Cheguei em casa com os olhos inchados de tanto chorar no caminho. Subi rápido pro meu quarto e me joguei na cama. O Lucas ouviu que cheguei e foi la, bateu na porta duas vezes e com meu silêncio, decidiu abrir.
- Maria, seus pais foram pra casa da vó, voltam final de semana que vem, seu pai pegou umas folgas ai e tal. Apenas avisando. - Ele fechou a porta secamente, nem falou mais nada, mal se importou com a minha resposta ou como estava, o que foi estranho. Mas, como ele tinha acabado de terminar com a ruiva, eu meio que liguei os pontos.
Dormi feito uma pedra. Acordei com o despertador. O terror das aulas novamente. Mal me arrumei. Sai sem comer nada. Estava um caco, emocionalmente e fisicamente - minha rinite estava atacada, o que fodeu mais as coisas.
Cheguei e subi direto para sala, Larissa e Lilian chegaram quase junto com a professora, o que não deu a oportunidade de conversarmos. Quando deu horário do intervalo elas desceram antes de mim. Estranhei. Quando cheguei la em baixo, sentei pra comer, mas elas mal falavam, então resolvi perguntar.
- Que foi gente? Por que estão tão quietas? - Demorou um pouco mas a Lilian resolveu responder.
- O Pietro foi embora Madu, e ele tava bem mal ontem. Inclusive, surtou com a gente quando você foi embora...
- Surtou? Como assim? - Larissa mal me deixou terminar e falou alto.
- Ele deixou claro que você é uma vadia. - Ela levantou da mesa e saiu em direção ao banheiro. Na hora eu fiquei sem reação.
- O que aconteceu Lilian?
- Bom, ele chegou no quarto todo vermelho. Falou pro Caio que ia embora. A gente insistiu pra ele falar o que tinha acontecido. Ele falou que tava lá sem motivo nenhum e que quem ele foi ver ja tava bem ocupada com ex namorado e a nova namoradinha... A gente ligou as coisas ne amiga.
- Puta que pariu, que escroto!
- Serio? Ele é o escroto??? Olha Madu, eu sei que você sente alguma coisa pela Tati a algum tempo. Mas, você sabia que a Larissa sentia alguma coisa pelo Marcos, sabe que o Pietro sente alguma coisa por você, caralho ja faz um mês, você acha mesmo que se fosse superficial ele viria ate aqui sendo que porra, ele ja fez o que geralmente os muleques fazem, transam e vão embora, mas ele ficou. Os escrotos foram você e o Marcos apenas! Enfim, vou atras da Larissa! - Ela saiu. Fiquei mais mal do que ja estava.
Esperei a aula acabar e liguei pro Marcos, ele me atendeu meio seco também, pra variar.
- Oi.
- Oi migo, vamos nos ver? Preciso conversar.
- Maria eu to meio ocupado.
- Sério? Vai dar dessas?
- Olha Madu, depois daquele dia as coisas estão diferentes.
- Nossa, eu que o diga, foi por isso que liguei. Ta tudo um caos.
- Esse é o problema né?! Eu sempre sou o que resta no final.
Fiquei quieta e confusa com o que ele disse.
- Não to te entendendo.
- Olha Maria, eu amo você, desde a escola. Mesmo com tudo o que aconteceu. Mas você só me quer quando as outras opções se esvaem. No começo não era assim. Mas agora, com tudo que vem acontecendo, eu sei que você não me ama. Você ama o Pietro, você ama a Tati, mas eu, bom, eu sou só a distração pra toda essa confusão e eu não quero mais isso. Quando me colocar em um lugar visível e bom no seu coração me procura tá. Mas por enquanto eu preciso me cuidar. Já sofri muito por nós dois. Por você. Enfim, tchau.
Ele desligou, eu só senti mais lágrimas escorrendo dos meus olhos. Era um fato que iria ficar desidratada pós aquele final de semana maluco e bem fodido. Corri pra casa novamente. Mas queria que aquela dor, aquele vazio meio ridículo e essa confusão aparente cessasse.
Quando cheguei vi o Pietro sentado na mesa. Sentei na frente dele e comecei a chorar. Ele olhou pra mim, mas não disse nada.
- Não ta vendo que to precisando do meu primo superprotetor agora?
- Olha Maria, desculpa, eu também não to de muitos amigos ultimamente.
- Por causa daquela ruiva??? Não acredito.
- Não! - Ele disse exaltado. - Não é por causa dela, é por causa de mim. Olha onde eu to, o que eu to fazendo. Meus pais devem estar me achando um merda que vive em função de uma coisa só. Sem perspectiva. Eu sou um merda.
Fiquei chocada, e triste ao mesmo tempo. Meu primo, que sempre cuida de mim, que sempre me conforta, tava passando por uma barra muito mais intensa que eu, e eu só sabia me lamentar pra ele.
- Você não é um merda Lu. - Não sabia o que dizer. Segurei a mão dele sob a mesa.
- Não me consola. Porque ai, vou saber que nem o que eu sempre fiz, eu sou capaz de fazer, cuidar de você. - Ele disse abaixando a cabeça e me fazendo chorar mais.
- Então quer saber, não vou te consolar. Nos dois vamos nos consolar. - Levantei, limpei o rosto e fui em direção a porta. - Você vem?
- O que cê quer fazer doida?
- Gastar um pouco do resto da minha mesada e jogar no poço o resto da nossa dignidade. Vamos beber!
- Você é menor, eu não sou louco.
- Vai priminho, só hoje! - Ele me olhou e deu um sorrisinho meio tímido. - É serio! Eu to precisando, e você mais que eu.
Ele levantou da cadeira, pegou a chave de casa e foi ate a porta. Saímos de casa e sinceramente, eu tinha uma leve certeza que aquilo ia dar uma MERDA BEM GRANDE!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vida de uma pré-adulta reclamona, nariguda e emergente.
Novela JuvenilMadu. Dezessete anos. Cidade pequena, sonhos grandes. Entre tropeços e apresso na escada da vida. Paixões, pressões e emoções. O que esperar de uma quase vida adulta logo a frente? Um tombo maior ainda!!