Incomum

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Ele combinou de me encontrar na esquina. Sai e fiquei esperando. Pensei que íamos dar uma volta pelo bairro e conversar, mas ele chegou em um carro prata grande e bonito.
- Olá moça bonita, quer entrar? - Ele disse sentado do lado do motorista e olhando pela janela do passageiro, me fazendo se inclinar. Dei risada e abri a porta. Sentei e falei:
- Eai, o que quer tanto comigo moço horroroso? Minha mãe disse pra não ficar entrando em carros de estranhos.
- Queria te ver ué, ver esse seu rostinho fofo e meigo que só abre a boca pra falar sutilezas. - Ele riu e olhou pra mim. Eu retribui. Ele se aproximou e me deu um selinho. Me afastei.
- Mas serio, pensei que só iamos dar uma volta, pra onde quer me levar?
- Relaxa guria, não vou te raptar não, ate porque não iria aguentar uma chata assim o tempo todo. - Ele se virou pro volante enquanto falava, ligou o rádio e começou a dirigir. Eu coloquei o cinto e fiquei olhando pela janela. Logo saímos da minha cidade minúscula.
- Ok, já saímos de Jarvenia, to ficando levemente preocupada.
- Que boba você, relaxa. - Olhei pra ele de relance e abri um sorrisinho meio inseguro, voltei a olhar a paisagem. Vi que chegamos a cidade vizinha. Passamos pelo centro e logo paramos na frente de uma casa.
- Quem mora aqui? - Falei enquanto tirava o cinto.
- Meus pais. - Ué, como assim, ele me conhecia a menos de meses e tava me trazendo pra ver os pais, não tinha sentido. Nem namorar, a gente namorava. Fiquei meio nervosa.
- Osh??? E por que me trouxe aqui seu louco? - Falei arregalando os olhos para ele.
- Hahah, relaxa bobinha. Não vai conhecer os produtores dessa beleza inigualável aqui hoje não. - Eu fiquei aliviada e dei um sorriso bobo. Ele desceu do carro e eu desci atras.
- Mas então porque me trouxe aqui?
- Precisava buscar umas coisas, já que moro longe, quase nunca venho aqui. Queria companhia e você topou...
- Ah entendi, sou sua dama de companhia. - Fiz ele rir, enquanto abria a porta. Nos entramos e a casa tava com cheiro de ter ficado tempo o bastante fechada.
- Meus pais estão "viajando", já faz um mês, foram pra casa dos meus avós na Bahia, porque meu pai tirou umas ferias prolongadas. - Ele disse rindo, e pelo tamanho da casa, vi que não se tratava de pouca grana aquela família. Uma puta casa linda apesar do cheirinho de mofo. - Falaram pra eu vir aqui algumas vezes pra ver o estado da casa, mas é foda por conta da faculdade longe. - Ele disse subindo uma escada enorme que tinha próxima a sala de estar. - Vem Madu. - Subi atras dele. Andei pelo corredor e parei na porta do quarto que ele tinha entrado. Um quarto com uma cama de solteiro bem arrumada, azul e cheio de adesivos de chiclete na parede. Fiquei reparando da porta. - Gostou da decoração? Eu mesmo que fiz, quase um designer. - Nos rimos.
- Pior que gostei sim, vou comprar umas caixas de chiclete e você decora o meu também. - Eu disse entrando no quarto e sentando na cama, ele olhou pra mim e riu enquanto mexia dentro do armário levemente grande. Pegou umas roupas e mais umas coisas que não reparei, sentou do meu lado.
- Bom, pra você eu dou um descontinho.
- Parecia ser uma criança bem mimadinha em e bem chatinha.
- Ainda sou, não mais que você claro.
- Hahaha, eu mimada? eu chata? Filho você não sabe da missa um terço em. - Ele riu e olhou pra mim.
- Pois é, eu nunca sei. Mas então, deixa eu avisar, você ta num local meio perigoso agora. - Ele disse com a voz meio baixa e me fez rir.
- Osh? Como assim?
- Bom, onde você ta sentada, na verdade, além de cama tem outras nomenclaturas.
- Como por exemplo?
- Pegadora de garotinhas 2000.
- Que bosta em. - Falei rindo. - Porque? ja pegou varias garotinhas aqui?
- Isso é um mistério...
- Você é tão besta, nem parece de verdade.
- Claro, vim diretamente de seus sonhos.
- Porra Pietro, você só piora. - Eu ri, e ele se aproximou de mim, passou a mão pelo meu rosto e o puxou pra perto dele. Começou a me beijar bem devagar, como se estivesse procurando cuidadosamente algo em minha boca. Desceu a mão até a minha cintura e apertou-a. Eu já tava meio que viajando naquilo. Ele conseguia me deixar sem reações. Logo me vi deitada sobre ele naquela cama minúscula, sem ao menos por segundos desgrudar nossas bocas. Quando notei parei o beijo e me joguei pro lado, o que fez a cama diminuir ainda mais. Sentei e ele continuou deitado.
- Que foi Madu?
- Nada. - Eu falei abrindo um sorriso. - Só acho que vamos acabar perdendo muito tempo aqui.
- Quer ir pra outro lugar?
- É... Quero sim. - Ele se sentou e eu olhei pra ele abrindo um sorriso.
- Por que? Aqui ta tão ruim assim? - Boba, ahhhh, como aquele menino estava me deixando boba.
- Não, eu só... - Parei pra repensar sobre o porque não queria estar ali e cheguei ao ponto de: estava com medo de repetir o que rolou no sitio por motivos que nem eu mesmo compreendia.
- Eu só?
- Nada, só que to com fome. Pensei que ia andar comigo por Jarvenia e me levaria pra comer. - Falei rindo. Ele olhou rindo pra mim também. E levantou da cama, pegou as coisas que tinha acabado deixando cair no chão por causa dos nossos "amassos", passou pela porta e olhou pra mim.
- Então vamos menininha que só quer comer. - Levantei e saímos da casa.No carro peguei meu celular e tinha umas quarto ligações perdidas do Lucas e uma do Marcos. Não quis ligar de volta pro Lucas porque sai sem avisar mesmo e não tava afim de dar satisfação, já a do Marocs, estranhei. Pietro percebeu.
- Que carinha é essa?
- Meu primo me ligando feito doido.
- E não vai retornar?
- Não to muito afim não. - Sorri e ele rindo, balançou a cabeça com não. Quando chegamos em Jarvenia decidimos parar em um dos quiosques que vendia cachorro quente na pracinha. Comi ate não aguentar, depois fomos sentar em um dos bancos.
- Eai, tu vai mesmo na festa sexta né?
- Lógico, alguém tem que ficar de olho e manter as coisas em ordem.
- Nossa, vai sem fazer cu doce?
- Hahaha, sai dessa fase, meu instrutor ta meio fraco sabe?!
- Ele maneirou porque ta querendo te dar uns beijo.
- Será? Ele não se importou de primeira.
- Então ele é muito estranho Madu, cuidado com esse cara. - Nos rimos.
- Mas eai, convidou bastante gente?
- Ah, umas pessoas da faculdade que estão em umas cidades próximas daqui, pedi pra Lari e pros muleques chamarem mais gente.
- Vish a Larissa vai encher essa festa de calcinha.
- Assim que é... - Ele olhou pra mim, riu e mexeu no cabelo.
- Que é bom né? Eu sei, concordo.
- Ah, concorda?
- Logico, porque se seus amigos forem cueca suja igual você, prefiro ver umas calcinhas. - Fiz ele rir mais.
- Eu sei que no fundinho cê gosta do cuecão aqui. - Ele bateu na minha nuca de leve, eu ri e olhei pra ele, que me retribuiu com um selinho. Ficamos la por um tempo. Falando sobre a festa e as amiguinhas dele da faculdade. Mas sem ciúmes, afinal, ele não era nada meu e eu menos ainda dele. O mais gostoso de ta com ele ali era rir o tempo todo, eu adorei. Vi meu celular e agora, além de Lucas, eram ligações do meu pai, vi que ja eram 18h e decidir ir. Ele me levou até a porta de casa, nos beijamos no carro, eu queria ficar la por mais tempo, e ele também não queria abrir a porta. Me despedi, e entrei em casa esperando os berros. Mas nada, a casa tava vazia. Só tinha um bilhete em cima da mesa, escrito:
Maria, a Tia passou mal, estou levando ela no hospital do centro, avisa o seu pai! - Lucas.

A vida de uma pré-adulta reclamona, nariguda e emergente. Onde histórias criam vida. Descubra agora