Capítulo 31

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Sem querer me gabar mas gosto do meu trabalho bem organizado. Reviso a agenda direto para não deixar passar nada. Faço minhas anotações para cada reunião. Pautas que vejo serem necessárias informo ao meu chefe e peço a opinião dele, e geralmente, ele concorda comigo. Raramente divergimos nessas questões, apenas em casos extraordinários. Então fico feliz por poder proporcionar essa segurança a ele nesse momento. Afinal são mais de 4 anos trabalhando com a mesma pessoa, fora os outros aspectos de nossa relação.

Estou tão absorta em minhas tarefas que não percebo a presença de Edu ao meu lado. Ele pigarreia para chamar minha atenção. Então percebo que está segurando duas sacolas de Fast Food. Olho o relógio e é quase 1:00 da tarde. Minh distração foi tamanha que só agora percebi que não comi ou tomei nada além das duas xícaras de café hoje de manhã. Se bem que considerando o que eu derramei talvez esteja para menos de uma.

- Com fome? - Ele balança as sacolas, levantando as sobrancelhas perguntando se aceito.

- Sim, morrendo - Digo bloqueando o computador e pegando meu celular. Vou ligar mais uma vez para ver como o Sr. Tomaz está. Depois de ter a ligação encerrada, vejo que Edu já colocou tudo na minha frente.

- Hummm, o cheiro está ótimo! Obrigada, Edu!

- De nada. Agora coma pois saco vazio não fica de pé. Como diria minha avó. - ele pisca e dá uma mordida em seu sanduiche.

Faço o mesmo e conseguimos lanchar como antes, apenas amigos. Senti muita falta desse jeito dele, da sua presença quase constante. Do sorriso. Fecho os olhos forte, tentando aliviar a tensão que veio junto com esses pensamentos.

- Mila?

- Uhm?

- O que foi? - olho para ele e parece preocupado.

- Não foi nada. Apenas uma dor de cabeça. Deve ser o estresse dos últimos dias. Só isso.

- Você quer um remédio?

Ah.... aquelas palavras.... Desencadearam uma centelha escondida. Olhos em seus olhos . Seu tom de mel, ainda terno, mas que rapidamente brilha intenso quando percebe o que as simples palavras ditas carregam. O ar de repente se torna mais denso, pesado. Minha respiração acelera quando ouço um click atrás de mim. Viro-me e dou de cara com um fotógrafo dentro do refeitório. Ele dispara a câmera sem parar. Edu grita alguma coisa, chama por alguém e vejo dois seguranças da empresa entrar, render o cara, tirar a câmera das suas mãos e leva-lo.

Estou ofegante, presa na cena que não consigo me mover devido ao choque. Como ele entrou? Edu fala comigo, mas só consigo olhar a câmera em cima da mesa, onde deixaram. Edu me sacode e é quando ouço um grito...

- Hei! Solta ela!

Pulo do susto e vejo Antony vir com tudo para cima de Edu. Seu olhar é de que vai matar ou morrer. Ah não! Não, não, não! Isso é tudo o que não quero. Uma cena de ciúmes e dramas dentro da empresa? Maravilha! Tragam a pipoca e o refri! Não esqueçam os chocolates! Levanto-me bem a tempo de para entre os dois.

- Antony! Sr. Daves! Ele é um amigo. Estava me ajudando. - ele me olha de cima a baixo e analisa o que eu digo.

- Houve uma invasão. Vim assim que soube. Disseram que ele veio até aqui. - confirmo com a cabeça e lhe indico a câmera. Ele vira e a pega. Retira o cartão de memória. - Vamos ver o que ele tem. Está sob custódia por invasão. Venha.

- Ahm... - me remexo de um lado para o outro e o olho - Prefiro ver isso na minha mesa, se não se importa. - falo baixo, mas sem desviar minha atenção dele.

- Claro. Você já terminou de comer? - Fiz que sim, apesar de não ter comido nem a metade - Então vamos? - ele estende a mão para que eu a segure, mas não o faço. Viro e falo com Edu.

- Obrigada pelo almoço. Nos falamos depois, certo?

- Claro. Depois - Edu fala sem olhar para mim, encarando Antony - Mas me liga se precisar de alguma coisa. - e finalmente me olha - De um remédio, por exemplo. - ele pisca e volta para a mesa. É regra deixar tudo limpo e é isso que Edu faz.

Vou em direção a saída quando paro. Volto para Edu e ele fica surpreso comigo pois o abraço bem apertado agradecendo de novo o almoço e algo mais que ele provavelmente nem imagina. Ele retribui, soltando um suspiro alto. Desfaço o abraço e sigo com Antony até minha mesa. Os olhares furtivos de todos os lados já não me importa mais, sei o que está acontecendo e decido conversar com Antony o mais breve possível.

Chegando a minha mesa ele senta enquanto desbloqueio a tela do computador. Insere o cartão de memória do invasor e abre as imagens. Muitas nossas dos jantares, em frente a empresa e algumas só minhas, chegando em casa, na casa de Rita. Minhas com Edu. Esse fotógrafo não é repórter, mas se for, não é só essa a sua renda. Uma fúria presa nos últimos dias sobe e esquenta meu sangue. Trinco os dentes, fecho as mãos em punhos e saio em disparada para a sala dos seguranças, onde sei que o estão prendendo, esperando o que fazer.

- Mila! - Antony grita e corre atrás de mim me segurando com força - Ei, o que você pensa que vai fazer?

- Me solta Sr. Daves. Esse assunto não é seu. E já chega disso. Não aguento mais! - Ele vira e me encara.

- Olha Mila. A partir do momento em que tiraram minha liberdade e privacidade é da minha conta também. Não vou deixar barato essa invasão na empresa, nem morto. Portanto, não haja por impulso ou vai se prejudicar. Entendeu?

- Esse cara não é fotógrafo. Suspeito que ele é quem anda me seguindo desde o início. Que foi através dele que Miguel descobriu onde trabalho e moro. Você viu as fotos? Tem data de antes de sairmos. É a mim que ele quer Antony, e ele não vai sossegar até conseguir o seu objetivo.

- Eu também não. - Ele fala num tom sério e seguro de si. Então olha ao redor e percebe a plateia que formamos. Fecho os olhos imaginando essa cena de outro ângulo. Quando tomo outro susto com o grito de Antony.

- Vocês não tem trabalho pra fazer? O show acabou. Vão! - ouço passos apressados para todos os lados. Respiro fundo e abro os olhos com a cabeça baixa. Olho diretamente para o chão. Respiro lentamente para me acalmar. Vou levantando a cabeça até ver um par de olhos verdes me encarando.

- Mais calma agora? - Ele me pergunta sério e preocupado ao mesmo tempo, analisando minha reação a cada piscada.

- Sim, estou. - vou para minha mesa e me entrego ao trabalho novamente.

Doce RemédioOnde histórias criam vida. Descubra agora