11 - Continuar tentando

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Às 19h e eu já estava no local marcado, me surpreendi por ver Tate de braços cruzados encostado à uma árvore. Ele parecia que já estava ali há algum tempo. Nunca o imaginei como alguém pontual e essa foi a minha surpresa, afinal, ele estava ali antes de eu chegar.

Ele sorriu ao me ver e arregaçou uma de suas mangas, como quem conferisse no pulso um relógio. No caso dele o relógio era imaginário, no entanto, depois de conferir seu "relógio", ele gesticulou para mim, dizendo:

– Você está atrasado!

Caminhei até ele e antes de qualquer coisa, sentei-me no chão de grama, encostado minhas costas na parede, quase deitando-me ali. De baixo o encarei.

– Atrasado por quantos segundos?

Tate riu e também sentou-se, conferindo, outra vez, seu pulso.

– Exatos quarenta e três segundos.

Estávamos lado a lado, mas não tão perto um do outro. Nossos rostos estavam a mais de um palmo de distância, porém, ainda assim, eu sentia seu cheiro a cada inalar.

Cutuquei seu ombro, o empurrando um pouco.

– Você ainda acha que eu não me atrasei por um minuto.

Ele gargalhou e finalmente eu percebi que havia uma mochila em suas costas.

– Pra quê essa mochila?

TT tirou as alças da mochila de seus braços com facilidade, pondo-a no chão e deitando sua cabeça sobre ela. Ele encarava o céu quando me respondeu:

– Serve de travesseiro.

– Só isso?

– Se eu quiser fugir de casa já tenho roupas e dinheiro. – admitiu e eu arregalei meus olhos.

Eu continuava sentado, o olhando agora de cima. Tate nem sequer mexia-se. Seus braços estavam sobre sua barriga e sua visão fixa no céu, mas ele não parecia realmente fitar as estrelas ou nuvens. Na verdade, ele não parecia olhar para nada.

Eu nunca pensei em ver Tate Trindade tão disperso quanto naquela hora ele estava. Minha mente começou a vagar se ele não queria minha companhia apenas para fingir que havia alguém ao seu lado, porque, mais parecia que ele queria ficar sozinho, porém, talvez não tivesse coragem.

– Você realmente fugiria de casa? – indaguei incerto, com certo receio de iniciar aquele assunto.

Primeiramente ele assentiu, como se a pergunta não tivesse sido feita por mim, mas pela sua própria mente.

Algumas folhas secas caíram sobre mim e eu as afastei, porém, quando outras caíram na barriga de Tate ele as pegou, passando-as entre seus dedos.

O clima estava muito agradável, tanto que mesmo eu usando um moletom sobre uma camisa de mangas curtas, sentia ainda um pouco de frio. Exatamente o tempo que eu gostava.

Tate, por sua vez, também vestia um moletom, mas a gola era mais aberta, deixando eu notar que ele não vestia outra camisa por baixo.

Haviam algumas árvores atrás daquela quadra do colégio, mas a que estávamos perto era a maior e ficava em uma leve inclinação, fazendo eu poder ver toda a quadra e uma parte do colégio ao longe.

Nosso colégio era um público modelo do Sul do Brasil. Ou seja, a quadra não era pichada com palavras de baixa calão, porque, se algum aluno fosse pego pichando ele teria que pintar o local e limpar o colégio junto com as tias da limpeza por punição.

Este é o porquê da minha morteOnde histórias criam vida. Descubra agora