Quando deu 19h o Lucas subiu para me chamar pra jantar e avisou que meus pais estavam em casa, fiquei com um pé atras de descer, mas acabei descendo pois estava com muita fome. Lucas tinha feito macarrão com molho de limão (meu preferido) e me servi, estava indo comer na sala, quando meu pai disse:
- Nada disso Maria, sente-se na mesa. - Virei os olhos, mas sentei sem reclamar, porque para meu pai mandar, era porque tinha motivo.
Todos sentaram para comer na mesa, meus pais na ponta e eu ao lado do Lu, quando minha mãe disse:
- Seu pai e eu temos algo para falar com vocês. - Lucas e eu ja arregalamos os olhos assustados, e Lucas falou:
- Pode falar tia, somos todos ouvidos.
- Pois bem, não sabíamos ao certo como iríamos falar isso - meu pai disse todo desconfiado e eu nervosa o interrompi:
- Po pai, sem enrolação, apenas fale...
- Sua mãe e eu teremos mais um filho. - Olhei pro Lucas com cara de surpresa, sem entender. E ele ficou mais espantado ainda.
Desde que passaram a trabalhar na mesma empresa, meus pais não mantinham uma relação saudável. Mal ficavam em casa e quando ficavam trocavam meia palavra e sobre trabalho, nada além. E esse foi um dos motivos da minha instantânea raiva por aquela ideia dissimulada deles, então disse com tom grosseiro:
- E do nada isso?
- Não filha, já estávamos pensando de sua mãe se ausentar do serviço, e aconteceu de que essa gravidez surgiu no acaso, então gostamos da ideia.
- Vocês são dementes ou o que? Mal estão presente para uma filha e um quase filho, quem dirá para uma criança. Patético! - Deixei quase o macarrão todo no prato, levantei batendo os pés e corri para o meu quarto.
Meus pais nunca foram muito presentes, e isso sempre foi estimulado pelo trabalho compulsivo dos dois, o que sempre me irritou. Agora querem serem pais mais decentes para um ser totalmente dependente de atenção, isso não fez sentido nenhum pra mim e me deixou bem nervosa.
Lucas logo subiu atrás de mim e bateu na porta. Abri já dizendo:
- Não to afim de moralismo agora, foi mal
- Não to afim de te dar lição de moral também, e concordo com o que disse, só vim pra saber se está melhor, pois o dia foi longo pra você
- Oh se foi, mas to de boa, ou melhor vou ficar...
- Vai mesmo?
- Vou, relaxa!
- Então boa noite Maridiota.
- Boa noite Lu.
Fechei a porta e deitei na cama, fui ler as intermináveis mensagens extremamente grosseiras do Marcos que ainda não havia aberto e no fim tinha:
Me perdoa Madu, de verdade, sei o quanto pisei na bola, eu tava bem louco e você sabe que não quis dizer tudo aquilo. Depois de tudo que aconteceu ano passado você ainda é a única que me restou e eu vivo pisando na bola com você, queria me desculpar e dessa vez sóbrio, tem como?
Por mais que eu sabia que aquelas desculpas eram repetitivas e batidas, para tudo que ele ja me fez, fiquei com coração mole, e como já estava na merda, com meu novo irmãozinho e tudo que se passava na minha cabeça, respondi:
Bom, o que vai fazer amanha de manhã? Não to afim de escola...
Mal passaram os minutos e ele ja me respondeu:
Vamos para aquela pista de skate perto da igreja, a gente sempre se encontrava lá.
Demorei um pouco para responder, mas concordei com o local e marquei para estarmos lá 7h, pro Lucas não desconfiar e nem vir atrás.
Deitei para aliviar um pouco daquele dia pesado na minha mente, que parecia virar uma bola somado com todo o drama interno que persistia em me fazer de louca. Parecia que apenas uma noite bem longa de sono aliviaria todo aquele amontoado de coisa... E assim foi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vida de uma pré-adulta reclamona, nariguda e emergente.
Novela JuvenilMadu. Dezessete anos. Cidade pequena, sonhos grandes. Entre tropeços e apresso na escada da vida. Paixões, pressões e emoções. O que esperar de uma quase vida adulta logo a frente? Um tombo maior ainda!!