunca irão se repetir Miguel. O que você acha? Que vou me jogar em seus braços feito a menina boba que fui um dia? Ah, não mesmo.

- Você adora implorar, você adorava nossas brincadeirinhas, era uma delícia sua voz me suplicando, no fundo você sabe que gostava. Sentia prazer comigo. Não negue.

- Você é um louco! Em que mundo vive Miguel? Você me trancou, me estuprou, sodomizou. Eu gritava de dor e você nem aí. Aumentava a velocidade, me batia, me amordaçava... de onde achou eu que gostava disso?!

Ele levanta cambaleando então percebi as garrafas de bebida espalhas pelo chão.

- Você gostava e ainda gosta. Dá pra sentir. Tá toda bravinha, mas não me engana.

- Não se aproxima Miguel. Um passo e atiro em você.

- Mila? – Ouço a voz de Saulo embargada.

- Saulo! Estou aqui. Vou te ajudar. Calma.

- Cuidado!

Miguel conseguiu me segurar com a minha distração. Me agarrou com força e tirou a arma da minha mão.

- ME SOLTA SEU LOUCO!

- MILAAAAAA!!!! – gritava Saulo tentando levantar mas estava preso com algemas a cama. – POOOOORRA!!!!

- Arhhh gatinha, quanto mais difícil melhor. Grita vai! Grita que adoro ouvir seus gritos!

Tentava me desvencilhar do corpo de Miguel, mas não conseguia. Puxava meus braços, fazia força com as pernas mas nada adiantava. Ainda bêbado ele era mais forte do que eu.

"Não! Não é Mila! Reage! Porra! Reaja!" Uma voz em minha cabeça manda eu reagir e eu sabia quem era. Deixei a raiva me consumir e foi o bastante para ela aparecer.

***

- MILA!!!!

Olhei nos olhos de Saulo. Ele arregalou mais ainda compreendendo que não era mais a Mila quem estava ali. Parei de me debater e esperei o momento certo.

Miguel gostava das presas dele difíceis no começo, mas rendidas depois. Então fingi me render. Com uma gargalhada e um puxar de cabelo ele fala.

- Tá vendo! Te conheço bem gatinha, você não resiste a mim. Vamos. Aqui está cheio. Vamos ao meu quarto.

-MILAAAA! MILAAAAA!!!! – Saulo grita desesperado enquanto Miguel nos leva ao quarto de baixo. Me joga na cama e me olha com um desejo feroz. Aquele hálito de álcool faz meu corpo arrepiar e convulsionar. Assim que se afasta um pouco de mim, pego um impulso e o jogo contra a outra parede. Ele me olha sem acreditar.

Pego a outra arma que Miguel, por sorte ou azar o dele, não descobriu e aponto em sua direção.

- O que você pensa que está fazendo sua piranha?

- O que devia ter feito a muito tempo. – atiro em sua perna direita.

Ele solta um urro de dor. Atiro na esquerda, e outro urro. Meu sangue corre quente da adrenalina. Ouço Saulo gritando mas não vou atrás. Me agacho entre as pernas abertas de Miguel.

- Você pensa que é quem para me comprar? – começo a soltar tudo com uma raiva absurda, falando em frente ao seu rosto, cuspindo todo o ódio guardado. – Você pensa que é quem para se achar meu dono? Você não é ninguém. Não é nada. É um merdinha de um filhinho de papai qualquer, que por ter nascido em berço de ouro se acha dono do mundo. Mas deixa eu te contar uma coisinha, meu bem. Você não é ninguém, e vão adorar ter fazer de lady na prisão, que é o seu lugar.

Levanto e me viro quando o barulho da porta sendo aberta bruscamente pela polícia toma conta da casa.

- Sua vagabunda! Sua vadia! Sua puta! Isso não vai ficar assim! – Miguel desfere todos os palavrões possíveis, enquanto subo as escadas e vou libertar Saulo.

- Mila o que você fez?

- Já te disse pra não me chamar assim Saulo. – Ele abaixa o olhar.

- O que você fez, senhora?

- Não matei ele. Não se preocupe. A morte é pouco para aquele canalha. A Mila poderá respirar aliviada por um bom tempo agora. E você como está? O que houve?

- Ele me dopou de algum jeito. Não me lembro de chegar aqui.

- Vamos - pego as chaves das algemas, que por descuido do calhorda estavam na mesinha ao lado da cama.

O cenário no andar de baixo é intrigante. Os policiais me olham assustados. Acho bom mesmo. Não estou de brincadeiras hoje. Estão levando Miguel para fora da casa. Dou as costas para pegar minhas armas quando ouço um grito.

Ao virar vejo uma arma apontada pra mim e um Saulo no chão segurando a perna.

- MALDITOOOOOO!!!!!

O som dos tiros ecoa em meus ouvidos até não sair mais uma bala da pistola.

Vejo Miguel cair morto no chão.

É a última coisa que me lembro antes de apagar.

Doce RemédioOnde histórias criam vida. Descubra agora