Oito: parte 2

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Ela ficou bem longe de mim depois da discussão, mas isso não impediu que ela me olhasse como se fosse me matar a qualquer momento. Como despertei tanto ódio em apenas alguns minutos? Não consigo entender.

- Vou ao banheiro.- Digo quase gritando no ouvido de Lucas.

- Sabe onde é? Não vai se perder?

- Não, tudo bem.

Depois de tantos refrigerantes eu precisava ir ao banheiro. Até aguentei bastante tempo. Já passava da meia noite e na volta iria pedir para ir embora. Sigo em linha reta e depois viro a direita. Pontos positivos da área vip: o banheiro sempre tem papel e quase sempre está vazio. No momento só tem eu. Vou ao banheiro e quando sai decido retocar minha maquiagem. Quando estou quase terminando, Elen entra no banheiro com a cara mais lavada do mundo.

- Mel?- Me chama.- Posso falar com você?

Mas essa garota só pode estar de brincadeira comigo. Reviro os olhos e tento sair mas ela segura meu braço. Por que as pessoas sempre fazem isso?

- Eu não tenho nada pra falar!

- Mas eu tenho. Quero me desculpar pelo meu comportamento, eu nem sei porque agi daquela maneira. Eu só estou com muita coisa na cabeça e acabei descontando justo em você. Eu conheço Lucas a bastante tempo e eu só quero que vocês sejam felizes. Sei que por ele te trazer aqui e te apresentar aos amigos você é realmente importante. Você me desculpa?

Estava sem palavras. Eu não sabia se acredita realmente nela mas também não queria que ficasse um clima ruim entre todos nós. Quero poder me dar bem com todos.

- Tudo bem. Vamos esquecer isso.

- Ótimo!- Ela diz entusiasmada. É a mesma garota? Ela começa a retocar seu batom e conversar comigo.- Podemos marcar algo em casal, o que acha? Percebi que esse não é o seu lugar favorito no mundo.

Sorrio.

- E não é.- Confesso.

- Então, nós podemos marcar um cinema. Aceita uma bala?

Ela me oferece quando se vira pra mim. Por que não? Devo estar com um bafo horrível, muito refrigerante e aperitivos diversificados dá um gosto horrível na boca.

Imagina se Lucas me beija e estou com um gosto ruim? Pensar nisso me faz pegar de imediato.

- Vamos voltar?- Pergunto.

- Vai indo na frente. Acho que aquelas azeitonas não caíram bem.

Dou uma gargalhada sem sentido e saio. Estou com uma sensação tão estranha. Paro no corredor e fico tentando focar a visão mas não consigo. Minha cabeça está girando, vejo tudo rodar.

Me seguro nas paredes e quando não as sinto mais, caio. Rio desesperadamente, como se alguém tivesse me contado a piada mais engraçada do mundo.

Escuto vozes ao longe mas nenhuma é conhecida. Me deito ali mesmo sem forças para raciocinar direito.

*****

Acordo desorientada e a primeira coisa que quero fazer é vomitar. Rolo para a ponta da cama e vomito no chão. Minha mãe vai me matar quando ver.

Quando me recupero abro os olhos e constato a dor insuportável de cabeça que estou. Depois de alguns minutos os abro de novo e percebo que aqui não é o meu quarto.

As paredes são em cores neutras, o quarto é mediano e há uma grande televisão a minha frente.

Estou vestida com a as mesmas roupas da noite anterior, super desconfortável.

Ouço vozes masculinas no que eu acredito ser a sala. Eu devo estar horrível mas mesmo assim prendo meus cabelos em um coque e sigo o som. Assim que abro a porta dou de cara com Lucas. Ele está vestido com uma calça moletom e uma regata preta e está conversando com um homem que não conheço.

- Lucas?- Minha garganta está arranhada. Estou com muita sede. Ele vem até mim assim que me ouve e segura meu rosto em suas mãos.

- Mel, meu amor você está bem?

- Sim... Não... Estou com sede.

- Vem aqui.

Ele me leva até o sofá onde me sento confortavelmente. Minha cabeça parece pesar 10 quilos a mais. O homem não para de me olhar, o que me faz pensar que meu estado deve estar deplorável. Lucas retorna com um copo grande de água e dois comprimidos.

- Imagino que esteja com dor de cabeça e enjôo.

Isso me fez lembrar alguma coisa...

- Sim, obrigada. Eu acabei vomitando no chão do seu quarto. Me desculpe.- Digo constrangida.- O que houve? Não lembro de ter bebido pra acordar assim.

Ele se senta ao meu lado e acaricia meus joelhos.

- Você foi drogada.

O encaro não acreditando no que ouvi. Drogada? Isso não teria como acontecer.

- Como... Como isso aconteceu?

Ele olha para o homem a minha frente esperando que ele me explique.

- Eu sou Gustavo, médico e amigo do Lucas. Seu namorado me ligou ontem à noite. Você ingeriu êxtase, o que as vezes pode ser muito grave. Mas por terem entrado em contato com um médico antes você teve muita sorte. Se tivesse demorado mais seria bem pior. Mas felizmente o atendimento foi rápido, você só precisa descansar um pouco e ingerir bastante água.

Se a situação fosse outra eu ficaria feliz em ter ouvido ele chamar Lucas de meu namorado. Mas só consigo me perguntar quem poderia ter me dado. Eu tenho certeza que não ingeri isso consciente.

- Já entramos em contato com a boate e eles vão olhar todas as câmeras de segurança para saber quem fez isso. Suponho que você não se lembra.

- Não. A noite de ontem está um pouco vaga pra mim.

Poucas coisas me lembro. Talvez quando esse mal estar passar eu force um pouco minha memória.

- Obrigado, Gustavo. Vou cuidar bem dela.

Lucas leva Gustavo até a porta e depois se senta novamente ao meu lado.

- Como isso foi acontecer?

- Eu não sei. Mas quero que me desculpe. A culpa foi toda minha, se eu não tivesse levado você...

- Não tem que se desculpar. Foi um incidente, poderia ter acontecido em qualquer outro lugar.

Ele suspira e me põe deitada no sofá com a cabeça em seu colo. Faz um carinho na minha cabeça e não há lugar melhor. Eu poderia ficar aqui pra sempre.

- O que você está fazendo comigo, Melanie?

Ele me pergunta mas não tenho resposta. Meus sentimentos estão confusos. Meu silêncio o faz falar, e o que ouço faz meu coração falhar uma batida.

- Acho que estou me apaixonando por você.



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