Coração inquieto

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Quando voltamos pra Jarvenia eu tava bem chatiada. Me despedi das meninas e fui pra casa. Quando cheguei meus pais já estavam jantando e eu sentei pra comer com eles.
- Como foi a viagem filha? - Meu pai perguntou como se realmente se importasse.
- Legal. Cadê o Lucas?
- Tá na namorada. - Respondeu minha mãe com um sorrisinho no rosto por saber que minha reação quanto aquilo não era das mais agradáveis.
Terminei meu prato e fui desarrumar a mala. Deitei na cama e não tirava o Pietro da cabeça. Fui mexer no celular, e o Marcos tinha me respondido.

Oi Madu, tô aqui. Qualquer coisa quiser me ligar ou me ver quando chegar é só dar um toque. 

Apesar de querer conversar e tentar colocar minha cabeça no lugar depois daquele final de semana maravilhoso, sabia que não podia contar para o Marcos, porque primeiramente, ele ia rosnar de raiva quando soubesse que eu, bom, que eu deitei com alguém por tão pouco e com ele nunca rolou nada. Não queria conversar com a Lari ou com a Lilian porque sei lá, era algo que tava indo muito além e não me sentia segura pra contar para as duas. Continuei lá deitada pensando e repensando. De repente escuto a voz do Lu no quarto dele. Fiquei feliz porque sabia que com ele sim dava pra contar. Sai do meu quarto e fui em direção ao dele. Quando cheguei na porta, vi a tal da Débora. Foi tipo um chute no estômago, só que pior. Ela aparentava ter minha idade. Era ruiva tingida e tinha os olhos verdes, e era incrivelmente gostosa. Eles me viram lá parada e o Lucas falou sorridente:
- Já chegou mocinha, entra aqui. Essa é a Débora que te falei.
- Oi Maria, tudo bem? - Ela falou toda felizinha também me dando um beijo no rosto. Retribui, e falei:
- Lu eu precisava falar contigo.
- Ah Madu, estamos indo no cinema, quer vir junto?
- Não, não tô muito legal.
- O que foi? - Debora percebeu que tava incomodando, desceu pra conversar com a minha mãe.
- Ah quer saber, vai lá com sua namorada. Tô suave. - Falei dando as costas pra ele e indo pro meu quarto. Ele foi atras e disse:
- Ei não fica chatiada comigo, prometo que quando chegar venho te ver e conversamos, pode ser?. - Dei um sorrisinho e balancei sim com a cabeça.
Coloquei meu fone de ouvido e fui mexer nas redes sociais. Vi que a tal da Joyce tinha me seguindo. Fui fuçar pra ver ainda mais nitidamente a beleza dela. E me deparei com uma foto de 2 dias atras com a Tati em uma festa. Aparentemente bem alegrinhas. Não entendi nada. Afinal, da onde, além da escola, elas se conhecem. Fiquei um pouco enciumada, mas deixei passar. Sabia que depois eu ia descolar o que tava pegando. Tentei cochilar para esperar o Lucas chegar e acalmar meu coração inquieto. Quando ele chegou fazendo muito barulho como de costume, eu acordei, olhei no relógio e já eram 15 para 00h. Ele entrou no meu quarto com um sorriso de orelha a orelha e com um pacote de lanche. Realmente aquela garota tava fazendo bem pra ele. Sorri pra ele, que sentou no pé da cama e deu o lanche para mim. Ele era tão atencioso que dava raiva de não conseguir sentir raiva dele.
- Então me conte, tudo Madu, o que te afliges priminha.
- Falando assim vou ficar com vergonha de contar palhaço. - Dei risada enquanto me lambuzava com o hambúrguer enorme. - Bom, meu final de semana foi maravilhoso, esse é o problema.
- Problema? É, realmente você é a personificação de problemas.- Ele disse me fazendo dar risada.
- Ah velho, foi tão bom que tá doendo de ter acabado. Eu conheci um carinha...
- Ah tá tudo explicado então. Mas já sabe que só vai namorar quando eu aprova, já tá dito.
- Hahaha, se toca porque você não pediu permissão pra se atracar com aquela ruivinha.
- Eu sou o mais velho.
- Nem ligo. Então, voltando, aconteceu uma coisas sabe, coisas bem íntimas.
- Oi? Você só pode tá brincando de tá falando disso comigo né Maria, chama suas amigas, sei lá. Sou ombro amigo e tudo mas ouvir que minha priminha tá fazendo coisas que eu não gostaria nem de imaginar é foda.
- Relaxa, não iria falar sobre isso idiotia. Foi coisas íntimas porque eu realmente senti alguma coisa e isso depois do Marcos era incomum pra mim, sacas?
- Mas até aí, não vi problema Maria.
- Ele mora na puta que pariu e estuda demais, ou seja, nunca mais vamos nos ver.
- Nunca mais é muito tempo, mas deve tá sendo foda mesmo Madu. Olha só fica calma. - Ele falou levantando meu queixo e desviando meu olhar que estava centralizando nas batatinhas. -Foram momentos bons, mas, a vida é assim, bola pra frente. Já te disse milhares de vezes, para de se prender ao passado. - Eu sorri pra ele, concordei com a cabeça, larguei a comida de lado e o abracei. Ele sempre me transmitia a paz que eu deixava se esvair por aí.
Quando viu que já estava melhor, me deu boa noite, beijou minha testa como de costume, e foi para o quarto dele. Continuei na cama lembrando daquela sensação maravilhosa que senti durante o final de semana. E logo adormeci.
Acordei naquela segunda feira com toda ressaca acumulada do final de semana, fui pra escola e dormi nas primeiras aulas. Quando deu o intervalo a Lilian e a Larissa só falavam dos meninos e de como eles ainda estavam se falando e tudo mais. Fiquei meio bolada, mas ignorei. Olhei para a Tati e ela estava no canto lendo um livro. Disse para as meninas que já voltava e fui falar com ela.
Me aproximei e sentei do lado dela. Vi que estava lendo um dos livros do vestibular.
- Oi Tati. - Disse sorridente a fazendo olhar pra mim.
- Oi Madu, tudo bem? - Ela beijou minha bochecha.
- Na medida do possível e você?
- Eu tô bem também, só um pouco cansada.
- O final de semana foi dos bons?
- Um pouquinho haha, mas não é por isso não, tô estudando demais.
- Pessoas nerds...
- Para, eu não sou nerd. Só tô precisando muito passar em alguma coisa...
- Te entendo. Vai fazer alguma coisa a tarde?
- Já te disse que eu nunca tenho nada pra fazer Madu. - Ela disse sorrindo. E eu ri junto.
- Topa ir para pracinha?
- Pode ser.
- Então beleza. Se não for já sabe né mocinha. Vou voltar pra mesa, até a saída pessoa estudiosa. - Fiz ela sorrir de novo. E nossa, que sorriso lindo.
- Até Madu.
Quando voltei pra mesa, a Larissa já hesitou:
- Desgruda dessa mina caralho, o Pietro não te deu um jeito não - Ela disse rindo.
- Não tinha jeito pra da amiga, tá maluca.
- Falando nele, ele me pediu seu número em, iludiu o boy certinho.
- Ah pediu?
- Sim amiga, disse que vai tentar vir pra cá mês que vem e que quer te ver, bichinho gamou.
- Hahaha eu disse que era k.o em, não me culpe. - Fiz as duas rirem. Deu o horário e subimos, voltei mais contente do que quando desci para o intervalo. Sabia que minha tarde ia ser boa, afinal, a Tati já deixou claro o efeito que tem sobre mim e sobre meu dia, e o fato dela estar se aproximando de mim era muito bom. E também saber que não fui a única a me abalar com aquelas escorregadinhas no final de semana me deixou aliviadamente feliz. Mal consegui conter o sorriso. Só sentia meu coração inquieto.

A vida de uma pré-adulta reclamona, nariguda e emergente. Onde histórias criam vida. Descubra agora