Eu me achava um bom amigo, até perceber que não era. Eu era tão hipócrita que sequer dava-me conta disso. Eu pedia atenção, falava dos meus problemas e esquecia que meus melhores amigos também tinham os deles e me ouviam calados porque eu não lhes dava chance de falar.
Eu era um hipócrita e um péssimo amigo. E o pior era que eu só percebi isso quando Peach gritou na minha cara.
Estávamos saindo juntos do colégio, eu, Luigi e Peach e eu falava que estava preocupado com Tate por ele ter faltado a aula daquele dia, não contei sobre ele ter sido espancado pelo seu pai e não falaria aquilo, era pessoal demais, porém, enquanto eu e meus amigos caminhávamos para longe do colégio eu era um único que reclamava minhas preocupações para o mundo.
Ambos estavam tão calados que eu não me dei conta. Simplesmente falava, como se estivesse sozinho e não me importava que eles não dessem opiniões. Retrucava e retrucava meus problemas...
Até que Peach bateu em meu ombro e falou baixo, como poucas vezes ela falava, era uma confissão:
– Nossos pais vão se separar.
Engoli em seco e parei de falar encarando meus amigos cabisbaixos. No fim fiz a pior besteira que eu poderia pensar em fazer.
Dei de ombros e disse, praticamente fazendo pouco do que ela me dizia:
– Queria eu que os meus se separassem.
Não, não era que eu não me importava com o que ela estava me contando, mas era que eu literalmente queria que meus pais se separassem, no entanto, aquela não era hora de falar sobre mim ou sobre minha vida e muito menos sobre meus pais. Meus amigos sabiam e muito o quanto minha família era complicada, porém, naquele momento o problema eram eles e não eu, mas eu, sem querer, o transferi para mim, não tendo a sutiliza nem de perguntar o que eles sentiam sobre isso.
Peach abriu a boca e apontou um dedo na minha cara enquanto sua outra mão estava em sua cintura. Ela parou na minha frente, fazendo-me parar de andar para não me esbarrar nela. Eu até riria se não notasse que ela estava séria e verdadeiramente magoada. Tardiamente notei que suas olheiras estavam mais profundas naquela manhã, mesmo ela sendo negra não escondia suas intensas olheiras.
– Você é um hipócrita e prepotente de merda! – e sem me dar chance para responder ela virou-se e começou a correr fazendo sua mochila pular e bater em seu corpo a cada passo.
Ela era horrível correndo e muito mais desengonça que eu, por exemplo. Porém, o problema não era seu modo de correr bizarro, era ela correr. Se Peach corria, era porquê ela queria fugir de algo sério. Naquele instante eu soube que a separação de seus pais doía muita mais nela do que eu imaginava.
Peach corria para fugir de mim, da minha hipocrisia e prepotência, e para ficar sozinha com seus próprios pensamentos.
Quando dei um passo para correr atrás dela, Luigi me parou e negou com a cabeça.
– Deixe ela ir.
Assenti e Luigi agarrou meu braço, antes que ele falasse qualquer coisa eu me adiantei:
– Quer dar uma volta?
E foi a vez de meu amigo assentir.
☄☄☄
Enquanto Peach era o caos, Luigi era a paz. Contudo, eu não conseguiria dizer qual dos dois eu mais amava. O jeito barulhento de Peach me alegrava tanto quanto o jeito mais sereno de Luigi.
Eram os melhores amigos que eu, um hipócrita-prepotente, poderia ter.
Eu e Luigi sentamos no banco do lado do parque do qual já tínhamos vindo para beber com Tate, o dia que ele me deu um beijo de três segundos. Bem, não um beijo, mas um grudar de lábios, um selinho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Este é o porquê da minha morte
Teen FictionQue tal começar um livro já sabendo o fim? Afinal, este é o porquê da minha morte.