22 - Foi Mal

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O tom deste capítulo é um pouco mais sério, mas, como costumo dizer, é necessário.

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***

Não demorei muito no banheiro e decidi, para minha sanidade mental, não me olhar mais no espelho. Escovei meus dentes com dedo, porque, além de não querer voltar para o quarto para procurar na mochila uma escova, eu estava com pressa para sair de uma vez do banheiro, mais precisamente me afastar de meu próprio reflexo.

Lavei meu rosto apenas com a cabeça baixa, como se estivesse em um filme clichê de terror e que, assim que eu levantasse minha cabeça e olhasse para o espelho, encontraria alguém atrás de mim. O problema era que eu estava com medo de olhar para mim mesmo.

Saí do banheiro ainda de cabeça baixa, encarando meus pés pálidos descalços em contraste com o piso marrom, borrado. Enfiei meus braços para dentro da camisa, escondendo meu corpo o máximo que conseguia e voltei a segurar a calça que insistia em cair.

Me distrai nos desenhos confusos do piso enquanto passava pela sala e entrava na cozinha. Não queria pensar no que fazer hoje ou no que não fazer. Não queria pensar na conversa que teria com minha mãe, se teria. Não queria pensar em quando encontrasse Luigi e Peach... No fim, não queria pensar em nada sério, mas quanto mais eu tentava não pensar, eu pensava.

Quando dei dois ou três passos curtos para dentro da cozinha e ouvi uma garganta ser arranhada.

– Ah... Oi! – falei, levantando minha cabeça – Eu achei que você já tinha saído. Desculpe. – não tive a intenção de pedir desculpas tão baixo e tão sem graça, mas falei enquanto já me virava para voltar ao quarto.

A mão de Maycon me parou, segurando meu ombro, não foi bruto, tampouco foi gentil, apenas o suficiente para eu me virar e ele me largar, colocando sua mão no bolso de sua calça cinza.

Sua camisa combinava com sua calça, fazendo parecer que ele vestia um macacão velho e como ele era forte-gordo ou gordo-forte, a roupa, que parecia ser um número a menos, estava apertado nele, marcando ainda mais sua elevada massa muscular.

Ele me encarou com um olhar apático e, inicialmente, tão escuro quanto o breu que ficava o quarto de sua irmã segundos depois de apagar a luz até a nossa visão parcialmente se acostumar com a escuridão. O olhar de Maycon foi assim, do obscuro à meia-luz como se ele estivesse se debatendo internamente sobre algo enquanto a luz do sol batia em seus olhos, refletindo o tom castanho-escuro deles.

Eu quase me esqueci que estava com meus braços para dentro da camisa e segurando a calça.

Patético!, revirei meus olhos e focalizei em encarar o ombro de Maycon, em uma mancha vermelha de – talvez – ketchup em sua camisa cinza-morto.

– Pode ficar! – ele me respondeu e passou pelo meu lado, na estreita entrada e saída da cozinha.

Assenti, sem saber o que responder e permaneci estático por alguns segundos, esperando ouvir o bater da porta para somente então conseguir me mexer.

Porém, o barulho seguinte não foi a porta batendo e Maycon indo embora. Foi a sua voz, rápido e baixa, mas audível o suficiente para eu ter certeza que não estava ouvindo coisas.

– Foi mal!

E quando virei minha cabeça em direção a sua voz, ele já tinha fechado a porta e indo embora.

Foi mal. Assim. No seco. Do nada.

O mais absurdo de tudo era que eu entendia que aquele foi mal não era sobre como eu estava agora, mas como eu já fiquei.

Este é o porquê da minha morteOnde histórias criam vida. Descubra agora