Mila não me deixou lavar os pratos, mas não porque eu era visita, mas porque, segundo ela, ninguém lavava e arrumava os pratos no escorredor como ela. Não discuti, fingindo acreditar no que ela dizia, mas não tendo muito sucesso quando ri.
Eu estava escovando os dentes com uma escova nova que Mila me emprestou e tentando, fervorosamente, não me olhar no espelho.
Depois de escovar meus dentes e guardar a escova em um pequeno armário, eu repousei minhas mãos na pia do banheiro, deixando minha cabeça baixa e encarando as gotas de água que escorriam para o ralo. Já tinha trocado de roupa mais uma vez, vestido agora uma calça jeans e uma camisa de mangas. Nada diferente do meu comum.
Aquela minha camisa de mangas estava maior do que eu me lembrava, tanto que as mangas cobriam metade de minhas palmas. Fechei meus punhos, sentindo o pano de minha roupa aliviar meu cravar possessivo de unhas.
Não doía. Ou doía e eu já não sentia nada.
Seria normal um ser humano não sentir nada?
Meu corpo estava quebrado e dolorido, eu sentia isso, mas era como se aquela dor não fosse importante. Mentalmente eu não conseguia me concentrar em nada além da pia molhada das gotas que já tinham descido pelo ralo.
Minha mãe viria até mim.
Era o que eu tentava pensar. Era meu bálsamo. Minha salvação naquele momento decadente de minha vida onde eu dependia da casa de uma pessoa que sempre me humilhou. Ou seria melhor dizer, uma pessoa que nunca fez nada para parar com que os outros faziam?
Minha mãe largará meu pai.
Era o que eu queria que ela fizesse. Era o que eu esperava que ela fizesse.
Minha mãe o denunciará.
Eu e minha mãe, sozinhos, poderíamos viver bem. Felizes? Eu não sabia. Mas bem, sim. Eu acreditava nisso. Eu queria acreditar nisso... Eu precisava acreditar nisso.
Afinal, o que mais eu tinha além de um punhado de esperanças?
– Greg... – era a voz de Mila, meio diferente do comum – Você pode vir aqui?
Engoli em seco e abri minhas palmas, as sentindo suadas e as limpei em meu jeans, saindo, ainda de cabeça baixa, do banheiro.
– Oi... – reconheci a voz de TT assim que cheguei a sala, mas, quando levantei minha cabeça vi que ele não estava sozinho, ao seu lado estava Peach e Luigi.
Peach levantou um dedo e abriu a boca, mas quando parecia que ia dizer alguma coisa, provavelmente, discutir comigo, ela abaixou seu dedo e fechou sua boca, em seguida, caminhou rapidamente até mim, me puxando para um abraço, do qual ela me apertava pela cintura.
Eu sorri e a abracei de volta, quase a sufocando pelo pescoço, porém, ela não reclamou e me apertou mais, deitando sua cabeça sobre meu coração.
– Eu te odeio tanto! – Peach sussurrou e eu ri, no entanto também senti meus olhos lacrimejados – Mas te amo tanto também! – completou e apoiou seu queixo em meu peito, me encarando – Não vá atrás de estranhos na rua, Greg. Venha sempre até mim e Luigi.
– Não era um estranho, era Diogo, um amigo de Tate. – me defendi.
– Amigo de Tate, não seu. – Peach rebateu e se afastou de nosso abraço, colocando suas mãos em seus quadris.
Luigi veio logo atrás e também me abraçou, mas, diferentemente de Peach, não me apertou.
– Ficamos preocupados quando você não apareceu no colégio. – ele disse – Não sabíamos onde procurar, mas Tate resolveu tentar falar com um de seus amigos e... Aqui estamos!
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Este é o porquê da minha morte
Teen FictionQue tal começar um livro já sabendo o fim? Afinal, este é o porquê da minha morte.