Ficamos naquela por horas. Horas que eu mal senti passar. Apesar da leve sensação de dor, aquilo era incrivelmente bom. Quando paramos, ele se deitou do meu lado e ficamos lá sem falar nada por um tempo. Me virei e fiquei reparando-o. Ele era muito lindo, lindo demais até pra mim. Comecei a me questionar intimamente sobre aquilo mas logo fui interrompida.
- Ei garota, foi tão bom pra você quanto pra mim?
- Olha numa escala de 0 a 10, eu daria um 4. - Falei rindo.
- Até assim você é palhacinha, como pode. - Ele disse sorrindo e passando a mão pelo meu rosto. - Mas sério Madu, tá tudo bem?
- Tirando essa dor estranha, tá tudo ótimo e com você?
- Palhaçaaaa - Ele disse gritando e me abraçando apertado. Na hora eu só sabia sorrir. Ele era tão encantador, que fez de um momento tão íntimo e intimidador, tranquilo e bom, e apesar de que lá na frente eu olhe isso tudo como uma péssima ideia, eu amei profundamente aquele momento. Levantei e fui para o banheiro nua. E apesar da suprema vergonha do meu corpo, fiquei desinibida com o Pietro. Gritei lá de dentro:
- Moço, não quer vir? - Ouvi ele rindo de longe e se aproximando do banheiro. Ele colocou q cabecinha na porta e disse:
- Não, pode ficar bem cheirosa aí, que eu vou ficar cheiroso no meu quarto e já volto.
- Ok, quem tá perdendo é você. - Falei rindo.
Tomei meu banho calma e pensando sem parar no que tinha acabado de fazer, mas sem culpas, porém com uma noção de quão precipitada havia sido. Mal o conhecida, na verdade, não conhecia nem um terço daquele sorriso lindo e boca rosada. Afinal, quem eu era, a Maria Eduarda nunca faria aquilo.
Sai e me arrumei, fiquei pensando no como ninguém nos interrompeu e fiquei aliviada. Coloquei um vestido azul e fui para área da piscina. Lilian e Larissa estavam aparentemente bem chapadas. Fui pra perto das duas e dos seus respectivos boys. A Larissa já começou a berrar de longe quando sai da casa.
- Onde você tava em piranhinha quis devolver nosso sumiço de ontem é?
- Não amiga, eu só tava conversando com o Lucas, perguntando como tava a situação lá em casa. Você já tá bem altinha não? - Falei rindo e olhando para o Thiago que também tava aparentemente louco.
A Lilian não desgrudava do Caio, se vi a boca deles se movimentando separadamente não me recordo.
Fui pegar uma carne e uma cerveja. Meu fígado com certeza já tava berrando, mas deixei pra lá.
Fiquei lá com eles rindo das besteiras que a Larissa tava vomitando próxima a piscina, e curtindo o som que tava rolando lá. Olhei no celular e já estava quase dando 23h. Fui pra rede e fiquei lá pensando. Mandei uma mensagem pro Marcos.Migo, oi sou eu. Tava precisando de você agora, tô tão confusa...
Ele não respondeu. Eu realmente já estava ficando bolada lá sozinha. Nada do Pietro aparecer de novo. Fui pra perto da churrasqueira e fiquei lá me empanturrado.
Quando ele chegou lá cutucou minha barriga me fazendo rir.
- Nossa que banho longo o teu em rapaz.
- Precisei pra tirar seu suor de mim. - Ele falou baixinho rindo. - Ei, vamos lá pra trás? - Balancei com a cabeça que sim.
Quando chegamos no cantinho que ficamos noite passada, sentamos na grama e ficamos lá, sem olhar diretamente um na cara do outro. Eu, por vergonha. Ele, não sei.
- Você mora em Jarvenia né?
- Acho que isso é óbvio né. - Disse rindo. E ele se manteve sério.
- Tão longe...
- Aí, não vem dizer que se apaixonou, por favor, não gama que é k.o - Arranquei o sorriso dele.
- Não me apaixono, tô preocupado é com a falta que você vai sentir de mim amanhã quando for embora. - Olhei pra ele e sorri. Ele devolveu o olhar e bagunçou meu cabelo.
- Primeiro ponto, eu não sinto saudade de nada. Segundo, você é uma pessoa 100% legal.
- Olha ela, assumindo que gostou do papai aqui.
- Ok, você caiu 60% no meu quesito depois de falar "papai aqui".
- Você é chatinha em.
- Sou mesmo, mas cá entre nós, você gostou. - Bati no braço dele com o ombro.
- Sinceramente, eu vou sentir falta das merdas que você fala.
- Mas eu não vou morrer.
- Você entendeu.
- É, eu entendi sim. - Virei o rosto dele pra mim e dei um selinho naquela boquinha macia.- Posso te perguntar uma coisa meio maluca e não necessária nesse momento?
- Pode Madu, claro. - Ele olhou nos meus olhos.
- Você já se questionou sobre sua sexualidade?
- Que pergunta estranha. Não né Maria, osh.
- Pode parando com esse tom de preconceito em, é sério. Você nunca sentiu algo forte por alguém que não deveria sentir por não ir de acordo com as expectativas?
- Bom Madu, comigo isso nunca aconteceu de fato. Mas se isso tá acontecendo com você, tenta se achar. Se joga, não adianta ficar querendo que suas respostas brotem do chão. Quanto às expectativas, sua vida não precisa de espectador, só precisa de uma protagonista feliz consigo mesma, o resto, já sabe... - Olhei pra ele ainda mais encantada, como podia ser tudo aquilo. Queria tanto que aquele dia ficasse reprisado em minha vida igual filme velho em tv aberta. Dei um sorrisinho de canto. Ele me olhou e sorriu também. Queria saber o que estava se passando na cabeça dele, afinal, um desmiolada como eu devia ter deixando uma impressão bem esquisita na cabeça tão ajeitada dele. Enquanto viajava nessa ideia, ele me surpreendeu com outro beijo.
Ficamos naquela à noite toda, ele me contou sobre a faculdade, onde ele cursa arquitetura. Disse que não vê a hora de se formar pra largar o estágio e a cidade. Falou até mesmo sobre sua ex, e disse que ainda estava um pouco abalado com o termino que já fazia 4 meses. Eu em contraponto contei sobre o rolo com o Marcos e falei por cima sobre meus sentimentos estranhos pela Tati. Disse que também não via a hora de terminar a escola e sair de Jarvenia. Fazendo-o me convidar pra morar com ele. E olha, depois daquele final de semana vontade não faltava. Entre uns beijos e outros, uns carinhos e outros, o dia amanheceu. E ficamos o observando o sol, trazendo sua forma, abraçados naquela grama meio molhada. Depois entramos em casa e comemos alguma coisa. Deitamos no sofá e cochilamos até a Larissa me acordar e falar que precisávamos ir. Fui arrumar minhas coisas e me despedir do resto do povo. Só faltava ele.
- Então, quando passar por Jarvenia vai me ver tá bom!?
- E você acha que eu vou dormir onde?
- Palhaço. Obrigado tá, por tudo. - Olhei nos olhinhos dele e o dei um selinho. E ficamos lá nos olhando até os pais da Larissa finalmente acabar de arrumar as coisas no carro pra irmos. Ele esperou a sala desencher um pouco e me beijou. Passou as mãos no meu cabelo e se despediu.
Quando entrei no carro, sabia que estava deixando naquele lugar um pedacinho importante da minha vida, afinal, não é todo dia que você se tromba com alguém que te transpassa confiança com uma troca de palavras. Sabia que aquele final de semana seria memorável. E sabia que aquela seria uma lembrança saborosa de se deglutir durante qualquer hora do dia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vida de uma pré-adulta reclamona, nariguda e emergente.
Teen FictionMadu. Dezessete anos. Cidade pequena, sonhos grandes. Entre tropeços e apresso na escada da vida. Paixões, pressões e emoções. O que esperar de uma quase vida adulta logo a frente? Um tombo maior ainda!!