Capítulo 15

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Depois de entrar e vasculhar a casa novamente, decido comer alguma coisa, meu estômago já doia e a pequena corrida havia consumido minhas forças.

Sento-me na mesa e começo a comer uns improvisados ovos mechidos, bato a perna sem querer na mesa, que solta um baque surdo e oco, abaixo a cabeça para ver em que bati, aparentemente nada. Deslizo a mão pela superfície de madeira: nada. Bato a mão em vários lugares, até que no meio da mesa, ouço o baque surdo novamente, apenas naquele lugar. Deve ser algum erro de fabricação... Ou não. Esperar Rose já havia ficado exaustivo, pego uma faca no balcão e viro a mesa, três golpes no centro e várias lascas de madeira no chão revelaram-me um compartimento minúsculo e imperceptível. "Um belo erra de fabricação ", penso. Puxo o compartimento para fora e abro-o com a faca, era um envelope, um pouco velho e desgastado pelo tempo, escrito com tinta preta, sem remetente ou destinatário.

Abro sem hesitar e leio o que esta escrito.

"A você que foi esperto o suficiente para achar esta carta.
Peço que a entregue para uma de minhas filhas, se as encontrar,peço também que cuide delas, pois elas significam muito para mim.
Tudo virou uma bagunça, e sinto um enorme remorso ao dizer que a culpa de tudo isto é minha. Juro que tinha boas intenções, e espero que no futuro, minha família me perdoe.
Não posso dizer muito, mas aviso-lhe que tome cuidado, uma vez dentro, nunca mais poderá sair, eu mesmo já tentei, esta fora de controle.
Espero que alguem, algum dia, consiga consertar meus erros e espero que nesse dia minhas filhas estejam a salvo. Não sei se estarei vivo, mas tenho certeza de que minhas pequenas gêmeas estarão, e a salvo. Fiz tudo isso pensando nelas, pode parecer cruel separá-las, mas foi o certo a se fazer, assim ficarão seguras. Ache-as, e as coloque juntas novamente, mostre esta carta, se precisar force-as a isso.
Quando pequenas, forcei-as a separarem-se, agora, quero-as juntas, elas saberão o que fazer, JUNTAS, não separadas.
Não é mero acaso. Se você achou esta carta e a esta lendo é tarde demais, você já esta plenamente envolvido.
Talvez não queira fazer isso, mas o mundo é cruel e, se quiser viver, vá atrás de minhas filhas.
Ou será tarde demais.

Assinado: Francis Mercur "

O que ele queria dizer com isso? Dentro de que? Ele não pode simplesmente ameaçar a vida de alguém, só por que acha preciso. Ele nem deve estar vivo. Mas provavelmente suas filhas estão.

Me recuso a acreditar que esta situação é real. Tudo: a carta, o sumiço repentino de Rose.

Pego o celular e disco o número da Polícia local que chega depois de alguns minutos.

Um homem com olhos cansados desce da viatura com uma pequena prancheta, abro a porta e ele faz uma pequena reverência.

- Olá, foi daqui que veio o relato de um desaparecimento? Que ocorreu a menos de cinco horas?- ele pergunta olhando ao redor.

- Sim, foi eu que liguei, minha tia saiu e não apareceu até agora.

- Vocês se mudaram para cá a pouco tempo? - ele pergunta, com um olhar distante porem focado.

- Sim, fazem apenas alguns dias. - respondo, já estava impaciente com aquele homem, quando iam começar as buscas?

- Já pensou na hipótese de que ela pode ter se perdido garota? - ele diz com um sorriso debochado.

Por que eu fui chamar a Polícia local? Aprendi nos filmes que os policiais de cidades pequenas costumavam ser incompetentes. É uma forma ignorante de se pensar, é claro, mas o homem não demonstrava o contrário. Não digo nada, apenas o olho com firmeza, deixando claro que a situação é séria.

- Tudo bem - ele levanta as mãos, finalmente se dando por vencido - An... Posso dar uma olhada na casa?

Assinto com a cabeça e abro caminho para que ele possa passar.

Sem LimiteOnde histórias criam vida. Descubra agora