- Alô
Eu fiquei muda, tremia mais que vara verde, estranhei dela ter atendido tão tarde, será que estava pensando sobre o mesmo que eu e estava morrendo de vergonha.
- Oi Tati, sou eu a Madu. - Vi que ela também ficou muda um tempo e isso me deixou mais nervosa.
- Oi Madu, o que foi?
- Queria te pedir desculpa por sexta, sei que te deixei sem graça...
- Não precisa se desculpar... Eu sei o que fiz também, você não agiu sozinha.
- Você vai ficar estranha comigo?
- Não, e nem deveria, você é uma das únicas pessoas que eu gosto de estar perto. - Isso me deixou muuuuito envergonhada e feliz ao mesmo tempo, não contive o sorriso.
- Mesmo assim, acho que extrapolei. Vai fazer alguma coisa amanha?
- Não, porque?
- Quer ir na pracinha conversar sobre isso?
- Pode ser.
- Então 13h?
- Ok Madu.
- Então ta bom, beijos.
- Outro!
Eu desliguei com um sorriso de orelha a orelha. Fui dormir ansiosa para vé-la.
Mal preguei os olhos e ja amanheceu. Um domingo calorento. Tomei banho e fui tomar café. Minha mãe estava fritando um omelete com aquela barriga enorme e o Lucas tava sentado na mesa, quando me viu descendo, me fitou ate o ultimo degrau.
- Que foi louco?
- Proibido olhar gente feia pela manha?
- Ei, vocês. - Minha mãe nos repreendeu, o que me surpreendeu.
- O que a senhora tem?
- Dor, muita dor nas costas. E porque chegou tão tarde ontem?
- Ah tava acertando umas coisas.
- É Maria, cuidado com essas suas coisas. Não é porque não falamos nada que deixamos de nos preocupar. - Nos preocupar??? Desde quando se preocupam. Relevei.
- É. - Falei mordiscando uma torrada. - Relaxa, não tem o porque se preocupar.
- Não foi o que pareceu chegando ontem de manhã com o Marcos. - O Lucas falou sendo um intrometido. O fuzilei com os olhos.
- E desde quando vocês voltaram Maria? - Minha mãe perguntou.
- Não voltamos mãe, ele estava me ajudando com umas coisas.
- De madrugada? - Lucas respondeu.
- Que saco em Lucas. - Falei batendo o pé e subindo rápido pro meu quarto, bati a porta e mandei mensagem para Tati, perguntando se ja estava pronta, e ela rapidamente disse que sim.
Peguei minhas coisas e sai de casa sem falar com ninguém. Reclamava da Débora mas pelo menos ela tirava a atenção excessiva do Lucas de mim, o que me irritava muito. Quando cheguei na pracinha, vi a Tati e me aproximei sorrindo.
- Oi moça bonita. - Ela sorriu meio sem jeito.
- Oi Madu
- Ta tudo bem?
- Sim ué. - Ela riu. - E com você?
- To bem também, só um pouco confusa.
- Espero que eu não seja a culpada por essa confusão.
- Olha, de verdade, é sim... - Nós nos encaramos e ficamos quietas por um tempo. - Bom... - Ela me interrompeu.
- Maria, desculpa, não era minha intenção chegar a este ponto. Eu já quero te dizer que pra mim não teve significado nenhum. Nem poderia, tenho outros planos, outra mentalidade. Não posso me apegar a ninguém agora. Muito menos faltando menos de 6 meses para o vestibular. Aquele beijo foi no mínimo estranho e eu me arrependo. Desculpa. - Eu fiquei chocada. Mas uma vez, para quem não dizia quase nada, dessa vez ela falou muito. Foi tipo um chute no estômago só que pior. Na hora eu devo ter parecido uma nata de tão pálida. Mas logo reagi.
- Então porque me fez chegar onde cheguei? Desculpa, mas se agi, não foi por impulso, você deu muita brecha para que eu te beijasse e talvez ate me apegasse.
- Não dei! Você entendeu errado. - Mais um chute.
- Ok então, entendi tudo agora. Obrigado por esclarecer. Sou uma idiota.
- Mais eu gosto da sua amizade, e sobre o que disse de ser importante, é real, me desculpa.
- Ok, ta tudo certo. Até a escola. - Sai andando sem falar nada. Porra, como eu pude ser tão idiota. Sempre idealizo e penso em coisa demais. Ela me encarou e isso já era declaração de amor??? Claro que não. Não sei nem o porque tava fazendo tudo isso, eu e o Pietro meio que estamos "juntos". E com tudo, ainda tenho que me preocupar com o que rola entre mim e o Marcos. Porque diabos eu fui querer inventar uma historia de amor com quem eu nem conheço direito? Que utópico. Sou uma idiotia e isso é claro.
Meus pensamentos foram me guiando até a casa da Larissa. Precisava conversar com alguem. E não correria atras do Marcos para isso depois da noite de sexta. Mas também, não era ela quem eu tava procurando de verdade.
Toquei a campanhia. Quem me atendeu foi o pai da Lari.
- Olá Maria.
- Oi, o Pietro tá ai? - Falei sem jeito.
- Ele está sim. Lá no quarto da Larissa. Ele, o Caio e a Lilian estão la. Pode entrar.
- Licença. - Entrei e subi as escadas. Escutei as risadas la de baixo, fiquei meio mal por não terem me chamado. Mas ignorei. Abri a porta e os quatro me olharam surpresos.
- Doidaaaaaaa. - Larissa gritou enquanto veio me abraçar com uma latinha na mão. - Por que não atendeu o celular?
- Celular?? - Coloquei a mão no bolso e não senti. Deixei em casa, merda. - Porra eu esqueci em casa. Mas o que ta rolando aqui?? - Falei enquanto ia beijar a bochecha dos outros.
- Ah, o Caio arrumou umas cervejas no trabalho dele e viemos beber, escondido. - A Lilian respondeu ja meio altinha, com a cabeça no colo do Caio.
- Ah entendi. - Falei sentando na cama perto do Pietro, olhei pra ele, que estava sorrindo lindamente pra mim. Retribui.
- E você tava onde? - A Larissa perguntou.
- Tava com a Tati. - Elas me olharam estranho, mas voltaram a beber. Pietro também me olhou e rapidamente fechou o sorriso. Não entendi. - Eai, me passem uma latinha.
Caio me deu uma latinha. Eles ficaram falando sobre o aniversário da Lilian que estava chegando. Eu fiquei quieta bebendo e o Pietro também. Vi que ele não estava muito feliz e eu também não estava.
- Vamos dar uma volta? - Perguntei pra ele ao pé do ouvido. Ele balançou com a cabeça um sim. Demos tchau pro pessoal e saímos. Quando estávamos ja na calçada, perguntei:
- O que você tem?
- Nada.
- Pietro, sério. - Olhei nos olhos dele. - Ta assim por causa de ontem?
- Ah Madu, sei lá, quando a gente se conheceu, tu me perguntou sobre minha sexualidade e tal, dai, na festa escuto uma menina louca falar umas coisas sobre você e essa tal de Tati, e tem aquele lance do Marcos. Você ficou puta comigo porque me viu pegando alguém. Mas ontem ficou estranha e hoje tava com essa mina ai, não to te entendendo.
- Não tem o que entender. - Falei meio rude.
- Tem sim, eu vim pra cá só pra te ver, e ai, você fica mais tempo com o povo daqui do que comigo.
- Se ta incomodado, só ir embora. - Falei sem pensar.
- É assim?
- É sim. Fala sério, você só veio pra ca pra me comer de novo, a putinha virgem que você desvirginou.
- Mano, porque você ta falando essas merdas?
- Por nada. Tchau. - Falei dando as costas e indo pra casa. Sabia que tinha falado merda. Sabia que tava sendo uma merda. Mas nem eu mesmo me entendia. Sentia raiva apenas e queria acabar com toda aquela confusão dentro de mim.
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A vida de uma pré-adulta reclamona, nariguda e emergente.
Teen FictionMadu. Dezessete anos. Cidade pequena, sonhos grandes. Entre tropeços e apresso na escada da vida. Paixões, pressões e emoções. O que esperar de uma quase vida adulta logo a frente? Um tombo maior ainda!!