Eu percorro o caminho de um poema perdido...
Percorro o caminho de um poema primeiro perdido e com o tempo da perdição, da distancia, esquecido.
Percorro com a angústia de quem perdeu o mapa de um tesouro, ou a pressa e a esperança dos pelotões que voltam em busca de sobreviventes. Enquanto na memória, agoniza uma lembrança, cada vez menor,
cada vez mais distante e fraca.
Em contra partida uma falsa memória vai construindo, reconstruindo um falso poema, um outro poema que jamais será aquele, ainda que eu me lembre e
recoloque cada métrica, cada palavra naquele que fora seu devido lugar.
Mas este lugar não existe mais, este espaço vai sendo
preenchido em outra folha, em outro arquivo tentando
dizer o que já foi dito, mas diz algo parecido,
diz outra coisa.
Quão controversos e esguios são os caminhos de um poema, pois aquele poema depois de pronto é outro poema que já nem pertence a alguém,
que é dedicado a todas as musas, contra todos os opressores e descreve todos os hipócritas,
e tentar "re-percorre-lo" é percorrer caminho novo, caminho algum, sem mais arquitetura,
sem traços ou cálculos que nos levariam ao mesmo número.
Mas aquele poema perdido nunca mais será escrito, e a vã procura por um inútil oficio de arqueólogo de
palavras, jamais vencerá a palavra dispersa, distribuída. E fica, pois essa anti-matéria a perda, da perda,
de que são feito todos os poemas...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Objeto Quando Esquece
PoetryMantendo vigente um processo antropológico de criação, a poesia continua sendo um cuspe, uma exclamação. Uma poesia material, visual, detalhista, figurativa, uma poesia de madeira e metal. Poesia que dialoga com o espaço físico, tem forma, objetos e...