Minha mãe não fez nada do que eu imaginava. Antes de tudo eu esperava que ela levemente surtasse, que se afastasse de mim ou viesse correndo até mim sacudindo meus ombros. No entanto, sua boca entreaberta se fechou e ela entrou no quarto com cuidado, olhando para o chão, provavelmente procurando outras coisas cortantes.
Devagar, ela parou do meu lado e estendeu suas mãos, não esperou que as pegasse para segurar as minhas e me puxar para ela. Ainda devagar, sempre devagar. Não era como se eu fosse quebrável, era cuidado e delicadeza. Era bom.
Ela passou meus braços em sua cintura e abraçou minha cabeça. Eu era quase da mesma altura que ela, na verdade, um pouco maior, mas, abaixei minha cabeça, deixando-a deitada em seu ombro.
– Eu estou com você. – uma de suas mãos repousaram em minha cabeça, a outra desceu pela minha coluna em um carinho sereno – Você não vai se sentir assim para sempre, lembre-se que você é importante, você é amado.
Uma parte de mim queria ri, minha mãe parecia ter lido, dessa vez, os panfletos certos ou talvez, o meu atual psicólogo, que, às vezes, conversava com minha mãe, era melhor do que eu imaginava.
No fim, não ri, apenas a apertei mais em meus braços. Seu cheiro era um misto de lavanda e café. O cheiro de lavanda emanava de suas roupas, mas café parecia ser seu perfume. Deveria ser o contrário, mas não era.
Senti as lágrimas de minha mãe passando pelo meu rosto. Era quase como se um pingo discreto de uma chuva fina caísse sobre mim. Seu abraço ficou mais apertado e eu retribuí na mesma intensidade.
Tentava não pensar em meu pai e não focar em nada além de mim e minha mãe. Eu poderia ser egoísta por meus pensamentos, mas eu precisava daquela paz mental. Eu precisava acreditar que havia esperança para um futuro, do qual, eu não me sentisse mal, eu não me sentisse desmotivado para simplesmente acordar.
– Amanhã, assim que acordamos, iremos para psicólogo. – minha mãe avisou se afastando do nosso abraço e segurando meu rosto com suas mãos.
– E o colégio?
Ela sorriu.
– Como você vai para o colégio sem mochila, menino?
Eu sorri de volta.
– Certo! Psicólogo antes de tudo então.
Ela acenou.
– Você sabe que ele vai querer que você tome remédios, não é? – assenti – Eu não posso imaginar o quão ruim isso soa para você, mas, filho, é necessário e não será para sempre. Iremos sair dessa, já passamos por coisas pior.
– Mãe, – comecei, envergonhado e ela esperou que eu continuasse – posso dormir na cama com você hoje?
Era patético, era. Era infantil, era. Mas eu nunca tive tempo com minha mãe. Eu nunca fui próximo de minha mãe. Eu não queria perder aquela oportunidade, mesmo que parecesse ridículo e tardio.
Minha mãe sorriu e confirmou com sua voz baixa, talvez houvesse um pouco de vergonha nela também.
Ela sofria por todos esses anos tanto quanto eu. Sua dor era tão profunda quanto as minhas. Porém, mesmo diante de tudo, minha mãe se manteve em pé, aguentou até o último segundo um casamento fracasso que eu sempre acreditei que era por minha causa e, agora, eu entendia que não era somente isso. Minha mãe tinha um tipo de dor diferente da minha, um tipo de baixa autoestima também diferente da minha.
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Este é o porquê da minha morte
Teen FictionQue tal começar um livro já sabendo o fim? Afinal, este é o porquê da minha morte.