Capítulo 8

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Segunda é tranquila com meu chefe viajando. Tenho tudo em ordem com o trabalho então vou tomar um café. Em um corredor vejo Edu cercado por outras pessoas, rindo de alguma piada. Ele me vê e sorri, então pisca. Retribuo o sorriso e aceno com o café. Ele sai de perto do grupo e vem onde estou. Percebo olhares hostis de duas garotas e sorrio, elas se viram e saem.

- Você já arrumou um fã clube?

- O que? Ah, elas? Não, não é isso. Mas meu charme é infalível, O que posso fazer? - Ele dá de ombros.

- Cuidado, Sr. Definido. Você pode cair do pedestal da modéstia um dia e não ter quem te ajude.

- Sr. Definido? - Ele me olha rindo.

- Você e esse corpinho todo definido, pensei assim quando nos conhecemos.

- Ah foi? - Gargalha ele, - bom saber disso.

- Me deixa voltar. Não quero problemas se meu chefe liga e não atendo.

- Vai lá. Almoço?

- Te espero.

- Até lá, então. - Pisca pra mim e sai.

A semana toda almoçamos junto. Rita se juntou a nós na quarta e Ângelo na quinta. Percebi a preocupação deles comigo, mas não tocam no assunto. Não conto os pesadelos ocasionais dessa semana. Não quero lembrar disso.

Sábado é dia de faxina. Ah como gostaria de pagar alguém para fazer isso. Mas não posso, então me conformo, coloco uma música bem agitada para me dar ânimos de começar e mãos a obra. Roupas lavadas, apartamento limpo. Dou graças que é pequeno. Banho e sessão filme no sofá. Meu celular toca e sem prestar atenção quem está ligando atendo.

- Alô?

- Olá gatinha?

Paro de respirar. Miguel. Como ele conseguiu meu número? Mudei assim que terminamos.

- Miguel. - falo quase sem voz.

- Olha só! Ela reconhece minha voz.

- O que você quer? E como conseguiu meu número?

- Sou bom em conseguir coisas. Você sabe disso. Não sou bom em perder e você sabe disso também. - Percebi a ameaça em sua voz.

- Ainda não me disse o que quer.

- Quero ver você. Essa semana. - Fala direto, sem chance para mal entendido.

- Não posso. Aliás, pra você nunca vou poder. Não me ligue mais. Adeus.

- Não desligue! - Ele grita - Você sabe como sou quando me irrito. Melhor não abusar. - Fala em um tom de voz ameaçador.

- Eu chamo a polícia se você se aproximar de mim outra vez. Me esquece Miguel! - Digo alto, quase gritando ao telefone.

- Impossível esquecer você, gatinha. - Ele ri e desliga.

Droga! O que vou fazer agora? Gravo o número dele, pra saber quando me ligar e não atender de novo. Sei que ele vai me infernizar agora. Dou um pulo e grito quando o telefone toca de novo, mas é Edu dessa vez.

- Oi - Falo ofegante por causa do susto.

- Você está bem? - Ele pergunta.

- Estou. Tomei um susto, só isso.

- Posso subir? Estou na frente do seu prédio.

Como assim? O que ele faz aqui?

- Ah... pode, claro.

Abro a porta e ele me olha de cima a baixo.

- Está doente? Estava dormindo? - diz enquanto não tira os olhos do meu corpo.

Olho-me e percebo que estou só de camisola. Enrolo meus braços entorno de meu corpo tentando me esconder.

- Ah... não. Estava assistindo um filme. Entra, vou me trocar.

- Não se incomode comigo... err... por minha causa - Os olhos dele brilham brincalhões. - Que filme estava assistindo?

- Como perder um homem em 10 dias.

- Adoro esse filme.

- Você? - Pergunto desconfiada.

- Acho engraçado. O quê? Não posso? - Ergue uma sombrancelha me questionando.

Rimos e vamos para o sofá.

- Gostei muito da sua camisola. É bem... atrativa. - Ele passa as mãos em minha cintura e pulo.

- Para Edu! Faz cócegas!

O telefone dele toca e ele atende rindo.

- Oi, cara. Não, não vou, podem ir, tenho outros planos. Segredo, não posso revelar. Não sei, talvez não durma em casa. Ok, nos falamos amanhã. - Me olha durante toda a ligação, fazendo careta vez ou outra.

- Segredo? Não dormir em casa? O que foi isso? - Pergunto rindo.

- Posso ficar aqui hoje? - Me pergunta assim que desliga. - É que o Ângelo está me empurrando pra cima de uma amiga, e... bem... ela não é o meu tipo, sabe... Posso? Por favor?

- Sei. Você está fugindo da amiga ou do Ângelo?

- Dos dois. - ele ri.

- Tudo bem. Mas temos que pedir comida. Não tenho nada em casa.

- Por mim, fechado. Pedimos pizza e terminamos de assistir o filme.

Enquanto Edu toma um banho, arrumo o sofá para ele dormir. Relembro a ligação de Miguel e sinto um frio subir pela espinha. Sei que ele está aprontando alguma coisa, só não sei o que é. Ainda não sei como ele conseguiu meu número, não passei para ninguém que ele conhecia. Só no trabalho, meu chefe, Rita e sua família sabem. Abraço o travasseiro enquanto penso nisso tudo.

- Oi? Alguém em casa? - Dou um pulo com Edu atrás de mim. - Nossa desculpa. É que te chamei e você não respondeu.

- Ok. Pronto. Sua cama está pronta. Boa noite. - Saiu entregando o travesseiro a ele.

- Obrigado. Boa noite.

Vou para o quarto e apago.

Gatinha manhosa e teimosa merece castigo. Você vai ficar aí, sem fazer um barulho. Senão...

- Aaaaaa!!!

Acordo gritando. Edu entra de uma vez no quarto, assustado com meu grito.

- O que foi?

Então desabo!

Começo a chorar sem parar. Não consigo dizer nada. Ele vem e me abraça, massageando minhas costas. Dizendo que está tudo bem, que foi só um pesadelo. E choro mais lembrando os olhos pretos de Miguel, me encarando, montado em mim na cama. Edu começa a beijar minha cabeça, descendo pelo meu rosto, meus olhos, diz que está tudo bem, que ele está aqui. Seca algumas lágrimas e faz que vai se levantar. O seguro forte para que ele perceba que não quero ficar só, então ele me abraça apertado até que acalmo e caio no sono de novo.



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