Capítulo 23

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Ouço a porta se abrindo bruscamente e me viro.

- Ah! Já acordou, espere aí, já volto. - Luke se vira e fecha a porta novamente.

Alguns minutos depois ele retorna, sorrindo, mesmo que seu rosto demonstre que não dormiu nada, e com os cabelos bagunçados.

- Onde está Ana? - pergunto.

- Ela foi olhar o movimento. - ele diz simplesmente, como se dissesse "bom dia".

- Que tipo de movimento necessariamente? - Luke me encara por alguns segundos, como se me avaliasse, o que me deixa incomodada, mas não baixo o olhar, ainda quero minha resposta.

- Sabe, você ainda é muito curiosa. -  ele diz e sorri. Um sorriso lindo, ouso dizer.

Luke continua em silêncio, então a melhor estratégia seria mudar de assunto afinal. Me sento na mesa e começo a remexer nas pilhas de papéis.

- Então... Para que servem esses mapas? - pergunto. Silêncio. Depois de alguns segundos ele se senta de frente para mim.

- E sua cabeça? Parou de doer? - então ele também quer desviar esse assunto, ótimo, Ana poderia me responder.

-Parou. Com licença, vou procurar Ana. - digo e me levanto. A cada minuto que se passava eu estava mais curiosa e ficar conversando banalidades com Luke não resultaria em nada.

Saio para a varanda da casa e sinto uma brisa gelada, encolho-me e começo a andar em direção á rua. Por sorte eu havia vestido um casaco antes de sair ontem. A rua estava estranhamente vazia, ainda era cedo, mas esperava-se que tivesse alguém colocando o lixo para fora ou algo assim.

O movimento na rua me faz pensar nas respostas vazias que Ana  e Luke me deram, e sobre perguntarem se eu confiava neles. E o mundo não parecia diferente, parecia normal, até onde vejo. Algumas coisas faziam realmente sentido, como por exemplo, eu não me lembrava muito de minha infância. Lembro do primeiro dente de leite que caiu, do primeiro dia de aula e mais algumas coisas, mas não lembrava de como era a casa em que cresci, ou o bairro, nem o nome de alguma professora, ou escola em que tenha estudado. Nada tinha uma ligação, ou uma linha de seguimento exato. Será mesmo que alguém seria capaz de fazer isso? Apagar todas as reais memórias e lembranças de uma pessoas e substituí-las? Parecia cruel, doentio. Queria descobrir mais, precisava.

Ainda não sabia o que fazer, e a lista de problemas aumentava: minha suposta tia desaparecida, duas pessoas dizendo que tinham as respostas que eu precisava, e uma carta misteriosa no bolso da calça. A carta... Não sei se posso compartilhar a informação contida nela com alguém, e não sabia o que fazer com ela. Não podia confiar muito no meu cérebro, e não tinha muitas informações .

Olho ao redor e só vejo uma longa estrada vazia, sem casas, acho que andei muito, e provavelmente não sabia como voltar. Comecei a voltar por onde talvez tinha vindo, mas não estava dando muito certo.

-Você está aí, ainda bem que te achei - Luke diz quando o avisto - Vamos, descobrimos uma coisa.

Concordo e o sigo de volta para a casa de Ana. Vamos direto para a cozinha, e vejo Ana olhando os mapas com indignação.

-Droga Luke! Até os mapas daqui são diferentes, não dá nem para saber o que é isso ou aquilo. - Ana dispara, continuo observando-a enquanto Luke junta os mapas e os guarda. - Oi Cora, como foi o passeio matinal? - ela brinca.

-Luke disse que você descobriu uma coisa, é sobre Rose? - vou direito ao assunto.

- Na verdade, a gente resolveu dizer tudo o que sabe de uma só vez para você, sem rodeios, acho que você gostaria que fosse assim, certo? - ela diz, e assinto com a cabeça, eu gostaria mesmo de entender tudo.

-Bem, vamos começar do...começo. Nós três não somos daqui, nem você, apesar de achar que se mudou para cá a pouco tempo. Não estou dizendo que somos de outro país, ou estado, nem de outro planeta. Estou falando de outra dimensão, isso te lembra alguma coisa?

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