Assim que entrei em casa minha mãe me pediu para ajudá-la com o jantar, avisei que tomaria um banho antes e quando eu esperava que ela assentisse e me deixasse ir sem discussão, minha mãe indagou:
– Onde você esteve?
Estávamos na cozinha e eu tinha acabado de colocar as sacolas sobre a bancada da pia. Minha mãe já estava abrindo uma sacola, mas, seu corpo estava parcialmente virado para mim enquanto também me olhava.
Eu não estava exatamente surpreso com sua pergunta, no entanto, depois de tantos anos me sentindo ignorado pela minha própria mãe, aquilo, foi algo diferente, quase, especial.
Eu passei muito tempo sem entender que minha mãe, na verdade, não me dava liberdade demais, ela me libertava. Me libertava para ficar por horas a fio na rua, porque somente assim eu me manteria longe de meu pai.
Ela era tão vitima quanto eu, ainda mais vitima quanto eu e sofria calada inúmeros abusos de seu marido enquanto eu estava na rua.
Infelizmente, se eu estivesse em casa, eu continuaria sem poder fazer nada sobre.
Mas talvez eu devesse ter tido consciência antes e ficado mais em casa antes. Eu seria o balsamo de minha mãe, mas eu não fui. Eu não fui nada. Deixei o martírio sobre seu casamento decadente sobre ela, sem servir de apoio, passando mais horas na rua do que dentro de minha própria casa.
Eu sinto muito, mãe; eu gostaria de dizer, mas nunca sabia por onde começar; eu sinto muito por ter sido um péssimo filho.
Mas agora, eu estava ali, na cozinha, com ela e sozinho. Não havia mais medo. Não havia mais pressa. Meu pai não chegaria daqui há alguns minutos possivelmente bêbado enquanto reclamava sobre o trabalho e mandava minha mãe preparar sua comida.
Agora, seria diferente.
Ou assim eu esperava.
– Eu fui do trabalho ao psicólogo e depois vim andando, devagar para cá.
– E como foi no psicólogo? – dessa vez ela parou de tirar coisas da sacola, apenas puxou o saco de uma vez e o enrolou em sua mão, virando mais seu corpo para mim.
– Como foi no psicólogo? – minha mãe voltou a perguntar enquanto eu divagava em meus pensamentos.
– Foi... interessante. – me limitei a dizer.
Às vezes eu pensava que minha mãe era aconselhada por um psicólogo louco – ou tinha sido –. O que ele diria a ela?
"Não fale com seu filho?"
"O deixe horas na rua e não pergunte para onde ele foi?"
"Seja ausente! Tão ausente que fará ele pensar se você ainda se importa."
Sim, mãe, se você não falar nada eu acharei que você também é uma das que não se importam. Por favor, se importe!
Estava a ponto de sair da cozinha, meio cabisbaixo e de maneira rápida. Eu esperava que minha mãe se importasse, insistisse para eu falar sobre mim, porque, se ela não fizesse isso, eu não conseguiria falar.
Por que falar quando a pessoa que você quer que te ouça, não te ouve?
Virei meu corpo em uma volta 180º, de uma jeito devagar, mas não obviamente devagar. Se eu esperava que naquele meio tempo minha mãe me perguntasse algo? Óbvio. Eu queria isso.
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Este é o porquê da minha morte
Teen FictionQue tal começar um livro já sabendo o fim? Afinal, este é o porquê da minha morte.