2 - Atrás da Quadra

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Tate parecia incerto pela primeira vez em sua vida.

Ele tirou seu caderno e caneta de sua mochila e abriu o caderno em uma página em branco qualquer.

Eu realmente não esperava essa atitude dele de querer me conhecer de quase última hora. Bem, não que ele quisesse me conhecer verdadeiramente. Eu sabia que era só umas poucas perguntas que ele iria fazer e depois cair fora.

Ninguém queria andar com o garoto que era conhecido como suicida. Sim, eu era conhecido assim e não queria ter que explicar o porquê do apelido "pegar" agora.

– E aí? – Tate me encarou.

Estávamos sentados atrás da quadra, era um local coberto pelas árvores. TT estava com as costas encostadas em um árvore, meio inclinado nela e com as pernas dobradas de um jeito despojada que eu não conseguia ser.

Mais uma vez eu quis ser como ele.

Despojado. Relaxado. Convencido.

Eu estava sentado a um palmo de distância dele, com minhas costas sem encostar na árvore. Costas retas e pernas também. Minhas mãos estavam sobre meu colo e passei uma delas em meu cabelo castanho.

– Hã? – olhei de soslaio para ele, que riu.

– Você não parece muito confortável.

Tate tocou minhas costas com uma de suas mãos e mesmo sobre minha camisa, eu poderia jurar que senti seu toque e sua intensidade e...

Não!

Eu não podia sentir nada. Não com Tate! Não.

Antes de eu afastar meu corpo de sua mão, ele tirou-a, provavelmente vendo meu olhar de pavor sobre ele.

– Okay! – Tate piscou – Você acabar logo com isso... Então por que não me diz de uma vez o que lhe atraí?

Relaxei a tensão em meus ombros e fiquei mais perto da árvore, ainda sem encostar-me completamente.

Dei de ombros.

– Por que agora você quer que eu diga isso? Pensei que você quisesse fazer um bom trabalho e descrever o que você acha que me atraí.

Tate riu novamente.

– Você pode me dizer o que lhe seduz e eu descreverei em minhas palavras... Certo?

Dei de ombros mais uma vez.

– Tanto faz.

– E então? O que lhe atraí?

– Não sei.

TT riu.

Merda, por que ele ria tanto? Era de mim! Com certeza ele estava rindo de mim, o garoto de 16 anos que não sabia o que lhe atraía.

– É bem fácil responder a isso, Greg.

Greg.

Tate me chamou pelo meu apelido que só meus poucos amigos me chamavam. Tentei não pensar sobre e me focar sobre o que me atraía.

Pensa, Gregório! Pensa. O que lhe atraí?

Tate sentou-se reto e mais próximo de mim. Inalei, instintivamente, seu cheiro. Era bom. Uma mistura de algum perfume simples e sua própria essência. Era um cheiro um pouco adocicado, mas ainda sim, másculo.

Para de pensar nisso, Gregório! Para!

– Eu preciso ir embora! – quando eu ia me levantar para pegar meu caminho, a mão de TT agarra meu pulso.

– Você ainda não me respondeu.

– Não quero responder.

– Você é gay? – assim, na lata mesmo, Tate me perguntou, sem tirar sua mão do meu pulso, em cima de meu colo.

Felizmente meu pulso estava coberto com uma de minhas camisas de mangas compridas. Eu não era do tipo atlético e usar camisas de manga curta além de vergonhoso, era deprimente. Deprimente porque minha pele era branca e pálida e vermelha e cortada. Ninguém precisava ver aquilo além de mim mesmo.

Tentei, em vão, afastar meu pulso de seu toque. Mesmo sobre a roupa eu sentia uma certa eletricidade. E não, eu não queria sentir aquela coisa da "eletricidade" com Tate, muito menos com ele.

– Só me responda. – ele sussurrou – Eu não sou, sei lá, homofóbico.

Eu ri sem humor.

Eu precisa comprar um novo óculos de grau, porque ter miopia e querer enxergar quem poderia estar observando eu e Tate de longe, não funcionava.

– Na última vez que me disseram isso quebraram meus óculos e nariz.

Tate afastou sua mão de meu pulso como se tivesse pegado fogo. O olhar dele sobre o meu era intenso, mas não duro ou convencido como eu achava que seria. O olhar de Tate era... Dócil?

– Eu sinto muito.

– Você sente muito por terem quebrado meus óculos e nariz?

– Eu sinto muito por ainda existirem pessoas assim.

Não consegui responder de imediato. A forma como Tate falou me desestabilizou. Eu não esperava isso dele. Muito menos dele, na verdade. As vezes era simplesmente fácil esperar o preconceito de todos. Porque quando as pessoas que você acha que iriam te tratar mal, te tratam bem, você fica tão sem jeito. O que dizer a seguir?

Mas eu estava, parcialmente feliz. Afinal, TT era menos um possível homofóbico no mundo. Bem, pelo menos até então.

Olhei para frente e enfim encostei minhas costas na árvore, relaxando todo meu peso nela.

– Eu também sinto. – confessei.

E Deus, como eu sentia muito por isso!

Não precisei dizer a Tate que eu era gay, estava explícito, mas ele não recuou, apenas sorriu. Sorriu de uma maneira menos convencida e mais agradável possível.

Não era porque eu era homossexual que naquele instante eu iria agarrá-lo. Não era assim! Mas eu não entendia porque a grande maioria dos homens recuavam dos gays. Será que eles já tinham parado para pensar que eles não eram o nosso tipo?

Nem todos os homossexuais são promíscuos e "querem dar" para qualquer um. Eu também tinha um tipo. E não, meu tipo não era Tate Trindade.

Mas atrás da quadra eu aprendi que TT era muito melhor do que mostrava ser. TT poderia ser um poço de arrogância por fora, mas por dentro tinha conteúdo.

Eu não sabia naquele momento, mas Tate Trindade se tornaria o porquê de eu suportar mais um dia.

***

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Este é o porquê da minha morteOnde histórias criam vida. Descubra agora