Rose atravessa a porta e me empurra para longe. As coisas estavam cada vez piores. Só podia ser um sonho, isto não poderia em hipótese alguma ter ligação com a vida real. Fecho os olhos e respiro fundo, seja o que for iria passar.
Não havia motivos para nos mudar, Rose detesta mudanças, e esta foi a primeira vez que nos mudamos, além do mais ela havia dito que gostava do lugar, que era calmo do jeito que ela gosta.
Sinto alguém apertar meus ombros com uma força esmagadora, era Rose, ofegante, me forçando a ficar de pé, me fitando, tensa. Ela balança a cabeça e solta meus ombros, recuando, parecendo retomar a sanidade, eu não tinha reação para aquilo. Talvez correr, mas correr do que exatamente? De Rose, minha tia?
- Isso é loucura, desculpe, eu não estou muito bem. - ela ri sem humor - Calma, calma Cora, não olhe para mim como se eu fosse um monstro, eu estou bem, vamos para a cozinha beber um copo de água. - agora sim, parecia minha tia Rose. Ela desce as escadas, olhando de soslaio para verificar se eu estava a seguindo.
Rose pega um copo na estante e o enche de água, com o olhar distante.
-Team certeza de que esta tudo bem? - pergunto.
Ela não parece escutar, os olhos fixos no lado de fora da janela, a mão ainda na torneira, nem sequer piscava. Um devaneio sem fim, não conseguia ver o que a entretia tanto.
-Não. - ela diz, quase num sussurro - Eu vou me deitar, desculpe pelo susto, era só uma brincadeira. - Rose dá uma risada sem graça, que me causa calafrios. Ela sobe as escadas, como se nada houvesse acontecido.
Aquilo não parecia uma brincadeira, muito ao contrario, era muito sério. Rose nunca havia agido daquela forma antes. E o modo como ela estava aérea, distraída, parecendo ver ou escutar alguém.
Já estava ficando com uma dor de cabeça, como que, cada pensamento que acompanha um longo raciocínio fosse um prego sendo fincado em meu crânio a dentro. Solto um longo suspiro e aperto as pálpebras com as pontas dos dedos, havia coisas demais a se pensar, gostaria de ter com quem discutir tudo aquilo. Subo as escadas e vou em direção ao banheiro, um banho de água fria me parecia uma boa ideia, antes paro em frente a porta do quarto de Rose, que se encontrava trancada, não conseguia ouvir nada de lá de dentro, talvez ela realmente tenha desistido de fazer as malas e ido dormir.
Depois de tomar banho e me trocar, me sento na beirada da cama e apoio os cotovelos em minhas pernas, coloco as mãos na cabeça. Tinha que colocar algumas ideias no lugar, e rápido, deixo a porta aberta para ver se Rose sai do quarto - já fazia quase uma hora que estava lá dentro - o sol começava a se pôr.
Ainda não havia conseguido tirar as palavras de Ana da cabeça, iam e viam, procurando significado. O que eu iria descobrir em breve?
Minha cabeça começava a latejar novamente, e meu corpo inteiro doía, o dia havia sido longo demais, tenso e frustrante demais. Alguns minutos depois adormeço e entro em um estupor que parecia não ter fim.
Vejo Ana ao longe, conversando com alguém, parecia nervosa, andava de um lado para o outro, não conseguia ver com quem falava, mas falava sem parar, gesticulando com as mãos. Ela estava dentro de uma sala pequena e cinzenta, sem móveis, apenas uma janela no canto superior.
Ana sai da sala e vai em direção a alguém e diz:
-Ela tem certeza, não consigo convencê-la, ela sabe o que quer e disse que irá fazer isso com ou sem nossa ajuda.
Só conseguia ver Ana, as outras duas pessoas com que conversava pareciam estar no escuro. Ana não espera a resposta e vai em direção a sala novamente, e então eu vejo, vejo com quem ela falava e gritava a plenos pulmões.
Era eu. Sou eu.
De braços cruzados, esperando em silêncio. Era eu.
E então tudo se apaga novamente e volto a inconsciência de um sono profundo.
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Sem Limite
Science FictionLivro original (NÃO É FANFIC). Plágio é crime. Após perder sua memória,Cora é mandada para uma terra que lhe parece conhecida.Ao encontrar Ana começa a descobrir suas verdadeiras raízes.