Capítulo 7

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Minha primeira aula é de Matemática, ótimo. Espero que a Senhora Márcia não tenha reparado que eu a encarei toda a aula passada.


Para minha surpresa Márcia não estava lá, em vez dela, encontrei a diretora Michelle sentada com as mãos sobre a mesa, um pouco nervosa pelo modo como balançava as pernas em vai-e-vem.

Os alunos vão entrando e se organizando em seus lugares rapidamente. Me sento na mesma carteira de ontem. Queria saber o que havia acontecido com Márcia. O olhar apreensivo de Michelle pairava sobre o ar, causando agitação em alguns alunos, que se questionavam, como eu, o que estava acontecendo. Ela decide se levantar, agora parecia mais alerta do que apreensiva, dá passos lentos até a frente da mesa onde se encontrava, passa o olho nos quatro cantos da sala e dá um longo suspiro.

-Bem, vocês já devem ter visto o carro da polícia na porta de nossa escola. - a agitação começa novamente, todos cochichando ao mesmo tempo, Michelle fica inflamada de raiva, parecia que estava a ponto de sair fora de si, os alunos percebem e logo cedem ao silêncio novamente.

-Obrigado. - ela suspira novamente.  Aquilo estava começando a me deixar preocupada, primeiro a queda de energia, depois a polícia na escola e agora isso. Michelle se recompõe e continua. - Onde eu estava? A sim, bem, a polícia está apenas checando se está tudo bem, por causa da queda de energia, é claro, podem ter acontecido roubos e entre outras coisas, eles estão passando em todas as salas, por favor não se alarmem, é só isso. Agora...

-O que aconteceu com a Senhora Márcia? - alguém grita do outro lado da sala. Ainda bem que alguém teve a coragem de fazer esta pergunta, eu também estava curiosa a respeito disso.

-Ela não pôde comparecer, é o que eu posso te dizer. - ela sorri, mas não um sorriso de verdade, mas sim um misto de nervosismo, sarcasmo e preocupação, ela não perde tempo e sai da sala ás pressas.

A agitação começa novamente, boatos e cochichos aqui e ali, alguns falando absurdos como que Márcia havia sido abduzida ou sequestrada e outros mais convincentes como que ela estava doente ou havia viajado.

Me lembro que as minhas aulas de matemática eram todas juntas com as de Ana, porém ela havia me dito que tinha aula de física, será que houve algum problema?  Ela mudou de horário? Difícil, não se é possível mudar de horário tão rápido. De repente a vejo na porta da sala, um pouco apressada. Ana vem até mim e quando vê que tem alguém na carteira da frente manda que a pessoa saia, ela olha para todos os lados da sala, depois se senta de lado na cadeira e começa a falar baixo.

-Nós temos que sair daqui, não faça perguntas até eu disser que estamos seguras, se você entendeu balance a cabeça positivamente duas vezes. - ela sorri e acena para alguém na sala. Não conhecia Ana direito, mas aquela não parecia ela, como eu poderia confiar nela? A encaro por alguns segundos enquanto ela ainda encara o nada e acena para os demais. Resolvo ver o que está acontecendo e balanço a cabeça como ela pedira.

Ana sorri largo e se volta para mim. Não estava entendendo nada, o que ela queria dizer afinal, será que ela fez alguma coisa ou cometeu algum crime e está tentando fugir da policia ? E por que logo eu tenho que sair da escola com ela? Eu mal a conhecia, só peguei uma carona até o colégio, agora sou cúmplice.

-Ótimo - Ana volta a falar e se vira novamente - Escute bem o que você vai fazer: daqui a dois minutos eu irei me levantar, após trinta e dois segundos você irá se levantar discretamente, não pare para conversar com ninguém, se alguém sorrir, sorria de volta, vá até o estacionamento e entre no carro e me espere, por favor não corra até lá, ande devagar, entendeu? - ela olha para mim novamente.

Não sabia o que fazer então apenas concordo. Ana se levanta e logo depois o medo começa a me engolir pouco a pouco.

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