Dois meses depois.
A primeira pior coisa que poderia acontecer no meu primeiro dia de aula era chegar atrasado. Mas com a minha sorte, ou melhor dizendo, total falta dela, eu cheguei quase trinta minutos atrasado.
Tive que bater na porta da sala e perguntar ao professor se eu podia entrar. Como era ainda o primeiro dia, ele deixou, mas avisou para eu chegar cedo nos próximos dias.
Não pude deixar de notar todos os olhares sobre mim enquanto eu entrava na sala e sentava-me em uma cadeira no final do primeiro corredor.
A segunda pior coisa que poderia acontecer em meu primeiro dia de aula era ser, no último ano do ensino médio, trocado de turma. E eu fui. Eu estava em uma turma totalmente nova. Eu não conhecia quase ninguém daquela sala. Alguns eu conhecia de vista, mas nada além disso.
E a terceira pior coisa que poderia acontecer em meu primeiro dia de aula era sentar-me na frente de Tate Trindade. O famoso "TT". E eu precisava dizer que estava em sua frente? Não havia outra cadeira vaga, logo ali era minha única opção.
Senti quando Tate colocou seus pés nas pernas da cadeira que eu estava sentado. Ele havia colocado tanto impulso que minha cadeira arrastou centímetros para frente.
Me virei para encará-lo e ele mascava um chiclete.
- Perdeu o quê, Duarte? - a voz de Tate era intensa, temporal e ao mesmo tempo apressada. Duarte era meu sobrenome, coisa que eu nem sabia que ele sabia sobre mim.
Tate era repetente, no ano anterior havia perdido. Estando no terceiro ano o cara perdeu. Era ser muito otário mesmo. Com isso e pelo que eu sabia dele, ele já tinha completado 18 anos.
- Dá pra tirar seus pés da minha cadeira? - tentei soar firme.
Tate, convencido como eu imaginava que era, se aproximou de mim, colocando quase todo seu peso sobre seus braços em sua mesa e sorriu de canto.
- Não. - e se sentou normalmente, sorrindo.
Tate era alto e largo, mas não gordo, porém forte. Ele parecia ter facilmente uns 20 anos e não completado recentemente 18. Sua pele era bronzeado, seu cabelo estava quase sempre muito bagunçado e era tão preto quanto seus olhos.
Seus braços eram puro músculos, como parecia ser o resto de seu corpo. Contudo não era de uma forma exageradamente forte, era normal, mas bem definido.
Suas mãos, que estavam em cima da mesa, eram grandes. Poderia dizer atraentes? Talvez.
Tate se vestia no colégio como se fosse para uma festa. Calça skinny, camiseta de mangas curtas sempre de grife e as vezes até mesmo uma jaqueta de couro.
Diziam que ele não tinha uma namorada, porque tinha várias ficantes esporádicas. O colégio inteiro nunca viu Tate Trindade com uma garota duas vezes.
As vezes eu queria ser como ele.
Normal. Convencido. Pegador.
Talvez se eu fosse como o Tate eu não estivesse agora usando uma camisa de flanela de mangas compridas para esconder as marcas em meus pulsos. Marcas que eu tinha feito em mim mesmo.
Quando eu estava a ponto de me virar para frente, o professor praticamente gritou:
- Gregório Duarte e Tate Trindade. Já que vocês já estão conversando, podem muito bem fazer a dupla juntos.
Dupla? Que diabos de dupla era essa que ele estava falando?
Pensei em abrir a boca, questionar sobre algo para o professor de anatomia humana, porém Tate tomou a voz:
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Este é o porquê da minha morte
Teen FictionQue tal começar um livro já sabendo o fim? Afinal, este é o porquê da minha morte.