Confusões e loucuras.

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No dia seguinte acordei bem. Apesar do clima meio avulso com a Tati, meu sábado não foi dos piores, quer dizer, passou longe disso. No domingo aproveitei pra fazer os trabalhos da escola, afinal precisava fechar o bimestre e me livrar daquela rotina por um mês. Comi com meus pais e ate que conversamos mais que o normal. Eles já tinham escolhido o nome da criança e seria "Victor", e ate que eu curti, eles aparentavam estar mais tranquilos e isso me acalmava, minha mãe passou a manhã sem vomitar, então já era ganho. O Lucas resolveu viver em função da Debora, então nem sentia mais tanto a falta dele perambulando pela casa. Apesar de triste, me sentia mais livre pra assistir meus desenhos estupidamente infantis sem as reclamações dele. Acabou que o tempo voou. Logo amanheceu, mais uma semana chata e cansativa, não sabia com que cara iria chegar na escola e falar com a Tati, as coisas meio que ficaram "vagas" demais entre a gente. Cheguei la cedo demais, o sinal nem havia batido, fiquei no pátio esperando as meninas chegarem. Vi a Joyce, e logo atras a Tati. Ela me viu e me cumprimentou de longe, e eu correspondi. Larissa chegou com a cara amassada e veio na minha direção.
- Caiu da cama foi? - Ela disse sentando do meu lado.
- Que nada, apenas acordei mais linda que o normal e precisava divulgar isso ao mundo.
- Que ridícula. E como foi o fim da tarde de sábado com o Pietro? Não vi ele chegar porque me tranquei no quarto.
- Olha, não foi das piores. - Eu ri, ia complementar, mas antes de iniciar a frase o sinal bateu. Subimos para sala. Nada da Lilian, então hoje o papo com a Tati ficaria para saída. Aguentei um pouco de matemática e física seguidamente, e bateu o sinal para o intervalo. Descemos e sentamos na mesa.
- E você amiga? Ta tudo bem? - Perguntei enquanto mordiscava uma maça.
- Ah ta tudo bem, mas eu e o Marcos meio que não estamos nos falando. - Ela disse com a boca cheia de bolacha.
- Eita. - Falei assustada. - Qual é a da fita?
- Ai amiga me desculpa, mas a fita é você. - Ela falou com a voz baixa.
- Epa, como assim loca??? - Disse meio nervosa.
- Ai Madu, serio. Ele é besta por você ainda. É foda te ter por perto quando ele ta, sinto que sou uma reserva para o grande amor da vida dele.
- Ai que drama amiga, relaxa. Você ja falou com ele sobre isso? Porque você sabe que do meu ponto de vista, somos apenas e exclusivamente grandes amigos. - Falei enquanto via a Tati sentada na escada lendo um livro, ela me fascinava de uma forma... Parei entre os suspiros para escutar o que a Lari estava dizendo.
- Esse foi o nosso motivo de briga amiga, eu falei quando ele me deixou em casa, ele ficou nervoso, nem quis conversar, se exaltou, disse que eu tava metendo o louco, e que você não tem ele nas suas mãos, e para eu parar de graça, ou para pararmos de sair. Fiquei bolada, mas nem quis terminar de falar, apenas me despedi e entrei pra casa. - Ela falou com a voz mansa e meio aflita.
- Bom, o lance é o seguinte. Você quer ta com ele? Vai se prender a ele? Então tente ver o lado dele também amiga, eu não vou atrapalhar, muito pelo contrário, sempre impulsionei. Mas vou ser sincera, sentimentos são sentimentos, e só o tempo pode esclarecer tudo.
- Ah, por enquanto eu vou deixar como esta, vou deixar pra la um pouco, não to afim de me prender, principalmente com alguém que pode afetar minha amizade contigo. Porque me conheço, e sei que pode. E alias, sextinha tem festa, e o Thiago vai encostar.
- Ai caralho, você não presta mesmo em menina. - Disse mas não tirava os olhos da Tati. - Só não ilude meu amigo.
- Ele queria estar sendo iludido por você, eu que não vou me deixar iludir. - Ela disse rindo. E olhou para trás tentando ver o que eu tanto olhava. - E ela? Vi que estão bem próximas, inclusive, me senti de escanteio nessa também. - Ela falou me fazendo rir.
- Que boba você. - Voltei os olhos para ela. - Ah amiga, é complicado. Nem eu entendo... Enfim, só sei que to ansiosa pra essa festa também. Ver quem são os amigos do Don Pietro.
- Hahaha, só não pode dar pitaco em, porque o "piazinho" é rodeado de "gurizinha".
- Aé? Quais delas vou pegar primeiro?
- Eita caralho, que a menina despirocou tudo mesmo. - Ela falou rindo. - Se controla em caralho, tesourinhas já bastam as do teu estojo frouxo.
- Cê ta ligada. - Logo o sinal bateu e voltamos para sala rindo mais que tudo. Aguentamos as ultimas aulas como o diabo aguenta a cruz. Quando descemos pro patio, ela me chamou pra ir pra casa dela. Mas resolvi ir falar com a Tati. Que como sempre, estava sentada num banco, na parte de tras da escola, lendo e ouvindo musica. Sentei do lado dela e puxei o fone. Ela me olhou e sorriu.
- Oi Madu.
- Oi Tati, ta bem?
- É, to sim. - Ela respondeu enquanto eu peguei o fone e pude ouvir que estava escutando um indie antigo.
- Que repertório mais peculiar.
- Só falta você dizer: Tati, o lar das peculiaridades.
- Interessante, vou aderir ao meu vocabulário. - Falei rindo. - Eu meio que acho que a gente tem que conversar sobre sábado...
- Você meio que acha? - Ela riu. - Ok, vamos conversar. - Ela disse tirando o outro fone, fechando o livro e olhando diretamente nos meus olhos.
- Bom, começaremos com seus olhos. Da pra parar de fitar assim, chego me sinto sem roupa. - Ela deu outra risada. E puta que pariu, que risada.
- É involuntário, me desculpa. - Ela abriu um sorriso e colocou a mão na minha perna. Eu olhei pra mão dela, voltei aos olhos dela e sorri também.
- Não desculpo não, você é muito folgadinha sabia? Só porque tem esses olhos minúsculos acha que engana.
- Não engano nada. Consegui te enganar?
- Não, mas conseguiu me confundir bastante.
- Então estamos empatadas, você também me confundi bastante. - Porra ela estava me dando um sinal? Ou eu sou paranóica. Senti que ela já tinha deixado a timidez de lado quando estava perto de mim.
- Como te confundo?
- Me fazendo essas perguntas malucas e sendo essa matraquinha. Mas eu gosto, então pode continuar.
- Gosta de confusões?
- O que seria da vida sem nossas confusões e loucuras. - Vidrei nos olhos dela enquanto a ouvia falar. - Sou uma confusão e te vejo como confusão. Sou louca porque gosto disso.
- Gosta da minha confusão? Que interessante.
- Você entendeu. - Ela disse tirando a mão da minha coxa, desviou o olhar e alisou o cabelo. - E o Pietro? Já viu ele?
- Quer falar disso agora? Nada mais a dizer?
- Não Madu, não. - Ela abaixou a cabeça e ficou brincando com os dedos.
- É, eu o vi. Conversamos e ele vai dar uma festa sexta na Larissa, quer ir?
- Não curto festas, você sabe...
- Verdade, desculp... - Ela me interrompeu.
- Mas vou tentar ir, afinal, se a Larissa convidar a Joyce, vou ser obrigada mesmo. - Ela riu e eu ri junto.
- Vai ser bom se for, prometo não te chamar de bruxona desta vez.
- E eu prometo não encher tanto seu saco.
- Como se enchesse né!!? - Falei rindo e pensando, que se ela fosse minha cabeça explodiria de tanta complicação, afinal, não conseguia me compreender. Eu então sentia o que por ela? E pelo Pietro? E droga, porque eu viaja tanto quando pensava nisso. Ja estava moscando com essas ideias, pensando longe, ela ao invés de querer me alertar ficou me encarando. E eu ri. Ela também riu. Olhei no relógio e já eram 13h45, minha mãe iria me trucidar. Falei:
- Nossa já é tarde. Não vai pra casa? - Falei levantando e pegando minha mochila que estava no pé do banco.
- Vou fazer trabalho na biblioteca hoje.
- Ah entendi, to indo então. - Me abaixei pra dar um beijo na bochecha dela. Ela sorriu como resposta e se despediu.
No caminho pra casa só fiquei pensando nela, aqueles olhos e aquele sorriso... Peguei meu celular e vi umas mensagens do Pietro. Disse que queria me ver, corri e cheguei em casa rápido, comi, e escutei uns sermões da minha mãe por chegar mais tarde que o horário e blablabla, Lucas complementou algumas coisas também, e eu simplesmente ignorei. Fui tomar banho e sai pra ver o Pietro.

A vida de uma pré-adulta reclamona, nariguda e emergente. Onde histórias criam vida. Descubra agora