Capítulo 16

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Aparentemente o policial não parecia muito preocupado com a situação. Apenas assinou alguns papéis e me fez algumas perguntas e depois de alguns minutos entrou em sua viatura e saiu.

Já havia perdido o dia de aula, o sol já estava quase se pondo no horizonte. Nesse meio tempo me ocupei arrumando a bagunça que havia feito por causa da tal carta, que por sinal me deixou mais confusa do que a situação em que me encontrava deixou.

Não queria dormir ali sozinha, mas não conhecia ninguém a quem recorrer, e não iria para casa de Ana. Ou iria?

Ana não tinha feito nada demais, ela mesmo disse que não fez por querer, e eu estava a beira da loucura, precisava conversar com alguém.

Estava com medo de Rose aparecer e eu não estar aqui, mas tinha que correr o risco. A cidade estava estranha desde que ela desaparecera, ou pode ser apenas coisa da minha cabeça, preferi a última opção.

Juntei algumas coisas que achei que precisaria em uma mochila e peguei a carta que havia encontrado debaixo da mesa e o celular. Achei melhor não ligar pois correria o risco dela não me aceitar em sua casa. Pego as chaves e fecho a porta, já eram quase sete da noite e fazia frio, puxei o capuz para aquecer minhas orelhas e comecei a andar mais depressa.

A casa dela não era muito longe, então não me cansei com a caminhada.

É uma casa normal, como as outras do bairro, com a pintura um pouco desgastada e com uma grande varanda. A picape estava lá, sinal de que ela não havia saído. Dou um longo suspiro, me preparando para um longo discurso ou para um xingamento.

Dou um pulo para trás quando a porta é aberta de repente, antes mesmo de eu bater.

-Já estava na hora de você aparecer. - cochicha Ana, puxando-me para dentro.

-Como você sabia que eu viria? Eu nem te liguei. - disse, tentando ajustar meus olhos ao ambiente escuro que se encontrava sua casa.

-No começo achei que seu orgulho não deixaria, mas aí me lembrei que você não é muito orgulhosa. - ela disse, aparentemente esboçando um sorriso travesso. Ouço um clique e então as luzes acendem me deixando zonza por alguns segundos.

-Tudo bem então. Por que eu vim?

-Não sei, acha que eu sou o que? Adivinha? - ela riu com a última palavra, mas para assim que vê minha reação.

-Eu preciso de um lugar para domir, posso ficar aqui?

- Claro, mas por que? E sua tia? - ela perguntou, assumindo uma expressão de preocupada.

- Só esta você aqui? E seus pais? - pergunto, olhando os cômodos da casa.

- Você não respondeu a minha pergunta.

-Eu não sei, ela sumiu, desapareceu, sei lá. Quando acordei ela não estava mais lá, e não apareceu até agora. - digo.

Ana não parecia muito impressionada, sua face continuava tranquila. Ela tinha o rosto sereno, com uma paz inabalável. Parecia estar pensando.

-Talvez ela... Esteja perdida? - disse sem muita convicção.

Duvidava muito que ela estivesse perdida, Rose era mais esperta que isso.

-Vem, vamos subir, o que você trouxe aí? Ta com fome? A gente pode pedir uma pizza, ou comida chinesa. - e Ana foi falando e falando enquanto subíamos as escadas rumo ao seu quarto.

- Cadê seus pais? - perguntei, quando me dei conta da ausência de adultos no recinto.

-Por aí. - ela disse simplesmente. Pelo visto eu não era a única sem responsáveis ali. Minha garganta secou. E se ela tivesse mentido sobre toda aquela história de "pai trabalhador e mãe doente"? Senti a dor no pescoço que à algumas horas havia me abandonado. Enforcamento. Dedos fortes. Sensação de sufocamento. Ana.

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