Capítulo 23

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- O que você disse? – Falo devagar e baixo, não querendo acreditar no que acabei de ouvir.

- Você sabe muito bem o que eu disse. Até onde me lembro sua audição é perfeita. – Edu fala ríspido e entre dentes.

- Nos conhecemos a meia hora e você acha que sabe tudo sobre mim? Sinto desapontá-lo, mas você não sabe da missa a metade. – respondo da mesma forma.

- Onde está a senhorita "não quero fofocas na empresa" ou "não quero problemas, principalmente com um dos executivos"? Não é a pessoa que está na minha frente. Essa na minha frente parece...

- O que? O que eu pareço? – Enfrento Edu com uma fúria que não conhecia.

- Deixa pra lá. – Ele fala levantando a mão em tom de derrota.

- Mila? Edu? São vocês? – Rita chega meio sonolenta, sem prestar muita atenção no clima entre a gente.

- Nada Rita. Apenas coincidiu de chegarmos juntos. Só isso. Vou entrar. Boa noite, Rita. – Edu fala em um tom seco me encarando, vira e entra.

- Você não vem Mila? – Rita pergunta.

- Já vou. Pode ir na frente, que chego logo atrás de você.

Ela entra e vou para meu refúgio no jardim. Sentando no banco começo a chorar. Nunca fui tratada dessa maneira. Nem mesmo por Miguel. Meus ombros caem a medida que as lágrimas rolam por meu rosto. Uma dor profunda sobe em meu peito, meu coração pesa com as palavras ditas e não ditas de Edu.

Quase não consigo dormir essa noite. Pela manhã digo a Rita que preciso voltar para casa.

- Mas Mila, se aquele maluco vai atrás de você? Sozinha não terá como enfrentá-lo?

- Se ele se aproximar de mim vai preso. A medida de não aproximação já está em vigor lembra?

- Mesmo assim... – ela tenta me convencer a ficar mais tempo. Mas não cedo dessa vez. Não vou suportar ficar sob o mesmo teto de Edu. Ainda mais depois de ontem. E como se tivesse sido convocado, ele entra na sala nessa mesma hora. Me ignorando e me deixando ainda mais furiosa.

- Chega Rita. Estou indo agora mesmo. Não posso passar a minha vida inteira fugindo dele. Senão qual o sentido teria viver?

- Mas...

- Nada de mas ou meio mas. Nos falaremos todos os dias. Você sabe como me encontrar, de qualquer maneira. Seja o que acontecer. – Olho firme para ela.

- Tudo bem. Se não tem nada que faça você mudar de ideia. Vou te ajudar.

Edu apenas observa calado a nossa discussão. Não se intromete, nem faz piada. Alias, acho que nem olha na minha direção. Uma raiva se apossa de mim e subo as escadas correndo, quase caindo no último degrau. Em tempo recorde arrumo minhas coisas e já estou no meu apartamento. Deito na cama e choro mais uma vez, machucada com a lembrança das palavras de Edu.

Meu despertador toca e desligo deitando de novo. Levanto sem vontade, me arrasto para o banheiro. Tomo banho e me arrumo no automático. Chego ao escritório antes do horário e já reviso as minhas tarefas. Meu celular vibra. "Bom dia. Queria dizer o quanto adorei o jantar e o depois. Não paro de pensar em você. Antony" Fecho os olhos encostando o celular na testa. O que eu faço agora? Porque eu correspondi aquele beijo? Então lembro das palavras de Edu "Ambição? Pensei que você fosse diferente." Abro os olhos e respondo "Bom dia. Também gostei do jantar. Mila". Fecho o celular e me concentro no trabalho. "Podemos almoçar hoje? Ou outro jantar depois?" Respirando fundo penso um pouco e respondo. "Outro jantar depois. Tenho um dia cheio hoje e um compromisso na hora do almoço.", menos de um minuto depois chega a resposta. "Aguardarei ansioso ;)". Suspiro e volto a me concentrar no trabalho.

Vou tomar café no intervalo e percebo certos olhares na minha direção. Pessoas cochichando e disfarçando quando passo. Frazindo a testa retorno a minha mesa e pouco tempo depois o Sr. Tomaz me chama em sua sala.

- Feche a porta e sente-se Mila. - seu tom é sério, muito sério. Ele não está fazendo piti ou indo para brincadeiras.

Faço isso e aguardo. Ele parece perdido em seus pensamentos, como se não soubesse por onde começar a conversa. Intercala entre olhar para mim e para a tela de seu computador.

- O que houve Sr. Frederico. – Com a porta fechada, sei que posso chamá-lo pelo primeiro nome. Suspirando forte, para seu olhar em mim e pergunta:

- Mila, o que aconteceu no sábado a noite?




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