No parque

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Eu e a Tati nos aproximamos muito depois daquela tarde. Ficamos juntas nos intervalos e saímos sempre depois da aula. Duas semanas se passaram. Falava todos os dias com o Pietro, e aparentemente a gente tava se gostando. A Lilian estava ficando sério com o Caio e a Larissa com o Marcos, e geralmente o papo delas era isso. O que me deu mais motivos para me aproximar da Tati. Descobri que ia ter um irmãozinho, então a casa estava uma zona de enxoval e roupinhas azuis bem sexistas. A escola como sempre estava me cansando, porém, já estávamos no meio do ano, logo as férias estavam ai, mas precisamente daqui 15 dias, então dava pra aguentar. Acordei em um sábado comum como todos os outros. Desci para tomar café com meus pais. Minha mãe, como durante a semana toda estava mal, vomitando toda hora. Mas como ela já estava de 24 semanas era normal, porém acabava preocupando muito a gente. Meu pai estava pirando. Terminei meu café e subi pra acordar o Lucas. Havíamos combinado de ir pro parque com a Debora e tudo bem que não era muito fã de role com eles mas fiquei sabendo pelo twitter que a Tati estaria por lá, então, serviu para algo. Entrei no quarto dele e pulei na cama.
- Vamos acordar mocinho, já é dez e meia, jaja tem que ir buscar sua namoradinha. - Falei fazendo cócegas nele, que acordou dando risada.
- Não é mole mesmo, ter que ficar aguentando uma chata dessas logo cedo.
- Para, você me ama e ficou enchendo o saco para que saísse com vocês.
- É verdade Maridiota, vai se arrumar que jaja saímos. - Ele disse sentando e mexendo no meu cabelo. Fui para o meu quarto, tomei um banho, coloquei um shorts velho e peguei meus patins, desci e esperei ele no sofá. De repente meu celular tocou, era a Larissa. Estranhei.
- Oi amiga, o que foi?
- Oi amiga, cê não sabe quem tá aqui.
Meu coração já palpitou, sabia que ele chegaria semana que vem, então acabei deduzindo que poderia ser ele.
- Aí amiga, fala, não gosto de advinha.
- O Pietro, acabou de chegar aqui, acho que vai ficar a semana toda. Vem pra cá!
- Tá maluca, não posso, e nem quero, chegar aí do nada, ele nem me avisou.
- Aí amiga para, vem fazer uma surpresa.
- Não posso amiga, vou sair com o Lucas e a Debora, mas qualquer coisa passo aí a tarde.
- Eita, role em família haha. Vou sair com o Marcos mais tarde, então me dá um toque quando chegar.
- Ok amiga, eu aviso. Bj!
-Bj.
Fiquei louca, porque ele viria sem avisar, se bem que não nos falamos muito bem no dia anterior. Minha ansiedade fez palpitar rapidamente o coração, minha vontade era correr pra lá pra vê-lo, afinal nossos papos nas últimas duas semanas foram os mais fofos possível e até de namorar ele falou. Porém, minha proximidade com a Tati foi maravilhosa, estávamos tão íntimas que eu nem ao menos conseguia passar um dia sem tocar no nome ela, o que causava uma loucura dentro de mim. Vi o Lucas descendo, e fui saindo e abrindo o carro, ele parou pra conversar com meu pai, e logo fomos. Quando estávamos no carro, ele disse:
- É Madu, sua mãe tá bem mal.
- Eu percebi, essa gravidez...
- Pois é, precisamos estar próximos, porque quando esse neném nascer, sabe lá como vai ficar a relação dos dois.
- Eu já tinha avisado...
- Você sempre avisa né, doninha da razão e verdade.
- Isso é um ataque?
- Talvez. - Ele disse rindo. - O que era no telefone, escutei lá de cima.
- Nada demais. - Ele olhou pra mim enquanto dirigia.
- Sério? Nada demais? Me poupe né Maria. - Eu ri.
- Bom, alguém está aqui em Jarvenia.
- O tal do Pietro?
- O próprio.
- Vou conhecer então o cara que você ficou falando essas semanas todas durante a madrugada.
- Como sabe disso, tá me espionando?
- Não, mas os seus suspirinhos noturnos são fáceis de ouvir.
- Só você pode? E no seu caso, não são só suspiros. - Falei rindo e ele riu também.
- Me respeita em garota. - Ele bateu na minha cabeça. Chegamos na casa da Debora, fui para tras com aquela cara. Nunca iria me acostumar com ideia do Lucas com alguém. Quando chegamos no parque fiquei mexendo no celular enquanto eles ficavam se agarrando e a Debora tentava puxar assunto, sem sucesso, comigo. Tati me mandou mensagem dizendo que também estava no parque. Fiquei muito feliz e disse para me encontrar na portaria. Quando a vi ela estava de patins e veio me abraçar.
- Oi amiga.
- Oi Tati, não desgruda mesmo em doida
- Hahah, você que me persegue.
- Eu nada, nem sabia que viria pra cá. Tenho umas coisas pra te contar, vamos ali pegar meus patins.
Fomos lá perto do Lucas, a Tati os cumprimentou, coloquei meus patins e fomos andar pelo parque.
- Então amiga, conte.
- Sabe quem tá aqui em Jarvenia?
- Quem? Não me diz que ele veio antes do tempo.
- Sim, o próprio, tô super nervosa/confusa.
- E porque toda essa confusão?
- Você já deveria saber né querida. - Ela olhou pra mim e parou, decidimos então sentar em um dos quiosques do parque.
- Por que eu deveria saber?
- Sério?
- Muito sério. - Na hora que ela falou isso meu coração veio na boca, não sei porque, mas sabia que deveria esclarecer umas coisas ali, aquela menina tinha me tirado a noção a muito tempo, sempre me fazendo questionar muitas coisas, e com o pouco que a conheci, isso só aumentou mais. E sabendo que a vinda do Pietro podia mudar muita coisa, afinal, criamos uma certa "história", precisava deixar algumas coisas às claras. Então falei:
- Bom, pra começar, você é uma das principais causas.
- Como eu Maria?
- Velho, desde que te conheço eu tô confusa e você sabe, não sei o que sinto por você. Não é como o que sinto pela Larissa ou Lilian, é alguma coisa além e você sabe, aquele dia na sorveteria você deve ter percebido.
- Aí Maria... - Ela ficou quieta. Um silêncio ensurdecedor e chato. Olhei fixamente nos olhos dela, que me desmantelava toda. E aquela vontade louca de beija-lá voltou à tona como no dia da festa na Larissa, mas dessa vez isso aconteceu mais nitidamente. Minha cabeça ia e voltava na feição do Pietro e pousava na boca dela. Ela percebeu meu "desconforto" com a situação. Mas não se esquivou. Ficou lá como se tivesse compactuando com a situação. Me aproximei de seu rosto, e ela então olhou nos meus olhos. Eu passei a mão no cabelo dela e abaixei a cabeça. Mas depois voltei a olhar nos seus olhos. De repente ouvimos alguém chamar ela. Olhamos e era a Joyce.
- Olha eu preciso ir... - Ela disse levantando. Me fazendo levantar também.
- Ok! - Eu falei meio sem jeito com a situação. Ela deu um sorrisinho meio sem graça.
- Então até segunda, boa sorte com o menino. - Disse saindo em direção à Joyce e depois sumindo. Voltei para perto do Lucas e da minha então "cunhada". Tomamos um sorvete e fomos para casa. Voltei bem tristonha no carro. Aquele clima que rolou foi totalmente estranho. Não sabia se eram sinais, ou se eram coisas da minha cabeça. Minha confusão só se tornou mais complexa.
A Debora incessantemente tentava puxar assunto comigo e eu só respondia o básico. Ela foi pra casa com a gente, cheguei e subi pro meu quarto. Precisava distrair a mente então liguei para a Larissa. Ela disse que estava na praça com o Marcos e eu disse que iria encontrá-los, me troquei e sem pensar muito fui.

A vida de uma pré-adulta reclamona, nariguda e emergente. Onde histórias criam vida. Descubra agora